sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Para-Brisas


O Para-brisas

Pai João de Enoque chegou de mansinho:
  • Fia, os Espíritos do Astral Inferior gostam de se aproveitar dos grandes médiuns quando estes estão descontrolados pelo efeito de irritações e outras perturbações.
  • Você tem que ser diferente, fia!
*** ********
Porém, eu me esquecera de abastecer o isqueiro, e, quando fui acender o cigarro, não acendeu. Gritei, num desabafo:
- Se não estivesse com esses espíritos na cabeça, meu isqueiro estaria funcionando! Não teria me esquecido de colocar fluído...
Num gesto automático, acionei o isqueiro, e ele acendeu.
Como já tinha atirado o cigarro para longe de mim, fui apanhá-lo, e o isqueiro apagou. Peguei o cigarro e o isqueiro tornou a acender, permitindo que eu acendesse o cigarro.
Nisso, ouvi Pai João me dizendo:
    • Mal criada! Devia deixá-la sem o seu cigarro...
      Fia, procure acompanhar os espíritos.
      Não deixe que eles percam tempo com você, com as suas mesquinharias.
      Um dia, quando for uma rainha, você terá vergonha de tudo isso.

- Quanta coisa por causa de um simples cigarro – pensei (ou falei?)
Foi a conta! O isqueiro foi arrancado da minha mão e bateu, com força, no para-brisas, quebrando o vidro, voltando a cair na minha mão.
Olhei o isqueiro, e vi que estava sem o parafusinho e a tampinha.
Fiquei apavorada!
Estaria eu tão nervosa a ponto de fazer tudo aquilo?
Procurei a tampinha por todo o carro, e não a encontrei.
Quando cheguei em casa, Beto me disse:
- Mamãe, olhe! É a tampinha do seu isqueiro...
Tive um susto muito grande e lhe contei o que tinha acontecido, inclusive sobre o vidro quebrado. Avisei ao Sr. Jaime que iria a Goiânia para comprar outro para-brisas, antes que aquele começasse a esfarelar. Ele disse, então, que não encontrou nenhum vidro quebrado.
Fui conferir.
Realmente, o para-brisas não estava quebrado. Foi quando voltou a voz:
- Lição de luz e amor. Eu não iria dar prejuízo a você.
Salve Deus! 

(Sob os Olhos da Clarividente)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Perolas do Pai João - A Lojinha


A Lojinha


Pai João se aproximou de Tia Neiva enquanto ela caminhava pelo pátio frontal do Templo:

- Fía, olhe para aquele médium ali e tenha muito carinho em sua avaliação.

Tia Neiva percebeu tratar-se de um Mestre bastante conhecido e aproximou-se iniciando uma conversa sobre um tema qualquer.

Enquanto falava, em sua clarividência, observava a aura do Médium e lhe chamou atenção a dissonância entre o quê via, e o quê estava sem seu colete. Com muito tato tocou no tema, e soube que ele havia adquirido de um vizinho, por um preço mais em conta. Este colete tinha um Radar que ele ainda não havia conquistado!

Explicou a ele a importância de somente usar aquilo que houvesse conquistado, assim não correria o risco de participar de um trabalho em uma posição para qual seu plexo ainda não estivesse preparado,
trazendo conseqüências para toda sua jornada!

Passou na Lojinha e deu a ele um colete novo, orientando-o para que procurasse os Devas afim de obter a orientação sobre quais as armas que poderia realmente usar.

***

Salve Deus! A Lojinha surgiu para ordenar a aquisição de nossas armas, para proteger o médium de usar algo fora do padrão, ou fora de suas reais condições mediúnicas. O mestre responsável tem que ser um profundo conhecedor de nossas armas e saber orientar, com carinho e respeito, todos que procuram, encaminhando aos Devas, quando necessário.

A função da Lojinha não é gerar lucros abusivos, pode participar com um lucro justo na manutenção das despesas do Templo (água e luz, por exemplo), mas sua função não é ganhar dinheiro com a exploração do corpo mediúnico.

As armas devem ter uma pequena margem de lucro, para as despesas, mas também cumprir seu papel de auxiliar os médiuns menos favorecidos que a procurarem. Eu mesmo recordo que não tend nenhuma condição de pagar pelo meu primeiro colete, o recebi sem qualquer despesa ou compromisso firmado.

