sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Humarram

Quando, em 1959, na UESB, Tia Neiva fez seu juramento e se preparou para sua missão, queixou-se ao Pai Seta Branca de seu pouco preparo. Então, Pai Seta Branca designou o velho monge tibetano Humarran para ser o mestre de Tia Neiva, e ela teria que se transportar todos os dias, durante cinco anos, para os Himalaias, a fim de realizar seu curso. Durante esse tempo, ela teria que se abster de qualquer remédio.
Isso fez com que ela, ao finalizar suas aulas, estivesse debilitada, o que a levou a uma tuberculose que afetou seus pulmões para o resto de seus dias.
Humarram vivia com outros poucos monges em um mosteiro escondido nas montanhas do Tibete, onde a dominação chinesa ainda não alcançara. Durante cinco anos Humarran preparou aquele espírito espartano, ligando-o às suas origens e dando-lhe condições de estruturar a Doutrina do Amanhecer e formar o sonho de Tia Neiva - o Doutrinador.
Após o término do curso, Humarran continuou sua assistência à Doutrina, não só através de desdobramentos, quando, juntamente com Tia Neiva, percorria os planos espirituais, como, também, por incorporações em médiuns no Vale, preparando os Jaguares para a fase iniciática e científica da Doutrina.
Nas cartas e mensagens de Tia Neiva são inúmeras as lições transmitidas por Humarran, o Guardião das Chaves do Desenvolvimento da Doutrina do Amanhecer.
Hoje, já nos elevados planos espirituais, projeta sua força e sua sabedoria em busca do aperfeiçoamento da mentalidade e conscientização dos Jaguares.

  • Até aquele momento eu era alguém de difícil entendimento para com os outros e para comigo mesma. Talvez a dor provocada pelo drástico desenlace da minha vida...
Meus tumultos nunca cessavam, sempre me sentia como um rio que transborda do seu leito e sai extravasando, empurrando a margem, derrubando as paisagens, projetando desavenças, dúvidas, e afirmando também o ESPÍRITO DA VERDADE.
Porém, derrubando por terra, levando a dor pela visão transtornada...
Tudo que estava escrito, tudo que saía de mim tinha esse tumulto errado.
A minha insegurança ou a minha falta de amor me faziam perigosa, indesejada, pelas constantes revelações trágicas que faziam sofrer a mim e aos outros.
Essa tristeza revelava melancolia... essa coisa esquisita que vinha se comprimindo dentro de minha mente atormentada. Dizia, também, que já era tempo de mudar o caminho!
Resolvi, então, partir para o meu objetivo, sentir realmente o CANTO que do CÉU me chegava aos ouvidos. Obedeci meu Pai Seta Branca, rumei aos montes do Tibete, onde ouvi o primeiro CANTO UNIVERSAL, do velho incansável Humarram, mestre querido, que no seu aposento em Lhasa, me deu o que jamais pensei receber, me ensinou a VIAGEM para estar com ele, me ensinou o SENTIDO COMUM DA VIDA FORA DA MATÉRIA, em suma, tirou a cegueira que me fazia amaldiçoar a vida obscura e dolorosa...” (Tia Neiva, 1-1-60)

  • Ó, Jesus! Alguma coisa parecia estar me impulsionando para que sentisse o desejo de assumir um lugar diferente daquele que ocupava. Era um novo rumo para a minha jornada.
Estava cansada... Como?... Teria, então, mais e mais – todo aquele acervo era pouco!
Eu, o burrinho, estava leve. Seria isso então?
Até aquele momento eu era alguém de difícil entendimento para com os outros e para comigo mesma.
Cansada, dormi debaixo de um pequizeiro.
Me transportei até o Tibete e, como sempre, fui ter com Humarram – Estava frente a ele, não tinha dúvidas.
- Oh, meu querido Mestre!... Não sei se devo te chamar assim...
- Sim, minha pequena Natacha. Porém, antes, deves entregar teus olhos a Deus!
Levei os olhos para uma pequena janela onde se via a luz do sol de uma tarde, e disse:
- Jesus, arranque os meus olhos se tudo for mentira... – e continuei com meus mestre: - Tens uma vida simples e dolorosa. Se fosse eu, não suportaria!...
- E como! Dolorosa, porém embebida de lágrimas santificantes, do dever, da vida em luta, de renúncia sublime! Natacha, no mais íntimo do ser humano, que é o PLEXO, existem ENERGIAS LATENTES, forças poderosas que não são exploradas senão excepcionalmente. Com a intervenção destas forças podem ser curadas as doenças do corpo e do caráter, digo, doenças físicas e morais.
- Que movimento misterioso, que me surpreende!...
- Tudo deve ser silenciosamente, pelos movimentos psíquicos de cada faculdade mediúnica. Esta, uma vez desenvolvida, nos permite modificar nossa natureza, vencer todos os obstáculos, dominar a matéria e até vencer a morte, Natacha!
- Me chame Neiva! – disse eu – Gosto do meu nome...
- O princípio superior de todos os missionários é o trabalho. Sua ação será comparada a um imã. Terás que viver atraindo novos recursos vitais. Terás, também, o segredo da evolução, das transformações de vidas cujo princípio não está na matéria mas, sim, na própria vontade. Esta ação se estende tanto no mundo etérico como no físico – matéria! Tudo, filha, pode ser realizado no domínio psíquico, pelo amor, na ação da vontade, na Lei do Auxílio, princípio superior de todas as coisas. A potência da vontade de quem busca, honestamente, servir aos seus irmãos, não tem limites. E quando dormimos, cansados, pensando com amor servir alguém, nós nos transportamos e saímos pelos planos espirituais, em seu socorro. A Natureza inteira produz fenômenos, metamorfoses. Quando conheceres a extensão deste fenômeno, seus recursos dentro de ti mesma, deixarás o mundo deslumbrado...
- Meus caminhos! Minha liberdade!... – disse eu quase chorando.
- Neiva, o que chamas de liberdade, se existe em ti a mais poderosa fonte de energia, que pode arrebentar as mais fortes cadeias dos domínios psíquicos?
Segurou meus braços e uma sensação de força se introduziu em todos os meus movimentos. Senti-me forte e preparada para o combate. Com a cabeça um pouco dolorida, voltei novamente à luta na busca pela sobrevivência. Despertei com alguém que dizia:
- Neiva, tem aí um colega querendo te ver. Diz se chamar Guido.
- Ó, meu Deus! – Gemi, e tudo que saía de minha cabeça, do meu cérebro, tinha um tumulto diferente, de pensamentos desiguais.” (Tia Neiva, junho/1960)

