sábado, 29 de outubro de 2011

Minha Vida Meus Amores - Fim do 1º. Capítulo



Mas logo ele saiu de seu impacto, mandou-me sentar em frente da mesa, pegou a caneta e uma ficha e fez as perguntas de praxe: nome, idade, ocupação, estado civil, etc. que eu respondi com certa impaciência. Ele terminou a ficha, largou a caneta, colocou as mãos sobre a mesa, olhou-me no rosto e perguntou gentilmente. “Então, em que posso serví-la? O que a senhora esta sentindo?” Sabe doutor, eu não estou me sentindo muito bem. Acho que estou com estafa, estou tendo alucinações, estou vendo espíritos e o pior é que estou ouvindo tudo. Ouvindo isso ele começou a abanar a cabeça como se tivesse chegado a um pronto diagnóstico e foi logo dizendo: “È, está me parecendo que a senhora está mesmo estafada. Tem trabalhado muito? No que a senhora trabalha?” Quando eu lhe disse com uma ponta de orgulho, que era motorista profissional, pois quando eu respondera as perguntas da ficha eu dissera apenas, “motorista”, ele me olhou com mais atenção e continuou com seu monólogo partenal. Nisto senti um calafrio percorrer minha espinha e vi um vulto saindo de trás do biombo. Quase saltei da cadeira, pois pensei que alguém estivera o tempo todo me espionando. O médico deve ter notado minha repentina agitação, pois parou de falar e me olhou com um ar de interrogação. O vulto foi se aproximando e, embora eu continuasse a olhar fixamente para as mãos do médico sobre a mesa eu continuava a ver perfeitamente a figura que se aproximava, notava suas feições macilentas e seu andar arrastado.

Comecei a sentir medo e com a mão direita e o polegar comecei a mostrar para o médico. Ele acompanhou o meu gesto e olhou na direção do vulto. Fez um movimento com as duas mãos, como quem nada estava vendo e reassumiu seu monólogo. Nisso o espírito parou e, com voz pastosa falou: “Boa noite, boa noite.” Meu gesto se tornou mais agitado e eu comecei a apontar nervosamente para o espírito enquanto ele começou a mostrar certa perplexidade. Enquanto isso acontecia minha mente entrou quase em colapso tal a confusão em que me achava. Eu estava realmente vendo o espírito ou era uma alucinação? Tentando racionalizar as coisas eu esqueci até mesmo de minha conversa com Mãe Yara e comecei a explicar ao psiquiatra que eu era de origem católica, que tinha duas tias que eram freiras e um primo que era padre, que já havia procurado o pároco do Núcleo e que ele mandara como penitência que eu puxasse uma carrada de tijolos para a igrejinha que ele estava construindo. O vulto estava quase junto de nós, e eu já estava me preparando para levantar da cadeira quando o “mortinho” falou: “Diga a ele, e apontava para o médico, diga a ele que sou o Juca, seu pai, eu sei que você está me vendo mas ele não me vê, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu morri há dois meses lá no Rio, eu vim ver como ele está. Nós éramos muito ligados, agora eu morri, morri.” E sua voz foi se tornando mais pastosa, mais sortuda. Aí então eu não resisti mais e também não tive mais dúvida. Doutor, Doutor o homem, o espírito, o defunto, ele diz que é seu pai.” O doutor olhou-me apreensivo. “ Meu pai”. Sim, seu pai, ele diz que se chama Juca, e que morreu há dois meses no Rio.*

Nem bem acabara de falar quando o médico se levantou, lívido, com as feições transtornadas, os olhos quase fora das órbitas clamando com voz rouca: “ Meu Pai, meu pai, oh! Meu Deus!, meu pai, onde?, a senhora está vendo ele, como é que ele esta?. Não sei se foi aquela cena patética ou se foi o fato de que eu chegara com esperanças de meu caso ser de simples psiquiatria e poder ser resolvido com remédios mas, a verdade é que naquele instante, vendo o espírito de um defunto (que não parava de falar e acenar em direção ao médico), vendo um cientista alucinado com a simples menção de um mortinho, eu entrei em pânico, colapso nervoso, nem sei o que. O fato é que me levantei com violência e tentei sair por onde entrara. Não sei se a fechadura ou trinco emperrou, mas o fato é que eu sentei o pé na porta com tal violência que a porta abriu ao contrário e ficou dependurada nas dobradiças caídas. Com a mesma violência entrei no meu internacional e não respeitei nem seu “queixo seco”, engrenei vigorosamente e sai sem saber bem o que estava fazendo. Chegando em casa chorei, chorei muito.