Obviamente não se pode sair dando nada de graça, cada qual deve lutar também pela conquista de cada radar a ser colocado no colete, mas não se pode fechar os olhos àqueles que, não podendo nada doar de dinheiro para o Templo, contribuem, com seu trabalho físico, auxiliando nas obras, participando ativamente em qualquer atividade que lhes seja solicitado, assumindo as funções mais humildes e normalmente de maior esforço físico.

A maioria de nossos médiuns é carente, e se esforça na aquisição de cada arma após uma difícil jornada para conquistá-la. Assim, nada como o bom senso para definir os preços e o emprego produtivo de cada centavo que ingresse para o benefício material de todos.

Aqueles que visando uma pretensa economia começam a confeccionar os próprios Radares ou buscar “alternativas” para aquisição, estão fora da Contagem deixada por Tia Neiva! Não basta ser “igualzinho”, tem que ter a emanação do Mestre responsável, designado para este trabalho específico.

Tendo os preços justos, a Lojinha elimina os “piratas doutrinários”.

Estes normalmente visam o lucro, disfarçando suas reais intenções em “preços melhores”, mas revertem os lucros somente para si, acabando até por comprometer sua própria encarnação.

Perolas do Pai João
Kazagrande

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Convivendo com a Clarividente Neiva



Certa feita estava escalado no Radar e fui ter com tia, para perguntar o que fazer com um caso diferente qualquer, nem me lembro mais qual era. Estávamos muito mal acostumados com a disponibilidade da Clarividente, tudo perguntando, mesmo já sabendo, “só para ter certeza”. Era uma noite de quarta-feira e Tia estava na sala da Casa-Grande, com os principais Devas, entregando cavaleiros ou o povo aos mestres, não sei direito.

Cheguei por trás mesa, bem juntinho de um dos seus ouvidos e fiz lá a minha pergunta. Para minha surpresa, ela começou a dizer, em voz alta, olhando para mim, algo como: - Que é isso? Me respeite. Não aceito isso. Vá embora daqui...etc. Todos na sala me olharam assustados, imaginando que coisa horrível eu não devia ter dito para ela; até Mestre Fróes me puxou pela camisa e disse que era melhor eu sair dali. Atônito, envergonhado, voltei para o templo sem entender nada e passei o resto do trabalho tentando me harmonizar para não piorar as coisas, com toda aquela responsabilidade da corrente-mestra nas costas.

Sou obrigado a confessar que fiquei zangado com Tia achando que, daquela vez, ela pirara mesmo. No outro dia, pela manhã, passei pela Casa Grande antes de vir para a cidade, disposto a esclarecer o que acontecera. Entrei pelo escritório do Seu Mário e vim andando pelo estreito corredor que levava até uma saleta, antes da sala de visitas, e tinha, à esquerda, o banheiro, a direita o quarto do casal. Vi Tia sozinha no quarto, sentada em uma cadeira de balanço, passando muito mal.

Parecia que o ar que lhe chegava pelo tubo preso ao nariz estava falhando, pois ela já deixara um dos braços cair pelo lado da cadeira e mantinha a mão do outro braço sobre o peito. Antes que pudesse acudi-la, na verdade, pelo que me ocorria, correndo atrás de Guto ou de Preu, que sabiam como mexer com a bala de oxigênio, ouvi-a dizer algo absolutamente inesperado para as circunstâncias. Em vez de dizer “socorro”, "está doendo" ou “ai, meu Deus”, ela disse: - Jesus, eu te amo! Quem diria isso em um momento assim, quando a própria sobrevivência está duvidosa? Quando a dor se impõe e a consciência vai se perdendo? Fiquei tão surpreso quanto encantado.

Era a forma mais linda que já vira de se dizer: “o conhecimento de que tudo é bom nos liberta do mal”. Foi preciso um esforço enorme para reagir e buscar ajuda. Passado o susto, tomado pelo arrependimento dos pensamentos irados que tivera pela bronca aparentemente sem sentido da véspera, comecei a repassar os acontecimentos e a ficar em dúvida se ela estava, realmente, olhando para mim, enquanto reclamava daquele jeito. Parecia, agora notava, que olhava um pouco além de mim, mais atrás, como para alguém que estivesse logo às minhas costas, provavelmente dizendo palavras bem diferentes das minhas, que a teriam irritado tanto.

