A alma humana é o produto da evolução da força através do reino de sua natureza.Neiva Zelaya
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Canal Vermelho
Quando ainda estava no Tibete, Jesus estabeleceu as Casas Transitórias (*) e, entre elas, o Canal Vermelho, o primeiro degrau celestial, um mundo etérico que recebe os espíritos da Terra e onde esses espíritos passam pelos diversos estágios que necessitam para sua progressão, compreendendo as várias fases que vão desde a recepção após deixarem Pedra Branca (*), quando desencarnaram, até a nova programação para seu reencarne, passando pelos muitos estágios de recuperação.
Seu nome se refere à sua posição, como se fosse uma ligação, um canal entre o Céu e a Terra, e sua tonalidade vermelha é por seu poder desobsessivo e da recuperação da sensibilidade e de conhecimentos dos milhões de espíritos que ali estão em fase evolutiva. É muito parecido com a Terra, mas tem muito mais coisas que, realmente, nos surpreendem, com reencontros, recordações, remorsos, mas também muita esperança, amor!...
Segundo Koatay 108, o espírito pode ficar até o correspondente a sete anos terrestres no Canal Vermelho, percorrendo seus vários planos. Há hospitais, albergues e até mesmo cavernas, para onde o espírito, ao chegar, se dirige na sintonia da faixa vibratória que conquistou em sua jornada na Terra.
O Canal Vermelho é o caminho da evolução. Oferece oportunidade de um espírito ajudar seus entes queridos que deixou na Terra. Há muitos casos de desencarnados que trazem restos de seus carmas a serem eliminados, e isso é feito através do resgate pelo seu trabalho na Lei do Auxílio.
No Canal Vermelho o espírito faz sua recuperação e quando sente a necessidade de reencarnar, consulta seu Mentor, que avalia suas condições e, se favoráveis, dá início ao plano reencarnatório, propiciando o roteiro para sua reencarnação.
O Canal Vermelho é um verdadeiro mundo, com sete planos evolutivos, que surpreendem um espírito que consegue manter sua consciência. Seu conjunto varia de acordo com cada plano, havendo, por exemplo, nos planos intermediários, cidades de aspecto artificial, com belos e enormes jardins, praças, pontes, grandes edifícios e uma vida complexa, iluminadas por uma luz que varia em vários tons de lilás. Tia Neiva sempre nos advertiu para a grande importância do Canal Vermelho para nós, pois poderemos, de acordo com o nosso procedimento, ter condições de retornar directamente a Capela!
Existem muitos lugares com actividade bem definida, como UMATÃ, local para a adaptação e recuperação dos espíritos que, na Terra, frequentavam diversas religiões e doutrinas, tais como seguidores da Umbanda, Candomblé, Protestantismo, Catolicismo, etc., e a TORRE DE MARCELA, no limiar do Canal Vermelho, um conjunto arquitectónico que se parece com as habitações da Terra, separadas uma das outras por campos de força e onde um habitante de campo vibratório diferente não penetra a não ser que o morador o permita.
Nossa grande actividade, na Doutrina do Amanhecer, está ligada aos planos do Canal Vermelho. O Jaguar quando dorme, estando em condições de trabalhar, isto é, com vibrações elevadas e com seu Sol Interior equilibrado, se desdobra e vai até o Canal Vermelho, levando seu magnético animal para tratar aqueles espíritos, liberando energia vital iniciática que propiciará a libertação de inúmeros sofredores.
Por isso, uma das restrições da Corrente é o uso do álcool (*), pois por menor que seja a quantidade ingerida, o médium não poderia trabalhar no Canal Vermelho, porque estaria liberando uma energia envenenada.
Na obra “Meus Primeiros Passos no Canal Vermelho”, Tia Neiva conta, na primeira parte - A Adúltera - sua visita a esta Casa Transitória, levada por Amanto (*), que lhe explicou estar na camada etérea da Terra, no invisível do planeta, aquele mundo dos espíritos desencarnados que ainda não tinham condições de chegar às estrelas ou ao planeta-mãe. Amanto mostrou-lhe as longas filas de espíritos que aguardavam seus embarques para as casas de recuperação, espíritos que já não precisavam ficar ali por terem chegado à consciência de serem desencarnados, de terem completado seus programas na Terra, seus reajustes.