Diga a ele, e apontava o médico, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu sei que você está me vendo, mas ele não me vê, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu morri há dois meses lá no Rio..

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Minha Vida meus Amores - Cont.

Chegavam de mil lugares diferentes críticas, principalmente de estar rodeada de pessoas pobres

Esta última afirmação de Mãe Yara me alarmou e perguntei-lhe: A senhora não conhece Deus? “Sim, eu conheço Deus em sua figura simples e hieroglífica, como você o conhece”. “Hieroglífica, sim Neiva. Deus é o poder supremo em todas as coisas. Neste planeta, nas plantas, impregnando o prana no aroma das matas frondosas, no mar, no espaço, nas estradas, na porta estreita da vida, na alegria, na dor e no fundo do nosso coração. Neiva, Deus é a energia luminosa que desencadeia as reações dos seres vivos, dos vegetais, que vive no ambiente inorgânico e gera pelo seu sopro. Neiva seja o mais otimista que puder e permaneça ligada a Jesus”. E o Cacique Guerreiro Tupinambás? Posso falar com ele? “Sim, Neiva, o Seta Branca?” O que vem com uma Seta nas mãos. “Diga comigo, meu pai Seta Branca”. E assim, Mãe Yara foi me preparando para o relacionamento com os espíritos. Havia períodos em que eu me saía bem; outras ocasiões eu estrilava ou não entendia. Certa ocasião uma jornalista, muito amiga, veio passar alguns dias comigo. Ela tinha sido freira durante dez anos. Contei-lhe tudo o que se passava comigo e ela me deu muita força para que eu continuasse. Num daqueles dias, à tarde, fomos para uma festinha na Novacap. Havia muita alegria e o pessoal estava eufórico. Eu estava sentada num banco junto à parede, acompanhando a algazarra, quando alguém passou por mim com uma bandeja cheia de copos de cerveja. Estendi a mão para apanhar um copo quando ouvi uma voz bem mansinha no meu ouvido. “Neiva, não beba, veja, esses copos estão sujos”. Eu vacilei, sem saber o que fazer e permaneci com a mão estendida, enquanto a bandeja passou. Alguém, perto de mim percebeu que eu não apanhara o copo e se levantou fazendo menção de ir pegar um para mim. Nesse momento aconteceu algo inesperado: alguém esbarrou num copo cheio de cerveja derramando em mim e no meu prestimoso amigo. O incidente quase provocou uma briga. Eu estava com uma calça bege que ficou encharcada de cerveja. Na confusão que se seguiu muitos se aproximaram de mim, querendo saber o que havia acontecido. A minha amiga jornalista se divertiu muito com o incidente. Eu por minha vez passei o resto da festa sentada com meu inesperado e prestimoso protetor.

Ele era um engenheiro que havia chegado recentemente que só falava na Novacap e na família que deixara em casa. Eu me lamentava. Sabe Bené, eu vi quem derrubou aquele copo! Ele me olhou e me disse com ar paternal: “Deixe de se impressionar, Neiva, assim você vai acabar ficando louca”. Os dias foram passando e meu conflito aumentando. Um dia tomei uma decisão e junto com minha amiga fui falar com Dr. Sayão. Ele era amigo de minha família, tinha sido o chefe do meu falecido marido em Ceres e eu tinha muita confiança nele. Ele me ouviu com muito carinho, pensou bem e me disse: “Neiva, sabe, nós já temos um psiquiatra aqui no hospital do I.A.P.I., porque você não faz uma consulta com ele? Isso levantou minhas esperanças. No dia seguinte fui ao acampamento do antigo I.A.P.I. onde havia um hospital construído em madeira, aliás, o único daquele tempo em que Brasília era apenas obras em andamento. Eu gozava de muito prestígio entre o povo daquele tempo, pois a única mulher a dirigir um caminhão, de forma que não tive muita dificuldade em conseguir o atendimento. O médico aparentava ter uns 40 anos e demonstrava um ar de cansaço. Percebi logo que ele ainda não estava adaptado ao ambiente de obras e balbúrdia de Brasília. Embora tudo fosse de madeira, o consultório onde ele me atendeu era muito arrumado, não faltando inclusive o sofá alto para exame dos pacientes, uma pia com torneira, uma estante com alguns livros e um biombo num canto da sala. Ele olhou para minhas botas de cano alto e meu culote, e vi por trás de seus óculos que ele não estava ainda acostumado com nossa vida de acampamento, com as ruas enlameadas e com o ar desenvolto que tais circunstâncias produzem nas pessoas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Domingo Troca de Rosas