Vendo e ouvindo o que só uma clarividente poderia. Muito provavelmente enfrentando quem me acompanhava para me fazer o mal. Ah! O tempo é um velho andarilho, cinzento e de pés gregos, que não se cansa, é rápido, tudo leva... Mas nem tudo. Nem tudo.

João do Valle
Adjunto Trino Otalevo

terça-feira, 12 de junho de 2012

Os 3 Reinos da minha Natureza


Os Três Reinos de minha Natureza; Personalidade e Individualidade; Alma e Espírito; e outros.

Existem alguns conceitos básicos em nossa Doutrina que devem ser claramente compreendidos já nos primeiros passos. Porém, muitos, envolvidos pela rapidez com que desenvolvemos as técnicas doutrinárias, acabam ficam com idéias não muito claras a respeito.

Os Três Reinos de minha NaturezaConsideremos o ser humano encarnado um ser “tríplice”, ou seja formado por três “plexos”. Para que possamos compreender bem este conceito é necessário analisar separadamente cada um destes três plexos:

O Plexo físicoEste é simples de explicar! É o seu corpo. Pura e simplesmente o corpo que seu espírito ocupa nesta encarnação. Não “é” você, mas faz parte de você. Ele tem um tempo de vida útil que irá se esgotar e morrer, mas você não morre com ele, por que ele apenas é um terço do que o ser humano encarnado representa.

O Plexo MentalOu sua Psique. Neste ponto é que começam algumas dúvidas, pois normalmente conceituamos que alma é espírito são a mesma coisa, certo? Errado!!! Em nossa Doutrina distinguimos bem “alma” de “espírito”. Consideramos como “alma” o quê hoje você representa nesta encarnação. O José, João ou Maria... É a sua encarnação atual! Sua Personalidade.

O Plexo Mental é representado pela sua alma. É você hoje, sem considerar outras encarnações. Chamamos “Mental”, porque é controlado pela sua mente, pelos seus desejos e fruto de sua atual experiência. Reflete a maneira como foi criado, os bons e maus princípios que aprendeu nesta vida, e o quê pensa e age com reflexo. Ao morrer o Plexo Físico (o corpo), as lembranças de sua mente nesta encarnação (Plexo Mental) irão agregar-se ao seu Plexo Espiritual... Ao seu Espírito. Por tanto, a alma é apenas uma personalidade transitória que agora você está vivendo e registrando em sua mente. Muito diferente do seu Espírito!

O Plexo EspiritualConsiderando que já compreendemos que a alma é apenas “você hoje”, sua personalidade e lembranças de sua vida atual, fica mais fácil compreender a diferença clara quando vamos falar em espírito. O espírito é o seu EU verdadeiro! Este é você! Não é apenas o José, João ou Maria! É a soma de tudo o quê você já viveu nesta e nas outras encarnações. Com a morte do corpo, a alma passa a ser apenas uma lembrança a mais na sua memória espiritual. Como espírito você é a soma de suas muitas passagens por este e outros planos!

O primeiro questionamento neste ponto é sobre o “despertar”. “Quer dizer que quando eu desencarnar vou perder minha personalidade de Kazagrande e imediatamente passar a ser um espírito carregando a lembrança desta última “atuação no palco da vida terrestre”?”

Bem... Cada caso é um caso! Sim, existem aqueles que já estão preparados para recordar de suas outras passagens quase que de imediato. Mas a maioria precisa de um tempo de adaptação de retorno a sua condição espiritual. Vai desligando-se dos apegos da última passagem e tomando consciência, aos poucos, de sua real condição.

A capacidade de, ao retornar ao mundo espiritual, desprender-se dos apegos materiais da alma e dos desejos do corpo, é que determinam seu tempo de adaptação.

Quanto mais claramente compreendermos que não somos apenas um corpo, ou apenas a personalidade que atualmente vivemos, mais rapidamente poderemos estar em contato com o espírito, grande motivo de nossa mediunização.

Pai João de Enoque - mensagem


Filhos Jaguares,

Não usem o nome de vossa Mãe Koatay 108 em vão!

Não saiam justificando suas decisões intolerantes sob uma pretensa preservação do que ela deixou, pois o quê Neiva verdadeiramente deixou foi um exemplo de tolerância!

Quem dentre os que conviveram com ela poderia dizer que ela expulsava, maltratava, impunha ou exigia alguma coisa? Vocês receberam um exemplo de amor! Um exemplo de mãe que ama aos filhos incondicionalmente! Não importava de onde vinha, quem era ou o quê fazia. Não era assim?

