domingo, 13 de novembro de 2011

O Amanhecer das Princesas na Cachoeira do Jaguar





Meu Filho Jaguar:

Não estamos preocupados com os velhos documentos das Velhas Escrituras, porém estamos sim, desejosos de saber onde os nossos antepassados encontraram tanta força e tanta coragem para chegar até aqui. Sim meus Filhos, o Missionário tem, graças a Deus, a sua energia e toda harmonia nos três reinos de sua natureza. Muitas vezes contando, até pensamos ser irreal o que nos dizem sobre os escravos e seus Missionários.

Vejam Filhos, estamos em festa, quando alguém anunciou que os Ferreiras já haviam cercado o Conga e queriam Juremá a todo o custo. Pai Zé Pedro, mais evoluído do que Pai João, foi tentando segurar o povo dentro do Conga e qual não foi sua surpresa, os crioulos novatos já haviam saído de dentro de casa e como loucos açoitavam os Ferreiras, fazendo se ouvir pragas, ameaças e gemidos! O feitor que estava do lado dos Ferreiras, sentindo que estava perdendo, gritou: Sou o feitor desta Fazenda. Estes Nagôs imundos estão me assassinando, socorro! Só se ouvia o urro do feitor, na escuridão daquela noite, fora atingido na coluna ficando inerte no chão, gritando como um louco. Zé Pedro foi ate o terreiro onde estava a briga e logo viu o feitor, estava aleijado para sempre.

Oh meu Deus! (gritou Pai Zé Pedro) Como poderemos assumir tal dívida com este pobre irmão?Nisto, alguém que ouvia gritou: Eu acho muito bom que ele nunca mais caminhe, para não chicotear os outros.

Meu Deus, meu Deus (dizia Pai Zé Pedro andando de um lado para o outro) Oh meu Deus! Este pobre homem que não vai nunca mais andar... Caminhando, deparou com um outro triste quadro. Efigênia, uma jovem negra estava ali também com o crânio aberto de pancadas. Era filha de Julia, uma paralítica. Zé Pedro não resistiu e foi buscar o seu Sinhozinho. Sim, nenhum dos Ferreiras havia morrido e quis a vontade de Deus, nem mesmo ferido. Foi então que um dos quarenta que ainda não havia se manifestado deu um urro e se manifestou dizendo-Salve Deus!

O sol já começava a esquentar seus raios, então o Nagô Pai Jerônimo disse: Levanta acampamento, leve Juremá. Escolhe o teu povo e segue rumo à Cachoeira do Jaguar, que desemboca nas águas grandes do mar. Nós, os Nagôs ficamos. Vamos buscar a desditosa mãe destas gêmeas (disse apontando para Jurema e Juremá).

Não! Eu não permitirei (gritou Zé Pedro). Como?(disse Pai Jerônimo). Como se atreve duvidar de teu irmão? Vão embora que eu a levo. Se demorarem terão mais mortes. Vamos, vamos logo. E desincorporou. Salve Deus. Zé Pedro e Pai João não esperaram mais. Não se sabe como, juntaram suas coisas ajudados pelo Sinhozinho e partiram dali. Só no caminho notaram que não faltava ninguém e, inclusive o feitor lá estava numa cama de varas. O Sinhozinho e a Sinhazinha despediram-se com amor. Quando já iam longe se ouviu um forte estampido. Era um tiro de cravinote. Os negros do terreiro, que já estavam de volta e o Sinhozinho com sua família, com a ajuda dos escravos que ficaram, enterraram os mortos e seguiram para a cidade onde moravam seus pais. Enquanto as crioulas contavam 108, faltando Jerônimo que ninguém sabia do paradeiro. Já era noite quando chegaram à Cachoeira do Jaguar. A lua cheia clareava as matas e o mar, as palmeiras balançando suas folhas como uma prece. Pai Zé Pedro sentando em uma pedra descortinava todo quadro por onde teria que passar com aquela gente.

Pai João chegou e os dois começaram a fazer os seus projetos. Sim, (diziam) Tudo pela condenação da matéria. A Terra... (disse Pai João) tão lindo o mar, no entanto a Terra é o que nos pertence, por ser a parte sólida deste planeta. Porém o que me conforta é que as forças cósmica continuam em atividade,porque neste universo não há inércia, tudo se movimenta em nosso favor pela benção de Deus. A sua atividade é essencialmente produtora desta nossa matéria orgânica e inorgânica logo nos dará novas forças, graças a Deus! Pai Zé Pedro que só ouvia, disse sorrindo-Onde aprendeste tanto? Isto não são palavras de Nagô! Estou consolando a mim mesmo, Pedro-Porque não pede ao Mestre Agripino?Ele é que me consola. (Foi quando os dois começaram a receber energia). Sim Zé Pedro, a atividade do homem é essencialmente produtora e as forças essencialmente ativas. Como já disse, cria na matéria orgânica este arsenal de forças, portanto temos que organizar um ritual, uma jornada, vestimentas que mudem a sintonia dos crioulos.

Zé Pedro, vamos erguer esta arma para o Céu. Sim João, é realmente um arsenal. Oh Meu Deus! E olhando a paisagem do lugar disseram-Faremos uma jornada em frente à Cachoeira, enfeitaremos as crioulas e faremos lindas princesas dos castelos encantados que já ouvi contar. E eu que pensei que você meu irmão, era um simples escravo! Sim (disse Pai João) tenho Agripino que vem nos meus sonhos e me conta tudo. Eu também tenho um Índio que me falava quando eu ia entrar no chicote do feitor. Riram, riram muito, de repente lembram do feitor. Meu Deus! O que vamos fazer com este pobre homem? De repente ouviram um grito. Era Jerônimo gritando, como se estivesse perseguido. Oh meu Deus!Nossa vida não tem fim. E os dois continuaram a sorrir. Sim, e o ritual? (perguntou um). Faremos! (disse o outro) Precisamos de energia para obter as curas desobsessivas. Salve Deus! Faremos tudo que Deus nos aprouver.

Os gritos continuavam e todos já vinham ao encontro dos dois.

Salve Deus! Meu filho Jaguar. Domingo vindouro lhe darei a continuação.

Com carinho

A Mãe em Cristo.

Tia Neiva.


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