O suicídio é um ato
condenado em quase a totalidade das religiões e doutrinas, uma vez
que a vida não pode ser interrompida pela vontade da própria
pessoa. Isso inclui a eutanásia, que é a morte provocada para
evitar sofrimentos de doenças fatais e incuráveis.
Sob o ponto de vista de
nossa Doutrina, há alguns aspectos a considerar.
O primeiro, que
compreende a eutanásia (*), mostra o desconhecimento da Lei do
Carma, e corta as oportunidades que aquele espírito oferece a si
mesmo e aos que estão ao seu redor para reajustes transcendentais,
às vezes os mais importantes para o plano reencarnatório daquele
espírito. Em seu leito de dor, dependendo do carinho e cuidados dos
outros, aquele espírito se reajusta e alivia seu carma e oferece
condições para que seus cobradores também possam se reajustar.
Com a morte abreviada por
métodos científicos, ele corta esse quadro, mergulhando geralmente
no desespero de uma obra inacabada. Isso caracteriza uma violação
das leis dos planos etéricos.
Existe, também, aquela
pessoa que sabe que não pode fazer algumas coisas, sob risco de
morte, e as faz continuadamente, tal como fumar, beber ou ingerir
drogas. No fundo, existe uma forte vontade de autodestruição, um
suicídio a médio ou longo prazo.
Um outro aspecto do
suicídio é aquele que dá a vida para salvar outra. São muitos os
casos assim caracterizados, um sacrifício que provoca infindáveis
discussões, sem que se consiga uma resposta adequada, uma vez que
são usadas as mais variadas formas de julgamento.
O que sabemos é que a
ninguém é facultado morrer ou não, pois temos um plano
reencarnatório para ser cumprido, onde escolhemos quando e como
desencarnar.
Quando, abatido pelo
desânimo, alguém decide abandonar a vida, está agravando seus
sofrimentos ao invés de se aliviar. Quem pensa que pode se livrar de
situações angustiosas e do sofrimento pelo suicídio vai ver que,
após a morte de seu corpo físico, continuará vivo e terá que
arcar com as conseqüências do seu desvario.
Todavia, há condições
extremas de tensões emocionais que podem levar ao total
desequilíbrio do sistema nervoso do Homem, levando-o à privação
de sentidos que o levam a matar, inclusive a si mesmo!
Um importante fator a ser
levado em consideração, em qualquer situação que leve a um
suicídio, é a obsessão exercida por um espírito desencarnado e
que, muitas vezes, conduz uma pessoa a esse gesto extremo.
Neste caso, a
espiritualidade sabe que aquela ação não foi cometida fria e
premeditadamente, e a aceita e dá uma nova oportunidade àquele
espírito, que deverá cumprir outro tempo na Terra, reencarnando
pelo tempo necessário ao cumprimento do que fora planejado.
- “Estava na minha frente, para ser consultada, uma bela senhora de cerca de 40 anos, recentemente viúva de um suicida. Junto com ela estavam sua sogra, um jovem aparentando 18 anos - um belo rapaz com um futuro prometedor - e uma jovenzinha me parecendo leviana, porém de bom aspecto. Vi que se tratava de uma família.
-
Veja o que pode fazer pela minha sogra, Tia Neiva. Vim para
consolá-la, porque Lúcio se suicidou e ela está sofrendo muito
(Lúcio era filho da anciã). Ela está me dando muito trabalho. Vê
se a faz esquecer, faça qualquer coisa que me dê sossego!
-
Sim, - disse a anciã - a minha maior dor é saber que meu filho não
tem salvação. Foi tão bom!... Não sei como pode fazer isso!
A
viúva arrematou depressa e com desprezo pelo marido:
-
Deixou-nos na pior situação. Enfim, traumatizou todo mundo!
Disse
o rapaz:
-
Sim, Tia Neiva, pelo amor que meu pai tinha por nós não é fácil
entender o que ele fez e nem tampouco para mim e minha pobre mãe
viver sem ele. Foi horrível o que passei, pois, no fim, ele mostrou
que não gostava mesmo era da gente, Tia Neiva. Minha avó, coitada,
pensa no quanto ele irá penar. Nisso eu não acredito muito, pois
sei que Deus não irá deixar, porque ele era bacana mesmo,
compreendia a mim mais do que todo o mundo. Quando eu não estava
satisfeito com as coisas da mãe, ele sempre me dizia que o filho que
não gosta da mãe nunca se realiza. Era bacana mesmo... Não sei
como foi tão fraco!
Depois,
ficamos calados, só ouvindo os soluços da vovozinha.
-
São os restos do carma, logo a senhora estará com ele - disse eu
com tranqüilidade e falando com carinho à pobre sogra.
A
viúva começou a tagarelar sem parar e sem qualquer sentimento de
amor.
-
Como, Tia Neiva? - falou a anciã - A senhora não entendeu que ele
se suicidou? Deu um tiro nos miolos, e agora só Deus sabe por onde
anda meu filho!... Meu pobre Lúcio! Não sei. Um homem tão culto...
Quis ser médico, e foi. Quis seguir a mesma profissão do pai, pobre
pai, pobre marido meu, que Deus o tenha também em bom lugar. Era
como Lúcio, seu filho, um homem bom. Morreu do coração. Foi um
golpe duro para mim, porém não tão duro como este do meu filho.