DEIXE QUE A LUMINOSIDADE DIVINA ILUMINE O TEU SER!... FECHE OS OLHOS FÍSICOS E ABRA OS OLHOS DO ESPÍRITO, PARA QUE JESUS POSSA ENTRAR...

Minha Vida Meus Amores - O Mortinho (continuação)


Chegavam de mil lugares diferentes críticas, principalmente de estar rodeada de pessoas pobres

Esta última afirmação de Mãe Yara me alarmou e perguntei-lhe: A senhora não conhece Deus? “Sim, eu conheço Deus em sua figura simples e hieroglífica, como você o conhece”. “Hieroglífica, sim Neiva. Deus é o poder supremo em todas as coisas. Neste planeta, nas plantas, impregnando o prana no aroma das matas frondosas, no mar, no espaço, nas estradas, na porta estreita da vida, na alegria, na dor e no fundo do nosso coração. Neiva, Deus é a energia luminosa que desencadeia as reações dos seres vivos, dos vegetais, que vive no ambiente inorgânico e gera pelo seu sopro. Neiva seja o mais otimista que puder e permaneça ligada a Jesus”. E o Cacique Guerreiro Tupinambás? Posso falar com ele? “Sim, Neiva, o Seta Branca?” O que vem com uma Seta nas mãos. “Diga comigo, meu pai Seta Branca”. E assim, Mãe Yara foi me preparando para o relacionamento com os espíritos. Havia períodos em que eu me saía bem; outras ocasiões eu estrilava ou não entendia. Certa ocasião uma jornalista, muito amiga, veio passar alguns dias comigo. Ela tinha sido freira durante dez anos. Contei-lhe tudo o que se passava comigo e ela me deu muita força para que eu continuasse. Num daqueles dias, à tarde, fomos para uma festinha na Novacap. Havia muita alegria e o pessoal estava eufórico. Eu estava sentada num banco junto à parede, acompanhando a algazarra, quando alguém passou por mim com uma bandeja cheia de copos de cerveja. Estendi a mão para apanhar um copo quando ouvi uma voz bem mansinha no meu ouvido. “Neiva, não beba, veja, esses copos estão sujos”. Eu vacilei, sem saber o que fazer e permaneci com a mão estendida, enquanto a bandeja passou. Alguém, perto de mim percebeu que eu não apanhara o copo e se levantou fazendo menção de ir pegar um para mim. Nesse momento aconteceu algo inesperado: alguém esbarrou num copo cheio de cerveja derramando em mim e no meu prestimoso amigo. O incidente quase provocou uma briga. Eu estava com uma calça bege que ficou encharcada de cerveja. Na confusão que se seguiu muitos se aproximaram de mim, querendo saber o que havia acontecido. A minha amiga jornalista se divertiu muito com o incidente. Eu por minha vez passei o resto da festa sentada com meu inesperado e prestimoso protetor.