Meus filhos, a Lei dos Rituais não pode e não deve ser modificada, pois em tudo existe uma contagem. Cada um é preparado espiritualmente para cumprir esta missão em sua individualidade e jamais, vou repetir, jamais um Jaguar deve entrar na faixa do outro, interferindo em sua jornada. Estou vendo muitos se perdendo por que passaram a carregar o quê não lhes pertence, ao impedir que o outro carregue o próprio fardo... E não é porque tem dó do outro, é porque se metem onde não devem! Impedir um Mestre de trabalhar é assumir os espíritos que a ele estavam destinados. Vocês conseguem ver se têm bônus para tanto?

Salve Deus! Meus filhos, cobrar a conduta doutrinaria não pode ser matar as ilusões. Vossa mãe quantas vezes explicou que não se pode destruir o sonho dos outros. Cada um é responsável por si, até o momento que outro se interpõe e interrompe sua jornada.

Deixem os filhos de Seta Branca trabalhar, cumprir suas missões! Se existem responsabilidades que lhe competem, responda por elas, mas não interfira na atitude do outro.

Como podem ocultar os bons ensinamentos e impor as regras? A conduta doutrinária, as regras, e até mesmo as Leis, são para os quê adquiriram a consciência. Aos outros é perdoado!

Pela razão que represento eu vos afirmo que nenhuma atitude de intolerância é facilmente esquecida. Uma energia é emitida, uma vibração despertada, e uma consequência virá! Não precisa de fiscalização, o fiscal é seu padrão vibratório, quando ele baixa, pimba! Entra a negatividade semeada e despertada pelos próprios irmãos.

Tenham em mente que o Amor está acima de todas as Leis e que a vaidade está por trás de toda intolerância.

Aprendam a compreender, mesmo que não aceitem as atitudes. Olhe no espelho e veja o próximo, sinta-se em seus sapatos e poderá compreender as atitudes incialmente julgadas como insanas. Por isso, não julgue, seja o outro por alguns instantes e compreenda, mesmo que não aceite. Isso é a tolerância.

O espírito do Jaguar é líder por natureza, não é subserviente, não é domado. Pode conquistar a humildade, mas se perde se for humilhado. Quantos grandes comandantes precisarão cair por terem sido humilhados?

O poder sempre foi a perdição desta tribo... Terão vocês que reencarnar escravos, também, para domar a vaidade do poder? Salve Deus! Possuem tudo em suas mãos... Não deixem a oportunidade doce passar, precisarão de outra, e esta pode demorar para chegar, ou chegar amarga, sem as bênçãos da mediunidade.

Em Cristo Jesus, sigam o exemplo de vossa Mãe, o exemplo de humildade, de luta, disciplina, mas principalmente de tolerância.

Pai João de Enoque
Junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

Siucidio


O suicídio é um ato condenado em quase a totalidade das religiões e doutrinas, uma vez que a vida não pode ser interrompida pela vontade da própria pessoa. Isso inclui a eutanásia, que é a morte provocada para evitar sofrimentos de doenças fatais e incuráveis.
Sob o ponto de vista de nossa Doutrina, há alguns aspectos a considerar.
O primeiro, que compreende a eutanásia (*), mostra o desconhecimento da Lei do Carma, e corta as oportunidades que aquele espírito oferece a si mesmo e aos que estão ao seu redor para reajustes transcendentais, às vezes os mais importantes para o plano reencarnatório daquele espírito. Em seu leito de dor, dependendo do carinho e cuidados dos outros, aquele espírito se reajusta e alivia seu carma e oferece condições para que seus cobradores também possam se reajustar.
Com a morte abreviada por métodos científicos, ele corta esse quadro, mergulhando geralmente no desespero de uma obra inacabada. Isso caracteriza uma violação das leis dos planos etéricos.
Existe, também, aquela pessoa que sabe que não pode fazer algumas coisas, sob risco de morte, e as faz continuadamente, tal como fumar, beber ou ingerir drogas. No fundo, existe uma forte vontade de autodestruição, um suicídio a médio ou longo prazo.
Um outro aspecto do suicídio é aquele que dá a vida para salvar outra. São muitos os casos assim caracterizados, um sacrifício que provoca infindáveis discussões, sem que se consiga uma resposta adequada, uma vez que são usadas as mais variadas formas de julgamento.
O que sabemos é que a ninguém é facultado morrer ou não, pois temos um plano reencarnatório para ser cumprido, onde escolhemos quando e como desencarnar.
Quando, abatido pelo desânimo, alguém decide abandonar a vida, está agravando seus sofrimentos ao invés de se aliviar. Quem pensa que pode se livrar de situações angustiosas e do sofrimento pelo suicídio vai ver que, após a morte de seu corpo físico, continuará vivo e terá que arcar com as conseqüências do seu desvario.
Todavia, há condições extremas de tensões emocionais que podem levar ao total desequilíbrio do sistema nervoso do Homem, levando-o à privação de sentidos que o levam a matar, inclusive a si mesmo!
Um importante fator a ser levado em consideração, em qualquer situação que leve a um suicídio, é a obsessão exercida por um espírito desencarnado e que, muitas vezes, conduz uma pessoa a esse gesto extremo.
Neste caso, a espiritualidade sabe que aquela ação não foi cometida fria e premeditadamente, e a aceita e dá uma nova oportunidade àquele espírito, que deverá cumprir outro tempo na Terra, reencarnando pelo tempo necessário ao cumprimento do que fora planejado.