Amanto prosseguiu: estavam ali apenas para completarem seus tempos e receberem alguma disciplina; no Canal Vermelho as paixões ainda vibram, mas tendem a se extinguir; é uma Casa Transitória com condições técnicas especiais, pois tem comunicação directa com o plano físico, o que permite a transferência do ectoplasma humano directamente por seus portadores; com esse fluído os reajustes podem se completar em condições muito semelhantes às da Terra física; os médiuns activos, quando vão dormir, se transportam ao Canal Vermelho, levando preciosa energia mediúnica, continuando ali, à noite, as tarefas que haviam iniciado durante o dia, na Lei do Auxílio.
Amanto explicou: “O tempo do presente ciclo da Terra está quase terminado e, com isso, todas as actividades estão se acelerando. Milhões de espíritos ainda têm que completar seus reajustes e a tarefa dos Mentores Espirituais é imensa. Não existem na Terra trabalhos de passagem o suficiente para dar conta de tantos espíritos; a doutrinação é incompleta, o ectoplasma não dá e o tempo dos trabalhos é curto demais. Por isso, os engenheiros siderais construíram canais como esse. Particularmente, esse canal se comunica directamente com o Vale do Amanhecer. Quando o doutrinador faz uma entrega e o espírito ainda não está pronto para Mayante (*), este vem directamente para um dos departamentos do Canal. Na primeira oportunidade, que pode ser na mesma noite ou algum tempo depois, o doutrinador vem completar sua doutrina. Ele, como encarnado, tem a capacidade de trazer consigo seu ectoplasma. Devido à semelhança do ambiente, o espírito ainda se sente na Terra e fica mais susceptível de receber a doutrina. É por isso que dizemos que o Templo do Amanhecer trabalha vinte e quatro horas por dia!”.
E a explicação continuou, dizendo Amanto que o Canal Vermelho é, em certo sentido, uma extensão da Terra, embora tudo ali seja matéria etérica, de outra natureza, outra dimensão; mas, da mesma forma que na Terra física, as energias que suprem aquela Casa Transitória são oriundas do Sol e da Lua.
Amanto levou Tia Neiva, que estava extasiada com a simetria das árvores, a relva verde e aparada, com algumas flores amarelas, semelhantes a margaridas, até um prédio imenso, com um letreiro luminoso informando ser ali o “Credo Universal”, e logo depois “Umbanda”. Tia Neiva viu que se formava uma fila para entrar, embora aqueles espíritos aparentassem indecisão. Amanto falou que aqueles eram médiuns umbandistas, recém-chegados da Terra, que haviam cometido faltas contra as leis da Umbanda, por terem comercializado sua mediunidade. Agora, iriam sofrer um pouco, iriam se consciencializar, até que chegassem seus cobradores para o reajuste. Esses cobradores seriam as pessoas que lhes deram dinheiro e os Exus com quem trabalharam. “Como você sabe, Neiva, os Exus são um pouco produto da ganância dos seres humanos. As invocações e chamadas só fazem aumentar suas forças. O médium que os invoca lhes dá oportunidade de se afirmarem nas suas metas, e isso nada tem a ver com a Umbanda!” - disse Amanto.
1* “Eu estava no Canal Vermelho quando um certo homem, vindo da Terra, passou, aliás, sem me conhecer e nem conhecer ninguém.
Alguém, perto de mim, comentou:
“Olha, Tia Neiva, este homem! Veio recentemente da Terra. Ainda tem a aparência de físico. Este homem sofreu tanto... Foi caluniado pelo seu vizinho e terminou seus dias na prisão. Perdeu a família! Sim, filhos, mulher... É terrível o mundo de expiação!”