Ele era um engenheiro que havia chegado recentemente que só falava na Novacap e na família que deixara em casa. Eu me lamentava. Sabe Bené, eu vi quem derrubou aquele copo! Ele me olhou e me disse com ar paternal: “Deixe de se impressionar, Neiva, assim você vai acabar ficando louca”. Os dias foram passando e meu conflito aumentando. Um dia tomei uma decisão e junto com minha amiga fui falar com Dr. Sayão. Ele era amigo de minha família, tinha sido o chefe do meu falecido marido em Ceres e eu tinha muita confiança nele. Ele me ouviu com muito carinho, pensou bem e me disse: “Neiva, sabe, nós já temos um psiquiatra aqui no hospital do I.A.P.I., porque você não faz uma consulta com ele? Isso levantou minhas esperanças. No dia seguinte fui ao acampamento do antigo I.A.P.I. onde havia um hospital construído em madeira, aliás, o único daquele tempo em que Brasília era apenas obras em andamento. Eu gozava de muito prestígio entre o povo daquele tempo, pois a única mulher a dirigir um caminhão, de forma que não tive muita dificuldade em conseguir o atendimento. O médico aparentava ter uns 40 anos e demonstrava um ar de cansaço. Percebi logo que ele ainda não estava adaptado ao ambiente de obras e balbúrdia de Brasília. Embora tudo fosse de madeira, o consultório onde ele me atendeu era muito arrumado, não faltando inclusive o sofá alto para exame dos pacientes, uma pia com torneira, uma estante com alguns livros e um biombo num canto da sala. Ele olhou para minhas botas de cano alto e meu culote, e vi por trás de seus óculos que ele não estava ainda acostumado com nossa vida de acampamento, com as ruas enlameadas e com o ar desenvolto que tais circunstâncias produzem nas pessoas.

Mas logo ele saiu de seu impacto, mandou-me sentar em frente da mesa, pegou a caneta e uma ficha e fez as perguntas de praxe: nome, idade, ocupação, estado civil, etc. que eu respondi com certa impaciência. Ele terminou a ficha, largou a caneta, colocou as mãos sobre a mesa, olhou-me no rosto e perguntou gentilmente. “Então, em que posso serví-la? O que a senhora esta sentindo?” Sabe doutor, eu não estou me sentindo muito bem. Acho que estou com estafa, estou tendo alucinações, estou vendo espíritos e o pior é que estou ouvindo tudo. Ouvindo isso ele começou a abanar a cabeça como se tivesse chegado a um pronto diagnóstico e foi logo dizendo: “È, está me parecendo que a senhora está mesmo estafada. Tem trabalhado muito? No que a senhora trabalha?” Quando eu lhe disse com uma ponta de orgulho, que era motorista profissional, pois quando eu respondera as perguntas da ficha eu dissera apenas, “motorista”, ele me olhou com mais atenção e continuou com seu monólogo partenal. Nisto senti um calafrio percorrer minha espinha e vi um vulto saindo de trás do biombo. Quase saltei da cadeira, pois pensei que alguém estivera o tempo todo me espionando. O médico deve ter notado minha repentina agitação, pois parou de falar e me olhou com um ar de interrogação. O vulto foi se aproximando e, embora eu continuasse a olhar fixamente para as mãos do médico sobre a mesa eu continuava a ver perfeitamente a figura que se aproximava, notava suas feições macilentas e seu andar arrastado.

Comecei a sentir medo e com a mão direita e o polegar comecei a mostrar para o médico. Ele acompanhou o meu gesto e olhou na direção do vulto. Fez um movimento com as duas mãos, como quem nada estava vendo e reassumiu seu monólogo. Nisso o espírito parou e, com voz pastosa falou: “Boa noite, boa noite.” Meu gesto se tornou mais agitado e eu comecei a apontar nervosamente para o espírito enquanto ele começou a mostrar certa perplexidade. Enquanto isso acontecia minha mente entrou quase em colapso tal a confusão em que me achava. Eu estava realmente vendo o espírito ou era uma alucinação? Tentando racionalizar as coisas eu esqueci até mesmo de minha conversa com Mãe Yara e comecei a explicar ao psiquiatra que eu era de origem católica, que tinha duas tias que eram freiras e um primo que era padre, que já havia procurado o pároco do Núcleo e que ele mandara como penitência que eu puxasse uma carrada de tijolos para a igrejinha que ele estava construindo. O vulto estava quase junto de nós, e eu já estava me preparando para levantar da cadeira quando o “mortinho” falou: “Diga a ele, e apontava para o médico, diga a ele que sou o Juca, seu pai, eu sei que você está me vendo mas ele não me vê, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu morri há dois meses lá no Rio, eu vim ver como ele está. Nós éramos muito ligados, agora eu morri, morri.” E sua voz foi se tornando mais pastosa, mais sortuda. Aí então eu não resisti mais e também não tive mais dúvida. Doutor, Doutor o homem, o espírito, o defunto, ele diz que é seu pai.” O doutor olhou-me apreensivo. “ Meu pai”. Sim, seu pai, ele diz que se chama Juca, e que morreu há dois meses no Rio.*

