domingo, 13 de novembro de 2011

Angical - Fazenda dos 3 Coqueiros


Havia nas imediações de Angical uma enorme fazenda, na época da famosa Fazenda Três Coqueiros, pertencente a Alfredo e Márcia, estes recém-casados, receberam esta fazenda como herança.

Do outro lado da Fazenda Três Coqueiros, havia uma cachoeira que era o limite desta Fazenda com a dos Ferreiras. Esta nobre e rica família dos Ferreiras, era gananciosa e cada um queria ser o mais rico, o maior, pois a vaidade e o orgulho eram as suas características. Naquela região perto dos Ferreiras havia inúmeras fazendas, grandes e pequenas, pertencentes a famílias que eram aliadas aos Ferreiras, e participavam das mesmas idéias cheias de maldade e ódio, pois a cobiça e a inveja faziam com que eles só pensassem em fazer o mal aos daquela Grande e bela Fazenda Três Coqueiros.

Eram rixas transcendentais, os Ferreiras e seus aliados sustentavam o ódio arraigado em seus corações. Estas duas famílias estavam sempre em choques e os aliados faziam trincheiras e tocaias, provocando inúmeras mortes e destruições. As mortes, porém, eram só de escravos. (Como diziam eles, escravos são pagãos, não merecem bom trato; eram comprados como um animal qualquer).

Certo dia Márcia saiu a passear a cavalo e foi até a cachoeira, ficando admirada com a beleza daquele lugar, daquela linda cachoeira. Sim, ali fora a antiga Cachoeira do Jaguar, de Pai Zé Pedro, Pai João e das Princesas. Sabia-se que ali existiu um fenômeno há cem anos atrás. Márcia que era uma médium de grande recepção parou e deslumbrada disse: É verdade, ali existiu um grande fenômeno de alguns escravos.

Nisso Valdemar Ferreira chegou e abraçando a Sinhazinha pelas costas disse: Ali houve um grande fenômeno, dizem os antigos de uns Pretos Velhos forasteiros. Imediatamente Márcia lembrou-se que Valdemar Ferreira era o mais triste dos inimigos de seu marido e lembrou-se que seu esposo lhe havia dito que ela jamais pisasse ali. Ela saiu correndo e o destino pregou-lhe uma peça: Um pequeno escravo de Valdemar viu Márcia ali com Valdemar e contou tudo a Alfredo. Márcia já esperava um filho de Alfredo. Todos aqueles escravos de Valdemar odiavam a Fazenda Três Coqueiros, por inveja, porque a vida dos escravos de Alfredo era boa, eles levavam uma vida normal. Até mesmo os feitores de Alfredo eram bem tratos e eram bons para os escravos, que não acontecia com o povo dos Ferreiras.

Certo dia o filho de Zefa, da Fazenda Três Coqueiros, começou a namorar uma crioula, escrava dos Ferreiras. Os escravos dos Ferreiras se voltaram contra o filho de Zefa, e o esfaquearam e colocaram-no na porta de Alfredo, deixando um bilhete no qual diziam que não queriam aquele cachorro lá. E mais, disse que quando o menino de Márcia nascesse, o mandasse para Valdemar. Márcia cansada e cheia de dores por causa da gravidez já adiantada, ouvindo os gritos de Zefa, correu ao encontro da velha escrava. É que Alfredo encontrou o rapaz esfaqueado e vendo o bilhete ficou cheio de ira e mandou que jogassem o rapaz no pasto longe da Casa Grande. Mãe Zefa, havia encontrado o filho e gritava por Márcia, para que ela tomasse conta do doente. Márcia mesmo cheia de dores foi ajudar Zefa e saiu com Pai Zé Pedro para buscar o pobre escravo, que havia passado a noite no relento e os urubus já sobrevoavam sobre seu corpo.

A bondosa Sinhazinha mandou que levassem o rapaz para dentro de casa, e houve um caso de desintegração: Márcia passou com o doente perto de Alfredo e este não os viram. Assim que Alfredo encontrou-se com Márcia sem explicar, mandou que ela fosse para a senzala e fez um cercado de grade e prendeu a Sinhazinha ali; mandou que Mãe Tildes cuidasse dela. Mãe Tildes era confidente e grande amiga de Márcia. Tão logo o filho nascesse ele mandaria para Valdemar. Márcia cativou todos aqueles escravos com o seu amor e dedicação.

Quando Zé Pedro, o velho Nagô, chegou para falar com Márcia, ela antes perguntou quem é este homem? Mãe Tildes respondeu: É um velho Nagô que recebe espírito no lombo. Pai Zé Pedro chegando e dizendo: Não Sinhazinha, não precisa ter medo. E virando para Mãe Tildes deu um muchocho “linguaruda, conversa demais”. Viu Márcia que aquele tinha uma força do céu, e se afinou com aquele homem.