O senhor o conhece? - perguntei.
“Não, Tia Neiva, aqui a própria aura esclarece tudo e, assim, sei!”
Pensei: se assim na Terra fosse, logo se consertariam tantas mentiras!...
Lembrei-me de mim e dos meus consulentes.” (Tia Neiva, 20.11.80)
2* “E vendo aquele mundo de gente, pensei em um por um deles.
Humarram, vendo o meu pensamento, foi logo dizendo:
- Sim, as coisas de Deus são assim. Na Terra, todos têm seu encaminhamento e, aqui, muito mais. Veja ali, na Ponta Negra! Olha o Vale Negro, lá em baixo...”
Lá havia comícios de todo jeito. Gente eufórica, se maldizendo e vibrando em outros aqui na Terra. Um triste espectáculo.
Aquele trabalho era constante. Grupos enormes fazendo Abatás, outros emitindo aqueles enormes sermões.
Humarram me despertou, dizendo que eu visse que aqueles sermões não eram os mesmos todos os dias, e que ajudavam àquele povo. (...)
De repente, estávamos em frente ao grande Yumatã. É um lugar no Canal Vermelho que, de quatro em quatro horas, muda a iluminação aqui. Ao longe via as torres dos grandes Oráculos destinados a esta obra: Obatalá na força de Simiromba e Apará nos grandes poderes de Olorum.
Fiquei encantada com aquele rosário de luzes que envolvia aquele mundo mágico.
- Breve estará aqui, filha, apesar de sua estrada ser outra - disse Humarram.
Sim, meu caminho é singular. Passar por outra estrada, mas na bênção da consagração de Olorum e Obatalá!” (Tia Neiva, 11.9.84)
3* “Quero deixar bem esclarecida a Vida além do mundo físico.
Fui levada por Humarram, há muitos anos, para ver o quadro de uma enorme família que chegava da Terra. Interessante aquele grupo que viera por força de um desencarne em massa. Todos se organizaram: chegaram ricos e logo compraram suas mansões.
Perguntei a Humarram:
- Onde conseguiram dinheiro?
- Conseguiram na luz dos seus bónus!
- E o que fizeram para ganhar bónus?
- Fizeram amigos na Lei do Auxílio, respeitosamente tiveram suas consagrações ou sacramentos; com respeito e amor ajudaram os outros; tiveram tolerância com seus vizinhos e demais comportamentos que não fizeram sofrer os outros.
Sim, é fundamental a tolerância para os que estão em jugo. Precisamos ter muita paciência com os demais. Dessa paciência é que vem o amor - o amor incondicional.
Cresce dentro da gente uma vontade muito grande de protecção.
E Deus faz com que nossos filhos sejam as nossas vítimas do passado. Mesmo porque o Homem-Pai amolece o seu coração no desejo de protegê-los. Pai na totalidade, o Homem ainda tem o seu coração muito duro. (...)
A grande família estava no Canal Vermelho e caminhava em sua missão. Enquanto isso, a cada dia chegava um atrasado e ia ficando por ali.
- Por que tudo isso?
Humarram me respondeu:
- Porque os espíritos só vão para sua Origem Colonizada quando chega o último membro e quando não mais tem inimigo em seu povo!
(Tia Neiva, 11.9.84)
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Os trabalhadores da última hora
Os trabalhadores da última hora
“Assim, os
últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos,
porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos.
(S. Mateus, cap. XX VV 1 a 16).
(S. Mateus, cap. XX VV 1 a 16).
A
interpretação desta passagem do Evangelho de S Mateus, pela
Doutrina Espírita, quando bem entendida, traz mais um dos tantos
benefícios consoladores aos que anseiam por definir rumos mais
ditosos em suas vidas.
Na
parábola dos Trabalhadores da Última Hora, o Mestre Jesus compara o
proprietário de uma vinha ao Pai Maior e os trabalhadores a seus
filhos, nós todos.