Nem bem acabara de falar quando o médico se levantou, lívido, com as feições transtornadas, os olhos quase fora das órbitas clamando com voz rouca: “ Meu Pai, meu pai, oh! Meu Deus!, meu pai, onde?, a senhora está vendo ele, como é que ele esta?. Não sei se foi aquela cena patética ou se foi o fato de que eu chegara com esperanças de meu caso ser de simples psiquiatria e poder ser resolvido com remédios mas, a verdade é que naquele instante, vendo o espírito de um defunto (que não parava de falar e acenar em direção ao médico), vendo um cientista alucinado com a simples menção de um mortinho, eu entrei em pânico, colapso nervoso, nem sei o que. O fato é que me levantei com violência e tentei sair por onde entrara. Não sei se a fechadura ou trinco emperrou, mas o fato é que eu sentei o pé na porta com tal violência que a porta abriu ao contrário e ficou dependurada nas dobradiças caídas. Com a mesma violência entrei no meu internacional e não respeitei nem seu “queixo seco”, engrenei vigorosamente e sai sem saber bem o que estava fazendo. Chegando em casa chorei, chorei muito.


Diga a ele, e apontava o médico, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu sei que você está me vendo, mas ele não me vê, diga a ele que sou Juca, seu pai, eu morri há dois meses lá no Rio..

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Minha Vida Meus Amores - O Mortinho




O dia da Casa Grande na balbúrdia habitual. Neiva, cansada de uma atividade ininterrupta e exaustiva, reclinou-se na poltrona junta à sua mesa. Nestor entrou silencioso e sentou-se junta a ela. Ela abriu seus olhos profundos e um brilho de carinho maternal animou seu olhar. “Tia, disse o Jaguar, o começo de sua clarividência deve ter sido muito complexo, não foi? Se a senhora está disposta hoje, me conte como foi o seu começo”. Filho, quando a vida missionária se descortinou na minha frente, tudo se modificou. Nesse tempo, no meu peito só havia lugar para terríveis conflitos que me empurravam para o abismo de uma obsessão. Porém, mesmo em meio a esse conflito, minha mente buscava uma verdade; essa verdade era Jesus, Jesus o Caminheiro, o homem divino e absoluto, que caminhava nas margens do Rio Jordão. Aquele que alimentava os pobres e não se preocupava com os rabinos e os doutores da lei, que lhe haviam virado as costas.
Então, em meio aos maiores conflitos eu formava na mente a imagem daquela rica mensagem, Jesus, e sentia sua verdade em todo o meu ser. Uma vez firme, entreguei a Jesus os meus olhos, pedindo que os arrancasse, se eu, por vaidade, enganasse alguém em seu nome. Daí para frente, filho, deixei de me preocupar com os valores sociais e penetrei com respeito no mundo dos espíritos. Mas, como se não bastasse a minha grande dor, e como se todos fossem alheios aos meus conflitos, chegavam de mil lugares diferentes críticas, principalmente de estar rodeada de pessoas pobres e, às vezes, até aleijados. Isso aumentava muito minhas angústias, fazendo com que aquela mulher que existia dentro de mim começasse a se apagar, ela estava se ausentando de si mesma. Oh meu Deus. É difícil animar o corpo quando a alma está ausente! Filho, quantas vezes recusamos a água, sabendo que não podemos viver sem ela! Nesse tempo comecei a aprender a viver no meio de uma multidão silenciosa que me assistia e de outra, barulhenta que me exigia respostas.
A primeira, invisível, estava sempre influenciando, ajudando na aproximação de mundos inesperados, e só Deus sabia o que chegava ao meu misterioso mundo interior. Por isso não sabia mais sorrir. “Sem luta não há evolução”, dizia Mãe Yara. Falava-me deixando que eu visse o seu semblante, que eu não me cansava de admirar. Houve um dia porém que ela chegou com ar mais sério. “Neiva, disse ela, já fiz de tudo para chegar até você. Já me fiz de aleijada dando o nome de Adelina, mas desta vez a farei saber que o amor é a arma imponderável do espírito missionário. Você já não tem escolha pois a sua missão é divina”. Eu respondi com algumas palavras compungidas, mas ela as repeliu. “Em nenhuma de suas vidas você foi piedosa e é por isso que você agora foi escolhida”. Nestor que ouvia atentamente este relato interrompeu. “Mas Tia, não estou entendendo isso que Mãe Yara lhe disse. Quer dizer que a senhora foi escolhida para esta missão porque nas vidas anteriores nunca foi piedosa. Exatamente, meu filho. Nem mesmo eu naquele tempo entendi isso, mas hoje sabemos muito bem o porque. A piedade é a vida religiosa artificial e supérflua que não combina com a força do Jaguar. Como poderia eu criar o Doutrinador? Mas, deixe-me continuar o relato de meu diálogo com Mãe Yara. Ajude-me, me ilumine, continuei, para que seja o que Deus queira que eu seja. Ajude-me para que eu possa abandonar os tristes hábitos do meu passado. Haverá alguém que por acaso, goste de sofrer? “Não será preciso repudiar os seus tristes hábitos. Não se esqueça de que o belo é o resplendor do verdadeiro. Não saia de você mesma, seja natural, ame o que sempre amou e recuse o que sempre recusou. A única diferença Neiva, é aprender a tolerar os seus amigos, até que você se faça acreditada. Esse será o período mais difícil de sua missão, porém, só Deus conhece Deus”.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Minha Vida Meus Amores - Neiva e Nestor Conversam