Numa manhã, o sol já brilhava encantando com os seus raios toda a beleza daquela fazenda, eis que Márcia começou a passar mal e mais tarde a criança nasceu. Um reboliço muito grande dos Pretos Velhos se mobilizaram. E quando Mãe Tildes viu aquela criança passou a mão nela, enrolou-a numa coberta e levou para Mãe Zefa, lá no meio do cafezal dizendo: Vai Zefa, leva este menino, porque Alfredo vai matá-lo. Mãe Zefa saiu correndo com o menino e levou-o para a casa dos Ferreiras, sem saber o que estava acontecendo. Entregou-o a Sinhazinha mãe do Valdemar. Esta nunca poderia revelar que aquela criança fosse filho de Alfredo. E um grande segredo se passou entre Mãe Zefa e Emerenciana. Zefa foi embora e nunca mais se teve notícias dela.

Quando Mãe Tildes voltou do cafezal, levou um susto, pois Márcia havia ganhado mais uma criança, uma linda menina. (Eram gêmeos) começou a chamar a linda menina de Marcinha. Alfredo vendo a dor tão grande de Márcia acreditou que ela era inocente. Márcia não sabia que havia tido duas crianças e acreditaram os dois que só tivessem aquela menina. Alfredo, inclusive morreu pensando que só tinha aquela menina.

Certo dia que o crioulo apareceu para dar satisfação onde estava o menino. Mãe Tildes sofria sem saber se devia revelar o segredo de Márcia, foi perguntar ao Nagô e este lhe disse que não, ela jamais podia revelar a verdade. Era um erro ela querer assumir a dívida de Márcia. Por outro lado, Mãe Tildes desconfiava de Márcia, quando viu o menino, pensando que ele fosse filho de Valdemar, pois parecia demais com aquele senhor. O Nagô mandou chamar Márcia e disse que ela voltasse para a Casa Grande, porque o seu marido ia ficar louco e teria um fim muito triste. Márcia saiu dali com o coração apertado, sabia que Alfredo não tinha condições de continuar aquela vida.

O tempo passou ligeiro e Alfredo morreu louco. Márcia enclausurou-se naquela casa. Marcinha, já mocinha começou a namorar o filho de Valdemar. Quando o rapaz entrou em casa, Mãe Tildes foi correndo a Pai Zé Pedro e disse a ele que estava perdida, pois cortou o carma de Márcia e agora estava vendo casar com irmão. Nisso a porta se abre e Marcinha feliz, abraça Pai Zé Pedro e a Mãe Tildes, dizendo-lhes que ia se casar; ele quer casar-se comigo, e continuou: O Coronel Valdemar, tem dois filhos, sabe, o mais novo tem o dedo emendado, pregado um no outro, mas esse não tem, esse é perfeito e não parece nada com o outro.

Pai Zé Pedro falou: Não lhe disse Matildes, a grandeza de Deus não tem limites? Este não é filho de Márcia, e Mãe Tildes perdeu a voz até que Marcinha se casou com aquele rapaz. Márcia não soube a verdade sobre seu filho até o dia em que Emerenciana o revelou. Jacó tinha dois dedos emendados, esta era a prova do filho legal de Alfredo, este tinha também os dois dedos pregados um no outro.

No dia do casamento de Marcinha, veio a Lei Áurea, a abolição da escravatura, e foi uma terrível confusão. Tiros e brigas. Da. Amália morreu (esposa de Valdemar) Da. Emerenciana, na hora de morrer mandou chamar Márcia e revelou o segredo: Jacó era seu filho, contou toda a verdade, Márcia antes de morrer abraçou seu filho Jacó, cheia de emoção. Mãe Tldes que era um espírito tão santo teve que pagar ainda esta pena. A culpa de ter reparado um carma indevidamente. Eis o que acontece com quem corta ou interfere nos destinos dos outros.

O pessoal de Alfredo, aqueles escravos, aquela gente que ouvia Valdemar, culpando os Ferreiras, da Fazenda Três Coqueiros, se arremessaram contra a Fazenda Três Coqueiros ficando pela força de Deus, apenas Mãe Tildes, Pai Zé Pedro, Uraí e Urail. O Nagô fugiu com Mãe Tildes e as duas Crioulas para a Fazenda da Cafeeira.

Marcinha casada, levou consigo seu irmão Jacó. Foi uma mortandade tão grande que no outro dia exalava mal cheiro daqueles cadáveres. Veio então a volante, polícia Baiana e com dificuldades se reajustaram com aquela gente.

Na Fazenda dos Ferreiras, ninguém triscava a mão. Vieram de longe os velhos Coronéis e Sinhozinhos. Pais de Alfredo e Márcia queriam levar consigo os netos, Marcinha e Jacó, estes porem não quiseram voltar. Todos que passavam por ali, falavam da triste tragédia daquele povo. Povo este, espíritos espartanos vindos de nossa origem e aqui não suportaram as velhas rixas.

Os Ferreiras, alguns que fugiram, continuavam a se entrincheirar para novas tragédias. Mãe Tildes e Pai Zé Pedro fugiram dali para o Angical.

Por hoje é só. Aqui estão os que se precipitaram os malvados desta tragédia. Ainda faltam componentes desta história. Neste instante, porém, diante dos senhores e das senhoras, não posso avaliar quais dos senhores foram os Ferreiras e quais foram Pereiras.

Só Deus neste instante poderá avaliar quem foram.

Salve Deus Tia Neiva.

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