Bem
entendida, a parábola nos esclarece que as oportunidades de trabalho
surgem sempre a todos, mesmo em horas tardias, e que se atendido este
convite, que chega sempre em hora certa, a paga será compensadora,
visto que estivera o trabalhador sempre pronto.
Já nos diz o
espírito André Luiz no livro Nosso Lar, psicografado por Chico
Xavier: “Quando o trabalhador está pronto, o serviço aparece”.
Falamos
sim do trabalho que a Doutrina Espírita oferta a todos que se dispõe
a divulgá-la e a vivê-la.
Assim
como um profissional especializado precisa de uma formação, de um
treinamento para iniciar seu trabalho de forma produtiva e eficiente,
dá-se o mesmo com aquele que poderá servir ao Cristo Jesus, seja em
que âmbito for, na divulgação e testemunho do Seu Evangelho.
E
para a Doutrina Espírita não é diferente.
Em
sua célula básica de divulgação, a Casa Espírita, tem-se a
oportunidade de inicialmente usufruir dos benefícios que esta lhe
alcança e, posteriormente, se aceito o convite que lhe for feito,
contribuir para a continuidade das actividades da Casa.
Como
em qualquer organização humana, existem muitas tarefas que podem
ser realizadas em uma Casa Espírita, cuja preparação não começa
quando do início do convívio, mas muito antes, quando o mundo
espiritual nos guia e nos oferta trilhas, algumas tortuosas mas
necessárias, para que possamos passar pela vinha do Amor.
Nessa
“Casa do Caminho” que por vezes nos demoramos para descansar de
algum sofrimento, realinhando nossa trajectória pessoal, podemos
encontrar o amparo redentor que a caridade de um trabalho voluntário
nos traz, e cujo valor ainda não conhecíamos.
Podemos
experimentar as tarefas mais simples, colocando nossa humildade em
prática, enquanto nos aprofundamos nos virtuosos conhecimentos da
Codificação Kardequiana.
Sendo
pequenos, mas fazendo parte de um todo maior, sentiremos a felicidade
de estarmos apenas colaborando, sem nada esperar em troca.
Podemos
experimentar aquela sensação de fazer parte de um grupo que visa
somente o bem do próximo, anulando nosso personalismo e por vezes
até com a sublime sensação de sermos percebidos apenas como
instrumentos de amor do Pai.
Muitas
vezes nós nos surpreendemos pensando: “não tenho condições, não
sou capaz”, ante uma oportunidade de sermos úteis.
Este
momento é delicado, pois é o Pai que nos conclama a sermos os
“trabalhadores da última hora”.
Se
nos refugiarmos em justificativas que sabemos vazias, aí sim a paga
nos será menor quando finalmente nos decidirmos a seguir o caminho
da fraternidade, que chega-nos cedo ou tarde.
A
Casa Espírita é, como outras obras de amor, semelhante a vinha da
parábola, aguardando quem nela trabalhe na semeadura, e na colheita.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
O Tempo de cada um
O
tempo de cada um
Não
podemos exigir a evolução de ninguém de acordo com nosso próprio
tempo de compreensão. Cada um possui seu tempo, vinculado
directamente a transcendência de seu espírito.
Ingressar
em nossa Doutrina não significa que a pessoa está evoluída ou que
imediatamente passará a ser mais compreensiva, tolerante e humilde.
Significa apenas que “está a caminho”!
Por
vezes insistimos em nos decepcionar com nossos irmãos de fé que
ainda gatinham na compreensão das mensagens deixadas por nossa Mãe
Clarividente. Muitos vivem seus dramas pessoais intensamente e sofrem
por não conseguir separar suas personalidades da Individualidade que
deveria prevalecer dentro do Templo.
Estão
a caminho... é o quê importa! E, estar a caminho não determina um
tempo “x” para que despertem a Individualidade, apenas estão a
caminho! Alguns despertam para a essência evangélica de nossos
ensinamentos em poucos dias, outros levam meses e existem os que
levam anos, décadas, se debatendo com os próprios karmas, levando
suas dores para dentro do Templo, onde deveriam assumir, na verdade,
o compromisso de cuidar das dores alheias.