..e o silêncio se prolongava em torno dela...

Neiva voltou de seu enlêvo. Seu discípulo inclinou a cabeça atento. Ver e viver. Antes que os sinais da angustia nos obriguem, a ver com outros olhos as novas perspectivas, e nos compliquem. Para se entender, em novas ciências, o que há de mais simples: amor e Deus. “Por que foi escolhido o Jaguar?”, perguntou Nestor. Porque ele é um espírito espartano, é o Cavaleiro Verde, o Cavaleiro especial. Também porque ele vem de um processo penoso, de sua mente científica na luta de Séculos, neste mesmo solo. Hoje sua percepção nos afirma, filho, que os tempos chegaram e não dá mais espaço para as polêmicas, mas tão somente para a sensibilidade do homem iniciado, do homem que não descansa na grandeza de luta e é agraciado pela grandiosidade das energias trazidas do Prana, para retirar o que necessita do seu psiquismo particular para as respostas às perguntas que emergem do fundo de seu coração.

Este homem, este Jaguar é fácil de ser encontrado. Ele é grosseiro e sagas porque é oriundo das cordilheiras espartanas. Porém, ele não suporta ver alguém sofrendo; sai logo, aflito, procurando socorrer quem quer que seja. E logo se torna amável, requintado, afetuoso, sensível às dificuldades dos povos. Sempre que a missão se apresenta sua mão é forte, seu amor espontâneo; não tem superstições nem falsos preconceitos. O Jaguar ama verdadeiramente sua Doutrina e faz dela o seu sacerdócio. Ele acredita na vida e sabe se promover embora seja boêmio. Sua mente é livre de qualquer crença que não seja autêntica e não lhe permita ser ele mesmo. Os Jaguares são sabedores de que a última grande iniciação da humanidade ocorreu pela espontaneidade, unificando e aproximando o homem da sua individualização. Sabe também, que em todo nosso universo o homem está sendo sacudido, no fundo do seu ser, de maneira autêntica e poderosa.

