Brigas,
paixões, conflitos, realizações...
Após alguns dias, me dirigi para o que era meu. Como já disse, era um lugar onde o morro era muito a pique, e eu me sentava como se fosse uma poltrona. Caminhava para lá, como de costume, quando uma grande força me impediu, e ouvi:
- Volte! Volte já!
Sem entender, eu voltei correndo, sem saber se aquela “coisa” era má, se gostaria de me arrebentar. Que coisa horrível! Chamei Mãe Tildes, e ela me explicou que era a voz direta deslocada pelo neutrom, a força que divide os planos vibracionais.
Voltei para casa. De longe, ouvia as meninas cantando. Fiquei parada por alguns minutos, e logo vi surgir uma linda Lua no céu. Fui me sentar em um banco, sob um pequizeiro, e logo apareceu Gertrudes, me trazendo um prato feito, que comi sem saber, na realidade, o que comia.
Sim, muitas coisas aconteceram... Sozinha, naquela serra, sempre com mil preocupações em minha cabeça! Sozinha, sim. Como é triste a solidão...
Lembrava-me das queixas dos mal-amados, e pensava na solidão que sentiam. Também comecei a fazer críticas, julgando: eles estão sozinhos por falta de tolerância... Devemos pensar na solidão, na velhice...
Naquele instante, Getúlio, meu companheiro, chegou de mansinho e, segurando os meus ombros, disse:
- Já pode me perdoar, Neiva? Vamos embora daqui! Já não suporto mais isto. Mãe Neném lhe trouxe o recado do Chico Xavier? Ele fez críticas a seu respeito...
Senti como se tivesse levado uma punhalada. Perguntei:
- Você também acha que eu, realmente, preciso estudar?
- Não, absolutamente. – respondeu Getúlio – Mas, você me ensinou que o Homem se evolui em qualquer lugar. Por que, então, ficar aqui nesta serra, com tanto desconforto?
- Não sei o que me espera – respondi – porém continuarei aqui até terminar meu curso com Humarran.
- Meu Deus! – exclamou ele – Acho que não estou preparado para tanto, principalmente para ser companheiro de uma clarividente. Às vezes, penso que a amo, mas, quando estou ao seu lado, sinto que você está distante. Como sofro com isso!...
Estávamos nos entendendo quando Mãe Neném chegou e começou a despejar tudo o que lhe vinha na cabeça. Disse que Chico Xavier tinha razão, que minha ignorância estava me atrasando, que ninguém conseguiria decifrar minhas visões, que Urubatã – Cavaleiro de Oxosse, líder da linha do amor e do perdão – era um exu, enfim, que tudo estava errado. Sizenando recebera uma comunicação de que Urubatã havia queimado todo meu dinheiro.
Sim, nisso ela tinha uma certa razão pois, simbolicamente, ele havia incendiado o barraco de Mãe Neném na Cidade Livre.
- Meu Deus! O que tenho a ver com tudo isso? – pensei, com a mente mergulhada num turbilhão de pensamentos.
Lembrei-me de Humarran e de sua filosofia:
- O corpo físico é, para a alma encarnada, aquilo que a máquina significa para o operário.
A doença persistia no meu corpo, e eu já não me sentia a mesma. Pensava no que ouvira: Caminharás muitas vezes no mundo como um barco que navega no oceano revolto... Ouvi Humarran que me dizia:- Não culpe os médicos, não acuse os professores, não reprove a conduta dos outros... Não maldiga a poeira da terra... Aproveite, sempre, o seu tempo em aprender, porque é muito mais tarde do que pensa. Você deve sentir a mais perfeita tolerância por todos e um interesse, com sinceridade, pelas crenças dos que pertencem a outras religiões. Não se importe pelo que demonstrarem pela sua e, para que possa ajudá-los, é preciso se libertar dos falsos preconceitos. Você não deve desprezar Mãe Neném. Deve, sim, ser condescendente em tudo, ser benevolente em tudo, agora, que os seus olhos estão abertos, para que possa empreender um trabalho de ordem superior. Pobre Mãe Neném!... A superstição é outro grande mal, que tem ocasionado muitas e terríveis crueldades neste mundo. Sofrem os homens, as plantas e os animais. Os fanáticos se dizem religiosos e praticam todo o mal em nome de suas religiões... Filha! Se anseia se unificar com Seta Branca, que nunca seja por amor a si mesma e, sim, para que você seja um canal, através do qual o seu amor chegue aos seus semelhantes. Geralmente, só temos consciência do corpo, que vai morrer, e não temos conhecimento do nosso estado de consciência interior, que é imortal. Faça a sua parte, filha, e lembra que, sempre, será capaz de fazer a sua parte. Não se esqueça de que a mente tem seus truques e de que a consciência é algo inegável. A única esperança, para um homem perdido no meio do oceano, é a de que alguém venha tirá-lo dali. Se alguém vem e o levanta, ele se sentirá aliviado e salvo. Outra coisa, filha, não abandone o seu companheiro...
Enquanto ouvia tudo isso, Getúlio me olhava com ternura.
- Cruz credo! Vou embora dessa miséria... – praguejou Mãe Neném.
Continuei calada, ouvindo em dois planos. Getúlio e eu nos abraçamos, e eu pensava:
- Ó, meu Deus! A alma espiritual é, realmente, uma partícula tão diminuta que se encontra dentro do corpo, que não a podemos ver...
Despertei dos meus pensamentos pelas súplicas de Getúlio:
- Vamos embora daqui, Neiva!...
Procurei acalmá-lo com algumas palavras de doutrina, e tudo ficou bem.