Sim, Tia Neiva, o meu mal foi ter me casado com outro. Não dei
satisfações ao meu Lúcio e este atual marido não combinava com
ele. Por causa deste infeliz, Lúcio estava afastado de mim. Lúcio
saiu de casa e só voltou quando ele foi embora. Será, Tia Neiva,
que foi por isso que ele se suicidou? Guardou toda a vida esta mágoa?
-
Será que não foi pelos atritos com Lúcio Júnior? - perguntei.
-
Não, - respondeu a anciã - ele até queria a grande herança de meu
marido. Lúcio, coitado, ficou decepcionado comigo. Sempre que podia,
me falava: o Homem nunca pode pensar nos defeitos da mãe. Mas ele
sempre me beijava, ria e ficava por isso mesmo. Acredito que era só
da boca para fora.
Terminado
o diálogo, vi que o pobre suicida se fora para evitar desgraça
maior, pois o quadro daquela gente era o pior possível! Somente o
jovem sofria, pois perdera o pai para se salvar.
Chamei
o Tiago e recomendei um trabalho. Fiquei observando se Lúcio se
manifestava por ali, porém ele não veio. Obsessor? pensei. Fui,
então, encontrá-lo no Canal Vermelho.
Aproximei-me
dele e disse:
-
Estive com sua família, seu filho e sua filha, seus dois filhos.
-
Só tenho Fernando e Fernanda. O que Fernando pensa de mim? A senhora
sabe?
-
Sei - respondi - bem como também sei o que o levou ao suicídio.
-
Falou com ele? - perguntou-me desesperado.
-
Não, tenho um juramento na Terra que me obriga a respeitar os
sentimentos dos outros e seria incapaz de denunciar alguém.
-
Fui suicida e, no entanto, aqui, ninguém me condenou por isso.
-
Sim - disse eu - foi aquilo que eu aprendi: a respeitar os outros.
- E
minha mãe?
-
Sua mãe, Lúcio, sentiu e sente a maior dor!
-
Meu Deus!” gemeu Lúcio.
-
Lúcio, sua mãe optou pelo homem que amou, quando você partiu pela
primeira vez, e a mãe não tem porque optar senão pelo próprio
filho.
-
Sim, Tia Neiva, foi horrível no dia que meu padrasto me esbofeteou,
na frente de minha mãe, dizendo que ele ou eu ficaria naquela casa,
e minha mãe disse que ia me levar para a casa de minha avó, mãe do
meu falecido pai. Tive uma decepção tão triste que nunca mais me
recuperei, apesar de todo o carinho de minha avó. Minha mãe não me
quis, preferiu ficar ao lado do homem a quem amava. Mesmo
traumatizado e cheio de tristeza, casei-me. Minha esposa parecia me
amar muito. Tivemos dois filhos maravilhosos, Fernando e Fernanda.
Tudo corria aparentemente bem. Foi então que entrando na casa de
Marcelo, meu maior amigo, ouvi a voz de Edna, minha esposa. Marcelo
veio ao meu encontro e perguntei de quem era aquela voz. Ele gaguejou
e disse que não era ninguém. Desci e fiquei em frente à casa, até
que saíssem. E quem saiu foi ela, a própria Edna! Fiz uma viagem,
porém aquilo não saía de minha cabeça, pensando em tudo que um
homem traído em seu casamento pode pensar. Ela não se modificou e
Marcelo também persistiu no erro. Eu não quis mais ver o que estava
acontecendo. Tive vontade de matar os dois, porém decepcionar
Fernando com sua própria mãe não era possível. Se eu morresse,
ele nunca ficaria sabendo da sua traição. Pensei comigo: se tudo
estiver bem para Fernando, espero aqui o que Deus quiser. Deus há de
me perdoar por minha pobre incompreensão. Tenho certeza de que, um
dia, Deus me perdoará!
É
verdade, pensei. Fernando estava sem complexos, vivendo sua vida e
amando ainda mais sua mãe. Estávamos bem, quando ouvimos a
campainha da chamada.
-
Está vendo para onde irei? - perguntou-me Lúcio.
-
Você vai para o outro lado deste Canal - respondi.
Ele
partiu, e soube que tinha ido para reencarnar e pagar na carne o seu
erro de se suicidar. E qual a sua pena? Voltará com uma forma de
disritmia.
Perguntei
quem seria sua mãe. Sua mãe será novamente a mesma velhinha,
porque rejeitou o direito de criá-lo, fazendo assim seu primeiro
trauma, por ter preferido o homem que amava, deixando que ele fosse
para a casa de sua avó.
O
desequilíbrio de uma mãe desajusta uma família.
No
outro sábado, aquela família voltou para falar comigo e, vendo-os
sentados à minha frente, tive vontade de dizer tudo: que tinha me
encontrado com Lúcio no Canal Vermelho e que era ela a única
responsável pela sua morte.
Como
sempre me limito, apenas, a proteger, porque entreguei meus olhos a
Jesus para nunca escravizar ninguém com palavras ou por insinuações,
e muito menos por julgamento.
Fico
frustrada pensando nas palavras de Pai Seta Branca: ajudar, comunicar
sem participar, não dividir nem tomar partido das pessoas!” (Tia
Neiva, dez/79)
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