Iludem-se
que entrar para a Doutrina lhes trará a solução de todos os seus
problemas, que podem ter estabilidade material e emocional. Que podem
“ter dinheiro” ou “encontrar sua alma gémea”. Não é assim!
Assumir
um compromisso de trabalhar espiritualmente significa: trabalho!
Trabalho e mais trabalho.
Obviamente
ao tratarmos das dores alheias passamos a ter maior compreensão,
mais tolerância, pois deveríamos passar a analisar cada lance da
vida com novos olhos. Deveríamos sempre olhar o quê os outros não
atinam imediatamente. Podemos analisar com o conhecimento dos
dois planos!
Ao
nos tornarmos mais afáveis, tolerantes, compreensivos, passamos
também a atrair pessoas melhores para nossas vidas, oportunidades
melhores, que antes não eram visualizadas por conta de nosso
negativismo. Já repararam que quando você está reclamando de algo,
logo aparece outra pessoa reclamando mais? Até quando fica falando
que está com dor de cabeça, logo aparece outro dizendo que a dele
dói mais? Reclamamos de problemas financeiros e nos juntamos com
outros ainda mais “quebrados” que nós.
Porém,
ao olharmos a vida sob a óptica deixada por Tia Neiva, elevamos
nosso padrão vibratório, ficamos “mais positivos”, e passamos a
atrair naturalmente o bom e produtivo para nossas vidas.
A
mudança vem de dentro para fora. Pela consciência e compreensão é
que podemos mudar nossas vidas e sermos felizes. Não é você
entrando para a Doutrina que tudo vai mudar, é a Doutrina entrando
em você e lhe auxiliando a promover a necessária mudança interna,
que naturalmente se reflectirá no seu exterior... em sua vida
material, em sua vida amorosa, em sua saúde...
Pare
de reclamar, de julgar os outros e olhe para dentro de si mesmo!
Entenda que também cada um tem seu tempo e, se você conseguir
despertar com este pequeno texto, não queira exigir que o outro
também desperte.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Formação da UESB 03.11.1959
FORMAÇÃO DA UESB
03.11.1959
Recebemos, eu e
meu companheiro Getúlio, ordem espiritual para virmos aqui morar e
junto a nós veio um bom servidor de Deus - António, o Carpinteiro,
como o chamavam os espíritos.
Meu companheiro,
Getúlio da Gama Wolney, e António começaram a trabalhar
desesperadamente nas construções de prédios de madeira para
morarmos, enquanto eu, Gilberto, Raul, Carmem Lúcia e Vera Lúcia,
saíamos em busca do ganho material: com um pequeno veículo
vendíamos, em Brasília, roupas feitas e bijuterias, e só mesmo com
a protecção de Deus fazíamos boas vendas e todos os dias, ao finar
o dia, eu e meus filhos nos reuníamos e repartíamos o dinheiro.
Metade era para comprar géneros alimentícios, e com a outra metade
comprávamos gasolina e tecidos, para que eu e Wilma - a esposa do
António Carpinteiro - os transformasse em saias de senhoras, enfim,
roupas feitas. Trabalhávamos à noite e seguíamos no outro dia,
depois de um almoço cedo. Como todos sabem, o pouco com Deus é
muito!
Em poucas horas,
coisa mesmo de admirar, lá vínhamos eu e meus filhos, no mesmo
regime do dia. E assim passaram os dias, os meses. A caridade já me
tomava parte do ganho material.
E os visitantes!
Já podia contar 20 ou 30 pessoas nos domingos, para almoços e
jantares que eu me via obrigada a servir, pois os mesmos se
acomodavam em minha casa.
Meus Deus - pensei
muito -, será possível que só escolhestes avarentos e acusadores?
