O
acordo!
Dois
anos depois, em princípios de 1960, recebi de Pai Seta Branca a
minha primeira missão. Eram seis horas da tarde e eu, mais do que
nunca, sentia uma grande saudade. Dessa vez, porém, era algo
diferente, mais fino, alguma coisa que eu não conhecia. Fui me
sentar no alto do morro, e Pai Seta Branca chegou, começando a me
mostrar meu roteiro e por tudo que eu teria que passar na missão,
traçando, então, o meu sacerdócio, ao lado de Humarran. Senti
forte dor de cabeça e pesada sensação de mal-estar. Quando dei
conta de mim, estava diante de um velho oriental, de barba longa e
trajando uma vestimenta com capuz e mangas largas, que me disse:
-
Salve Deus! De hoje em diante você terá a força de uma raiz!...
A
partir de então, tudo ficou difícil. Às 4 horas da tarde eu me
sentia como se estivesse com uns 38 graus de febre, com a cabeça
rodando, a ponto de não me aguentar de pé. Mas, deitada, as
tonteiras se acentuavam e, numa espécie de sonho, sentia que me
desprendia do corpo, com perfeita consciência. A cada dia, eu
melhorava o meu padrão vibratório, consciente do meu trabalho.
Recebi de Pai Seta Branca novas instruções: para entrar no plano
iniciático eu teria que fazer as pazes com todos aqueles que se
diziam meus inimigos...
Então, já no terceiro ano de
conhecimentos ao lado de Humarran, segui até as cavernas, com a
missão de pedir paz e amor aos reis dos submundos. Humildemente, me
transportava até cada um deles, e lhes pedia que firmássemos um
acordo de paz, pois nossa lei não admitia demandas. Fui à presença
de sete reis, que me trataram com maior ou menor ferocidade, mas aos
quais tratei com amor e muita timidez, recebendo a concordância para
o acordo proposto. No caso de Sete Montanhas, recebi até uma grande
proposta para ficar em sua corte: ele me compraria de Pai Seta
Branca, e eu lhe prometi que cuidaria do assunto. Fiz as minhas
negociações e prossegui demonstrando tranquilidade, apesar do meu
tremendo pavor...
Era um período em que eu andava sobressaltada.
Naquela tarde, o sol não aparecia, tornando tristes os meus
pensamentos. Havia muito o que fazer, mas resolvi, por me sentir um
pouco sem forças, ir me recostar no meu velho pequizeiro. Adormeci e
iniciei um transporte. Entrei em um suntuoso castelo, onde tudo era
luxuoso, e logo fui presa por dois homens grandes, com pequenos
chifres, que me seguraram pelos braços e me conduziram à presença
de seu poderoso rei: Exu Sete Flechas.
Ele me encarou, zombeteiro,
e vociferou:
- Ela é inofensiva! Tragam-na até aqui! Já tenho
conhecimento de seus contatos.
Eu me aproximei e ele me falou:
-
Sua pretensão é muito grande em querer fazer um acordo comigo, pois
não tem sequer um povo para defender!
- Vou levantar um poder
iniciático – respondi, temerosa – e só quero fazer isso após
firmarmos um acordo, para que seu povo não penetre em minha área.
-
Já sei muito sobre suas intenções! – disse ele – Eu me
comprometo a não penetrar em sua área, mas, antes, vou fazer um
teste com você, para lhe fazer sentir a minha força.
- Salve
Deus! – eu só murmurei.
- Quero ver o tipo de proteção que
você tem. – voltou ele – Quero ver se ela vai livrá-la de mim!
Amanhã, às três horas da tarde, vou arrancar todo o telhado de sua
casa. Quero testar a sua força...
Voltei ao meu corpo, sentindo o
sabor desagradável daquela viagem.
Entretanto, a ameaça não se
concretizou.
Tornei a voltar onde ele estava, porém em outro
local, em outro salão. Ele fez o acordo, e jurou que, em verdade,
jamais tocaria em meus filhos – os Doutrinadores. Mas afirmou que
só se realizaria quando dividisse sua força comigo, e reforçou sua
ameaça anterior.
Três anos se passaram, e nada aconteceu. Até
que um dia – eu já estava em Taguatinga – tive a sensação de
perigo e me decidi a ir falar com ele. Pela terceira vez, ali estava
eu, diante dele, que me recebeu com risos e deboches, e me afirmou
que, às três horas daquela tarde, arrancaria o telhado de minha
casa.
Desafiadora, pensei:
- Ora, não tenho o que temer! Se
ele, até hoje, não arrancou o telhado de minha casa, não arrancará
mais.
Voltei, confiante, ao meu corpo.
Por volta de duas horas
da tarde, uma velha me procurou, pessoa dessas que vivem fazendo suas
cobrancinhas, e começou sua obra:
- Oh, irmã Neiva, como vai? Eu
precisava tanto falar com você! Mas, dizem, e estou vendo que é
verdade, que você não fala com os pobres...