  • Estava na minha frente, para ser consultada, uma bela senhora de cerca de 40 anos, recentemente viúva de um suicida. Junto com ela estavam sua sogra, um jovem aparentando 18 anos - um belo rapaz com um futuro prometedor - e uma jovenzinha me parecendo leviana, porém de bom aspecto. Vi que se tratava de uma família.
- Veja o que pode fazer pela minha sogra, Tia Neiva. Vim para consolá-la, porque Lúcio se suicidou e ela está sofrendo muito (Lúcio era filho da anciã). Ela está me dando muito trabalho. Vê se a faz esquecer, faça qualquer coisa que me dê sossego!
- Sim, - disse a anciã - a minha maior dor é saber que meu filho não tem salvação. Foi tão bom!... Não sei como pode fazer isso!
A viúva arrematou depressa e com desprezo pelo marido:
- Deixou-nos na pior situação. Enfim, traumatizou todo mundo!
Disse o rapaz:
- Sim, Tia Neiva, pelo amor que meu pai tinha por nós não é fácil entender o que ele fez e nem tampouco para mim e minha pobre mãe viver sem ele. Foi horrível o que passei, pois, no fim, ele mostrou que não gostava mesmo era da gente, Tia Neiva. Minha avó, coitada, pensa no quanto ele irá penar. Nisso eu não acredito muito, pois sei que Deus não irá deixar, porque ele era bacana mesmo, compreendia a mim mais do que todo o mundo. Quando eu não estava satisfeito com as coisas da mãe, ele sempre me dizia que o filho que não gosta da mãe nunca se realiza. Era bacana mesmo... Não sei como foi tão fraco!
Depois, ficamos calados, só ouvindo os soluços da vovozinha.
- São os restos do carma, logo a senhora estará com ele - disse eu com tranqüilidade e falando com carinho à pobre sogra.
A viúva começou a tagarelar sem parar e sem qualquer sentimento de amor.
- Como, Tia Neiva? - falou a anciã - A senhora não entendeu que ele se suicidou? Deu um tiro nos miolos, e agora só Deus sabe por onde anda meu filho!... Meu pobre Lúcio! Não sei. Um homem tão culto... Quis ser médico, e foi. Quis seguir a mesma profissão do pai, pobre pai, pobre marido meu, que Deus o tenha também em bom lugar. Era como Lúcio, seu filho, um homem bom. Morreu do coração. Foi um golpe duro para mim, porém não tão duro como este do meu filho. Sim, Tia Neiva, o meu mal foi ter me casado com outro. Não dei satisfações ao meu Lúcio e este atual marido não combinava com ele. Por causa deste infeliz, Lúcio estava afastado de mim. Lúcio saiu de casa e só voltou quando ele foi embora. Será, Tia Neiva, que foi por isso que ele se suicidou? Guardou toda a vida esta mágoa?
- Será que não foi pelos atritos com Lúcio Júnior? - perguntei.
- Não, - respondeu a anciã - ele até queria a grande herança de meu marido. Lúcio, coitado, ficou decepcionado comigo. Sempre que podia, me falava: o Homem nunca pode pensar nos defeitos da mãe. Mas ele sempre me beijava, ria e ficava por isso mesmo. Acredito que era só da boca para fora.
Terminado o diálogo, vi que o pobre suicida se fora para evitar desgraça maior, pois o quadro daquela gente era o pior possível! Somente o jovem sofria, pois perdera o pai para se salvar.
Chamei o Tiago e recomendei um trabalho. Fiquei observando se Lúcio se manifestava por ali, porém ele não veio. Obsessor? pensei. Fui, então, encontrá-lo no Canal Vermelho.
Aproximei-me dele e disse:
- Estive com sua família, seu filho e sua filha, seus dois filhos.