Após alguns dias, me dirigi para o que era meu. Como já disse, era um lugar onde o morro era muito a pique, e eu me sentava como se fosse uma poltrona. Caminhava para lá, como de costume, quando uma grande força me impediu, e ouvi:
- Volte! Volte já!
Sem entender, eu voltei correndo, sem saber se aquela “coisa” era má, se gostaria de me arrebentar. Que coisa horrível! Chamei Mãe Tildes, e ela me explicou que era a voz direta deslocada pelo neutrom, a força que divide os planos vibracionais.
Voltei para casa. De longe, ouvia as meninas cantando. Fiquei parada por alguns minutos, e logo vi surgir uma linda Lua no céu. Fui me sentar em um banco, sob um pequizeiro, e logo apareceu Gertrudes, me trazendo um prato feito, que comi sem saber, na realidade, o que comia.
Sim, muitas coisas aconteceram... Sozinha, naquela serra, sempre com mil preocupações em minha cabeça! Sozinha, sim. Como é triste a solidão...
Lembrava-me das queixas dos mal-amados, e pensava na solidão que sentiam. Também comecei a fazer críticas, julgando: eles estão sozinhos por falta de tolerância... Devemos pensar na solidão, na velhice...
Naquele instante, Getúlio, meu companheiro, chegou de mansinho e, segurando os meus ombros, disse:
- Já pode me perdoar, Neiva? Vamos embora daqui! Já não suporto mais isto. Mãe Neném lhe trouxe o recado do Chico Xavier? Ele fez críticas a seu respeito...
Senti como se tivesse levado uma punhalada. Perguntei:
- Você também acha que eu, realmente, preciso estudar?
- Não, absolutamente. – respondeu Getúlio – Mas, você me ensinou que o Homem se evolui em qualquer lugar. Por que, então, ficar aqui nesta serra, com tanto desconforto?
- Não sei o que me espera – respondi – porém continuarei aqui até terminar meu curso com Humarran.
- Meu Deus! – exclamou ele – Acho que não estou preparado para tanto, principalmente para ser companheiro de uma clarividente. Às vezes, penso que a amo, mas, quando estou ao seu lado, sinto que você está distante. Como sofro com isso!...
Estávamos nos entendendo quando Mãe Neném chegou e começou a despejar tudo o que lhe vinha na cabeça. Disse que Chico Xavier tinha razão, que minha ignorância estava me atrasando, que ninguém conseguiria decifrar minhas visões, que Urubatã – Cavaleiro de Oxosse, líder da linha do amor e do perdão – era um exu, enfim, que tudo estava errado. Sizenando recebera uma comunicação de que Urubatã havia queimado todo meu dinheiro.
Sim, nisso ela tinha uma certa razão pois, simbolicamente, ele havia incendiado o barraco de Mãe Neném na Cidade Livre.
- Meu Deus! O que tenho a ver com tudo isso? – pensei, com a mente mergulhada num turbilhão de pensamentos.
Lembrei-me de Humarran e de sua filosofia:
- O corpo físico é, para a alma encarnada, aquilo que a máquina significa para o operário.
A doença persistia no meu corpo, e eu já não me sentia a mesma. Pensava no que ouvira: Caminharás muitas vezes no mundo como um barco que navega no oceano revolto... Ouvi Humarran que me dizia:- Não culpe os médicos, não acuse os professores, não reprove a conduta dos outros... Não maldiga a poeira da terra... Aproveite, sempre, o seu tempo em aprender, porque é muito mais tarde do que pensa. Você deve sentir a mais perfeita tolerância por todos e um interesse, com sinceridade, pelas crenças dos que pertencem a outras religiões. Não se importe pelo que demonstrarem pela sua e, para que possa ajudá-los, é preciso se libertar dos falsos preconceitos. Você não deve desprezar Mãe Neném. Deve, sim, ser condescendente em tudo, ser benevolente em tudo, agora, que os seus olhos estão abertos, para que possa empreender um trabalho de ordem superior. Pobre Mãe Neném!... A superstição é outro grande mal, que tem ocasionado muitas e terríveis crueldades neste mundo. Sofrem os homens, as plantas e os animais. Os fanáticos se dizem religiosos e praticam todo o mal em nome de suas religiões... Filha! Se anseia se unificar com Seta Branca, que nunca seja por amor a si mesma e, sim, para que você seja um canal, através do qual o seu amor chegue aos seus semelhantes. Geralmente, só temos consciência do corpo, que vai morrer, e não temos conhecimento do nosso estado de consciência interior, que é imortal. Faça a sua parte, filha, e lembra que, sempre, será capaz de fazer a sua parte. Não se esqueça de que a mente tem seus truques e de que a consciência é algo inegável. A única esperança, para um homem perdido no meio do oceano, é a de que alguém venha tirá-lo dali. Se alguém vem e o levanta, ele se sentirá aliviado e salvo. Outra coisa, filha, não abandone o seu companheiro...
Enquanto ouvia tudo isso, Getúlio me olhava com ternura.
- Cruz credo! Vou embora dessa miséria... – praguejou Mãe Neném.
Continuei calada, ouvindo em dois planos. Getúlio e eu nos abraçamos, e eu pensava:
- Ó, meu Deus! A alma espiritual é, realmente, uma partícula tão diminuta que se encontra dentro do corpo, que não a podemos ver...
Despertei dos meus pensamentos pelas súplicas de Getúlio:
- Vamos embora daqui, Neiva!...
Procurei acalmá-lo com algumas palavras de doutrina, e tudo ficou bem.
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