Que Deus me perdoe por meus instantes de dor, quando me faltava a
compreensão ante aqueles exploradores! Comecei a sentir desprezo
pela vida material. Eles estragavam sempre os meus planos. Quantas
vezes eles chegavam e, na minha própria casa, ali comodamente,
começavam a discutir, recriminando tudo o que, com sacrifício,
fazíamos eu e meu companheiro.
Nada dizíamos.
Era mesmo horrível. Eu olhava ao redor e via, na verdade, material
para construirmos. Porém, via também que os trabalhadores
precisavam comer. Alguém teria que sustentá-los.
Fui então vendo
todo o sofrimento dos meus filhos e do meu companheiro Getúlio. Já
sem entusiasmo, continuava eu. A caridade se alastrava, com bela
emanação, aos que não a conheciam. A luz da Verdade começava a
reluzir nas iniciais que comandava aquela terra sagrada - UESB!
Enquanto lutávamos
para o nosso infeliz sustento e grandeza da obra, outros se reuniam
até mesmo na minha casa, e ali ficavam a ofender nossa Irmã Neném
(Directora Espiritual), que também, àquela altura, tinha vindo
residir aqui.
Eram horríveis os
nossos primitivos cobradores! Todos se revoltavam... Todos começavam
a vibrar a inquietude da revolta íntima. Muitas vezes
desencadeavam-se discussões e, muitas vezes conheci o ódio nos
corações de alguns. Porém, com toda aquela incompreensão quem
mais sofria era eu! Tudo desencadeava em mim, na verdade, além de
todas as torturas que pensam sentir os pobres sem compreensão que
desejam servir a Deus.
Sentia eu também
pela rebeldia de não gostar de morar no mato, a falta de conforto
material, a mudança de profissão, ver arrancados dos estudos os
meus filhos. Tudo era tortura para mim e meu companheiro. E pelos
mesmos trilhos passava a Irmã Neném com os seus filhos.
António
Carpinteiro e nós todos víamos chegar, batendo em nossas portas,
nossos velhos credores antepassados, nos cobrando centil por centil.
E assim pagávamos, sem as forças necessárias do bom trabalhador em
Cristo.
Os tempos passavam
e eu, com o mesmo ideal de vencer, continuava também no mesmo
comércio, porém em dias alternados, pois a caridade não me dava
mais tempo. Chegavam aqui pessoas de todos os lugares, com
enfermidades para serem curadas. E Deus me dava forças nesta Terra,
fazendo assim as mais perfeitas curas.
Devido a essa
enchente de pessoas, marquei uma taxa a ser paga pela pessoa que
tomasse refeições no bendito abrigo que chamávamos de “hotel”.
Esta taxa era de 40 cruzeiros por dia. Na maioria, eram indigentes, e
eu os sustentava, sem qualquer ajuda que não fosse lançada em meu
rosto ou alegada por toda parte. É muito fácil oferecer alguns
quilos em géneros alimentícios. Porém, oferecer o próprio
sustento dos filhos, tirando-lhes a metade do que lhes é justo, e,
em amor do Cristo, oferecer a quem pensamos ser um estranho, não é
fácil, meus irmãos!... E eu o fiz!
Carmem Lúcia,
minha filha de 15 anos; Gertrudes, minha filha adoptiva; Marly, filha
de nossa querida Directora Irmã Neném, uma linda jovem bacharela, a
todas eu incentivava ao trabalho na cozinha para os doentes. Muitas
vezes sentia medo que elas se envaidecessem com os elogios dos
visitantes.
Certo dia, após
uma de minhas incorporações, recebi da Directora uma ordem que
teria sido dada pelo espírito secretário do nosso Pai Espiritual
Seta Branca, espírito este a razão porque ali vivíamos assim, e
que teria dito que eu e meu irmão Jair teríamos que entregar nossos
veículos em troca de um possante motor gerador de força eléctrica.
Não titubeamos e,
assim, eu e meu bom irmão, que foi para mim uma força ajudadora,
entregamos os nossos tão úteis carros. Começou, então, a piorar a
minha situação material.
Senti que devia
preparar-me para receber as avalanches...
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