Eu fiquei possessa
com a velha, por sua ousadia em me falar daquela forma, e, assim,
baixei minha vibração! Foi o suficiente: ouvimos o estrondo do
telhado e foi tudo pelo ar!
Pensei:
- Neiva, fracassastes
depois de tantas instruções!...
Voltei há três anos, e entendi
que aquilo era mais uma experiência. Salve Deus! Ficara decepcionada
com o Exu Sete Flechas e estava sempre preparada para seu ataque, mas
falhara. Passei, então, a fazer uma preparação, quase um ritual,
para entrar em uma caverna. Tia Neiva em “Minha Vida, Meus
Amores”
Ainda dentro deste tema podemos encontrar outras
passagens:
A Lei Negra é uma espécie de máfia, um grupo imenso
de malfeitores, do mundo invisível, e, como sua similar no plano
físico da Terra, ela escraviza seus membros, que ficam quase sem
possibilidades de libertação.
Suas falanges são alimentadas e
crescem, à custa dos espíritos nômades e sem protetores. E tudo
isso acontece por opção do próprio espírito, guiado por seu livre
arbítrio.
Sempre que um espírito termina seu estágio na Pedra
Branca, onde ele tem a oportunidade de conhecer a verdade sobre si
mesmo, seus Mentores lhe dão toda a assistência e lhe mostram o
verdadeiro caminho. Mas a decisão é dele, e sua chance permanece
até o último instante. Se ele tomar a decisão errada, acaba por se
tornar vítima da Lei Negra.
Existem uns espíritos no submundo
invisível que se chamam Exus Caçadores. Eles ficam à espreita e
aguardam as decisões dos espíritos recém desencarnados. Assim que
os Mentores desistem, eles entram em ação. Aproximam-se do
espírito, seduzem-no, e o levam para suas cavernas. Lá, esses
espíritos são submetidos a todas as sevícias e começam pesado
treinamento naqueles costumes, até se tornarem exus. Tia Neiva em
“Manoel Truncado”
Como você sabe, Neiva, os exus são um
pouco produto da ganância dos seres humanos. As invocações e
chamadas só fazem aumentar suas forças. O médium que os invoca
lhes dá oportunidade de se afirmarem nas suas metas, e isso nada tem
a ver com a Umbanda! Mestre Amanto, sem data
Não há qualquer
espírito que passe por nossos trabalhos do qual não se faça a
entrega obrigatória! Nosso trabalho é exclusivamente de Doutrina!
Não aceitamos, em hipótese alguma, palestras, nos Tronos deste
Templo do Amanhecer, de Doutrinadores com entidades que não sejam os
nossos Mentores, espíritos doutrinários!
Mesmo fora do Templo,
consta-me que os Doutrinadores que palestraram com exus, etc.,
atrasaram suas vidas, pois eles não se afastaram de seus caminhos. A
obrigação do Doutrinador é fazer a doutrina, conversando
amigavelmente com o espírito, procurando esclarecê-lo, continuar
seu amigo, porém fazer sua entrega obrigatoriamente, com o que
ressalva sua responsabilidade perante os Mentores.
Outros
Doutrinadores estão com suas vidas atrasadas simplesmente por sua
irreverência com os Mentores, acendendo para estes duas velas,
saindo fora de seu padrão doutrinário. Entre eu e os exus há um
laço de compreensão e respeito mútuo. Porém, um Doutrinador, por
não ser clarividente, não está em condições de dialogar com
eles, exceto no âmbito da Doutrina. Tia Neiva,em 07 de maio de
1974
Ora, um exu é um espírito como outro qualquer, geralmente
um homem de bem, um pai de família que desencarnou normalmente. O
que os torna diferentes no mundo dos espíritos é que são cultos,
cientistas, doutores, enfim, pessoas de posição.
Desencarnam
irrealizados, cheios de pretensões, agnósticos, descrentes das leis
do Cristo. Como não crêem em coisa alguma, não aceitam as coisas
simples. Tão pronto desencarnam, são atraídos para a companhia de
entidades experientes na manipulação de forças.
Não existem
forças do mal ou forças do bem. Existem, simplesmente, forças, que
são empregadas no bem ou no mal. Depende de quem as controla, e como
as controla.
Depende do plano de trabalho, da camada onde eles
operam. Geralmente, esses espíritos não conseguem atingir mais que
um plano inferior, próximo da superfície terrestre, onde as forças
são densas, animalizadas. Não aceitando o Cristo, a Lei do Amor e
do Perdão, não sintonizam com as forças do astral. A não ser
aqueles que lidam com a Magia Negra, que manipulam forças
extraordinárias – às vezes com a bênção de Deus – a maioria
deles trabalha mesmo é com o magnético animal – ectoplasma
humano, mediunidade. Tia Neiva em “Sob os Olhos da Clarividente”.