A Doutrina do Amanhecer, ou Doutrina do jaguar, explica que o homem que tem conhecimento de si mesmo, aumenta sua intensidade vibratória, e isso é o que acontece nesta tribo de Jaguares. Porque só poderá receber tais iniciações, aquele que tiver todas as suas células despertadas, isto é, a célula mental e a célula etérica, livres de superstições. “Mas, interrompeu Nestor, e a humanidade? A senhora falou do Jaguar e do Doutrinador; e como fica o homem comum?” O Jaguar espera pela humanidade para o próprio adiantamento dela. Sim, filho, a humanidade e o planeta com seus outros seres estão na luta universal. Seu único objetivo é infundir no homem a necessidade dos últimos preparativos para que essa passagem seja uma conquista harmoniosa. Sim filho, se o homem se mantiver numa doutrina unificante, na passagem das grandes Estrelas, Sívas, Harpásios, Taumantes, Tenários, Tizanos, Cautânenses, Vancários, Sumayas e Sárdios, se ele conseguir a grande fusão e assim souber, espontaneamente, emitir na grande transmutação, ele será protegido e terá a bela condição que é a salvação de uma vida para outra. Porque essas estrelas foram dispostas como um verdadeiro arsenal de forças para a transição de uma vida para a outra.

Meu filho, o mundo está bem perto do inevitável, da transformação que afetará todos os seres de corpo humano. Então filho, sabemos que não podemos ficar a mercê dessa transformação olhando para o céu, se sofremos os desatinos de nossos destinos cármicos. Mas, nada temos a temer, pois é sabido que a dor faz o homem humilde e o amadurece para Deus. Assim será a situação do homem brevemente, diante do imenso painel da realidade universal. “E como a senhora vê esse painel?” Vejo que as coisas que hoje desperdiçamos nos faltarão amanhã. Sem saber que já amanheceu, o homem chorará a falta do céu azul, do sol, da lua e das campinas verdejantes. Sem saber onde pisar ele estará correndo o grande perigo da desintegração. Enquanto isso, filho, o homem que já adquiriu as suas asas, esse estará provido da candeia viva e resplandecente, na sua jornada missionária para alimentar e reintegrar os que perderam a sua rota. “Será então, a escuridão de que falam as profecias?” Sim filho, a escuridão é a falta de visão, do conhecimento das coisas do céu, do homem que é conduzido pela sua mente sem Deus, e que por isso poderá perder a sua rota e entrar no processo de desintegração. Eis o perigo dos que levam a vida na inconsciência, sem saber o que está acontecendo acima ou abaixo de sua cabeça. É triste, muito triste. Filho, como era triste a vida sem o Doutrinador. Pense na falta de luz, tendo os pés na beira dos pântanos. Entretanto, Deus, o Grande Deus, o imenso farol deste universo, que nos deu Jesus seu filho, que tanto sofreu por nós, e cujo grandioso exemplo de amor continua a emitir do céu luzes para quem precisa, ou para quem já passou o tempo de brincar, e está consciência de sua jornada evangélica.

A esse homem nada lhe falta, pois ele sabe que a hora é chegada pela presença do Verbo que segue a luz evangélica de Nosso Senhor Jesus Cristo, servindo de uma vida para outra, desintegrando e reintegrando na força absoluta de Deus Pai todo poderoso. E isso é que representam as Divinas Estrelas do Sétimo Verbo, da origem do Santo Verbo Encarnado, Deus, Pai e Filho. São elas, Acelos do 2º Verbo, Ceanes do 2º Verbo, Geiras do 3º Verbo, Gestas do 3º Verbo, Gertais do 2º Verbo, Xênios do 2º Verbo. Vanulos do 3º Verbo, Mântios do 2º Verbo, Taíses do 3º Verbo. São as estrelas que trazem a faixa evangélica e iniciática da vida e da morte. Nesse ponto a noite já se alongava silenciosa e o Solar dos Mestres, como era também chamada a Estrela Candente, se fazia silencioso, ouvindo-se apenas o chiar do Nêutron, a chamada voz do Silêncio. Nestor ajudou-a se erguer e a foi conduzindo lentamente para o carro. O Jaguar Executivo procurava memorizar o mundo de coisas que acabara de ouvir. Neiva lendo seu pensamento parou ofegante e sorriu. Não se preocupe Nestor que vou lhe dar tudo isso escrito.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Minha Vida Meus Amores - O Jaguar


