-Calma, calma, Neiva. Não se esqueça que na vida, quando você está esperando o céu, a terra está esperando por você.
A situação ia ficar fora de controle novamente quando apareceu um casal de Pretos Velhos, Pai João e Mãe Tildes. Com um ar tranqüilo e seguro eles disseram: “Está tudo bem, minha filha, tudo bem, a sua filha Carmem Lúcia é a Marcinha, filha de Márcia, um bom espírito que está em grandes alturas. Mas ela está preocupada com o que está acontecendo aqui, principalmente com sua filha. A intenção dela é levar a menina consigo para os planos espirituais”. Ao ouvir isso fui novamente tomada e me lancei contra Carmem Lúcia num gesto de obsediada. Estava muito incorporada, muito mesmo. Acordei, como se viesse de uma longa viagem. Custei a tomar pé da realidade e a primeira coisa que vi foi uma seringa de injeção na mão do Dr. Calado. Esse médico, desmentindo o seu nome, falava demais. Tornei a incorporar. Não sei quanto tempo fiquei apagada. Quando voltei novamente a Carmem Lúcia estava sentada no meu colo com ar de tranqüilidade e dizia: “Mãezinha, o espírito disse que veio me buscar. Depois veio outro espírito e me deu um passe e a dor foi passando”. Ele não veio matá-la?, perguntei irritada. Pai João não deixou que eu continuasse. “Basta, disse ele, você abusou demais. Puxe pela sua individualidade. Não é a primeira vez na terra que você está sendo clarividente. A Mãe Yara, a senhora do Espaço não virá mais aqui devido ao seu desrespeito aos espíritos. Mas eu vim para lhe ensinar, eu e a Matildes. De hoje em diante seremos seus instrutores. Mas exijo muito respeito para com os espíritos, sejam de luz ou sofredores”. Sofredores? Esses demônios que a igreja denuncia e condena? Dei uma gargalhada debochada. No mesmo instante recebi um impacto tão grande no rosto que comecei a chorar. É para sua felicidade, disse ele, se você continuar a cair no padrão dos espíritos sofredores, você poderá enlouquecer. Meu rosto estava pegando fogo. Senti tremenda raiva e fui dizendo, tenho ódio de espiritismo, como querem me obrigar a ser espírita? “Filha, ninguém a está obrigando a ser espírita. Espiritismo é mediunidade e você tem todas as mediunidades, com exceção da olfativa; além disso você vem com a missão de desenvolver o Doutrinador, uma nova forma de mediunidade que vem com força cabalística, iniciática”. Pai João parou de falar. Meu coração foi se acalmando. O calor do corpinho da Carmem Lúcia aconchegada no meu colo, me enchia de ternura. Beto, com a pequenina Vera Lúcia, a caçula, no colo foi chegando e me abraçou. Raulzinho sentou perto e Gertrudes perguntou se eu queria um copo de leite. Minha família, meus amores, minha vida! Olhei para o Pai João e Mãe Tildes e senti todo o amor que emanava dessas preciosas criaturas de Deus. Sim, agora eu sabia, eu sabia do meu rumo, do meu roteiro e da minha missão com o Doutrinador!
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