- Só tenho Fernando e Fernanda. O que Fernando pensa de mim? A senhora sabe?
- Sei - respondi - bem como também sei o que o levou ao suicídio.
- Falou com ele? - perguntou-me desesperado.
- Não, tenho um juramento na Terra que me obriga a respeitar os sentimentos dos outros e seria incapaz de denunciar alguém.
- Fui suicida e, no entanto, aqui, ninguém me condenou por isso.
- Sim - disse eu - foi aquilo que eu aprendi: a respeitar os outros.
- E minha mãe?
- Sua mãe, Lúcio, sentiu e sente a maior dor!
- Meu Deus!” gemeu Lúcio.
- Lúcio, sua mãe optou pelo homem que amou, quando você partiu pela primeira vez, e a mãe não tem porque optar senão pelo próprio filho.
- Sim, Tia Neiva, foi horrível no dia que meu padrasto me esbofeteou, na frente de minha mãe, dizendo que ele ou eu ficaria naquela casa, e minha mãe disse que ia me levar para a casa de minha avó, mãe do meu falecido pai. Tive uma decepção tão triste que nunca mais me recuperei, apesar de todo o carinho de minha avó. Minha mãe não me quis, preferiu ficar ao lado do homem a quem amava. Mesmo traumatizado e cheio de tristeza, casei-me. Minha esposa parecia me amar muito. Tivemos dois filhos maravilhosos, Fernando e Fernanda. Tudo corria aparentemente bem. Foi então que entrando na casa de Marcelo, meu maior amigo, ouvi a voz de Edna, minha esposa. Marcelo veio ao meu encontro e perguntei de quem era aquela voz. Ele gaguejou e disse que não era ninguém. Desci e fiquei em frente à casa, até que saíssem. E quem saiu foi ela, a própria Edna! Fiz uma viagem, porém aquilo não saía de minha cabeça, pensando em tudo que um homem traído em seu casamento pode pensar. Ela não se modificou e Marcelo também persistiu no erro. Eu não quis mais ver o que estava acontecendo. Tive vontade de matar os dois, porém decepcionar Fernando com sua própria mãe não era possível. Se eu morresse, ele nunca ficaria sabendo da sua traição. Pensei comigo: se tudo estiver bem para Fernando, espero aqui o que Deus quiser. Deus há de me perdoar por minha pobre incompreensão. Tenho certeza de que, um dia, Deus me perdoará!
É verdade, pensei. Fernando estava sem complexos, vivendo sua vida e amando ainda mais sua mãe. Estávamos bem, quando ouvimos a campainha da chamada.
- Está vendo para onde irei? - perguntou-me Lúcio.
- Você vai para o outro lado deste Canal - respondi.
Ele partiu, e soube que tinha ido para reencarnar e pagar na carne o seu erro de se suicidar. E qual a sua pena? Voltará com uma forma de disritmia.
Perguntei quem seria sua mãe. Sua mãe será novamente a mesma velhinha, porque rejeitou o direito de criá-lo, fazendo assim seu primeiro trauma, por ter preferido o homem que amava, deixando que ele fosse para a casa de sua avó.
O desequilíbrio de uma mãe desajusta uma família.
No outro sábado, aquela família voltou para falar comigo e, vendo-os sentados à minha frente, tive vontade de dizer tudo: que tinha me encontrado com Lúcio no Canal Vermelho e que era ela a única responsável pela sua morte.
Como sempre me limito, apenas, a proteger, porque entreguei meus olhos a Jesus para nunca escravizar ninguém com palavras ou por insinuações, e muito menos por julgamento.
Fico frustrada pensando nas palavras de Pai Seta Branca: ajudar, comunicar sem participar, não dividir nem tomar partido das pessoas!” (Tia Neiva, dez/79)