O Sol, declinando no poente da tarde, dava um estranho colorido à Estrela Candente. O Lago do Jaguar reverberava em cores múltiplas, enquanto as primeiras sombras da noite próxima davam um senso de paz e de outra realidade. Sentados na muralha do Radar de Comando da Unificação, Neiva e Nestor conversavam. O Primeiro Mestre Executivo discorria sobre a vida no Vale do Amanhecer e seus problemas, procurando, de forma carinhosa e filial, ascultar a mente de Neiva e obter respostas para suas preocupações de missionário. “Porque, perguntava ele, porque a humanidade não nos descobre melhor, parecendo que estamos sós neste mundo?” “Porque, filho, respondeu ela, porque tudo o que nós estamos fazendo é levar a mensagem do terceiro Milênio para todo este universo, com nossas indumentárias e com a nossa conduta doutrinária. Vinte e cinco anos, vivendo do amor e luz”. “Acho que não soube fazer a pergunta certa, disse Nestor, talvez eu quisesse perguntar porque a sua clarividência, que é um fenômeno tão fora do comum, tão extraordinário, não causa maior impacto, não desperta a curiosidade dos cientistas, dos teólogos. Para mim, continuou ele, este Vale deveria estar efervescendo de curiosidade”.
É exatamente porque os impactos de minha clarividência não bastavam é que veio, então, a vida iniciática, com suas cores vivas e seus poderes. Só assim é que tivemos a oportunidade de exibir a obra ao seu autor e também junto aos povos. Veja, Nestor, com as vibrações foram tomando lugar em toda a nossa doutrina, nas cores, no Templo e, por fim, nesta Estrela Candente esta grandeza que emite suas Amacês e a energia do Jaguar, para a cura desobssessiva dos cegos, dos mudos e dos incompreendidos. As vibrações aumentaram sem que precisássemos nos afastar do Evangelho um minuto sequer. Sempre, porém, Jesus o Caminheiro, em sua jornada evangélica iniciática, sem dor e sem sofrimento, ensinando a cura desobssessiva e colocando o espírito a caminho de Deus Pai todo poderoso. Não podemos garantir que tudo o que está para vir aconteça aqui. Porém haverá alguma mudança estrutural e benéfica, que irá alterar os rumores do pensamento humano, abalando os alicerces da cultura ancestral, consolidada na velha estrada e isso acontecerá aqui.
Filho, não deve interessar ao homem o seu vizinho, mas sim a função que ele desempenha. É verdade que não podemos separar a obra do seu autor, porém, quando eu daqui partir dirão “ o doutrinador e a sua doutrina”. Por isso, meu filho, esqueça essas preocupações de avaliação social, em termos dos componentes ativos, nesta jornada para o terceiro Milênio. Antes eu pensava porque essas Amacês não aparecem nos grandes centros, e obtive a resposta: primeiro, devido ao respeito às velhas teorias do homem, ainda é cedo para mudar estrutura; segundo, porque Jesus já respondeu a essa questão, quando considerou que as mentes dos pescadores eram mais sadias, e não quis desperdiçar o seu pouco tempo de vida na terra discutindo com os rabinos das sinagogas. Neiva parou, e o silencio se prolongava em torno dela, no crepúsculo daquela tarde calma e tranqüila. Seu olhar se alongava no infinito nas grandes coisas da vida. Havia no ambiente um misto de eternidade e doçura. Nestor o jovem Jaguar da Centúria, sentia as palavras de Neiva. Nada lhe doía mais do que quando Neiva lhe falava em partida. Porém, quando eu daqui partir. O Doutrinador e sua doutrina. Quadros lhe passaram pela memória. Neiva sempre rodeada de gente simples. Vez ou outra um “doutor” na roda. Jesus atento com aqueles rústicos pescadores. Lembrou-se de uma aula de Neiva em que ela contara um episódio da vida do Mestre: Ele chegara a casa e Maria, sua mãe, lhe preparara um aposento arrumado com carinho maternal. Para seus discípulos ela fizera um arranjo no estábulo. Pela manhã do dia seguinte, ela encontrou o aposento intacto, e descobriu Jesus dormindo no estábulo com seus rústicos pescadores.