MINHAS PALESTRAS COM HUMARRAM - “Neiva, começou Humahan, precisas distinguir entre o verdadeiro e o falso.
Deves aprender a ser verdadeira em tudo, em pensamentos, palavras e ações.
Por mais sábia que sejas um dia, ainda terás muito que aprender. Todo conhecimento é útil e dia virá em que possuirás muito amor e sabedoria, tudo manifestado em ti.
Entre o bem e o mal, o ocultismo não admite transigência. Custe o que custar, é preciso fazer o Bem e evitar o Mal.
Teu corpo astral-mental se apressará em se imaginar orgulhosamente separado do físico.”
Eu o ouvia como se estivesse distante dele. Ele me observava, e continuou:
- Neiva, gostas de pensar muito em ti mesma. Seta Branca está sempre vigilante, sob pena de vires a falir. Mesmo quando houveres te desviado das coisas mundanas, ainda precisarás meditar, fazendo conjecturas acerca de ti mesma. Jesus nos adverte: ANTES DE CULPAR O TEU VIZINHO, POR QUE NÃO SER SEVERO CONTIGO MESMO? A tua vidência é algo sem limite, é sublime, e tens tudo para fazer o bem e o mal. Se fizeres o mal, te destruirás; se fizeres o bem, crescerás como a rama selvagem. Não te esqueças, também, que, acima de tudo, estás aqui para aprender a guardar segredo, mesmo fazendo mistério das revelações. Esforça-te por averiguar o que vale a pena ser dito e lembra-te que não se deve julgar uma coisa pelo seu tamanho, pois, numa causa pequena, muitas vezes, há maiores sentidos. Não deves acolher um pensamento somente porque existe nas Escrituras durante séculos. Deves fazer distinção entre o que é útil ou inútil. Alimentar os pobres é boa ação, porém alimentar as almas é ainda mais nobre e útil do que alimentar os corpos. Quem quer que seja rico pode alimentar o corpo, porém, somente os que possuem o conhecimento espiritual de Deus podem alimentar as almas. Quem tem conhecimento tem o dever de ensinar aos outros.
A tua responsabilidade, Neiva, será a maior do mundo. Nunca poderás dizer tudo e não poderás, também, te calar.”
E tendo dito tudo isso, começou a contar este exemplo:
Eu era muito jovem quando me enclausurei neste mosteiro. Porém, antes de entrar aqui, tive grandes experiências e vi muitas coisas. Houve um tempo em que a Índia era o ponto principal para as revelações. Vinham de longe muitos curiosos e romeiros, magos e videntes. Viviam à espreita das oportunidades para suas alucinações. Certa ocasião veio da Inglaterra um famoso lorde. Ele vinha para saber o destino do seu filho recém-nascido. Ele foi atendido por um mestre que estava de saída, com seus companheiros já o aguardando numa célebre porteira, de onde cada um partiria na sua própria direção. Apesar da pressa demonstrada pelo mestre, o fidalgo insistiu e o mestre lhe contou, sem amor, o que via no destino da criança: Disse que a criança teria um mau destino e deu todo o roteiro de sua vida: em tal tempo lhe aconteceria isto, em tal tempo isto será assim, etc. O fidalgo saiu dali louco, pois seu filho que, até então, era a sua alegria, passou a ser a sua própria sentença. A partir de então, o fidalgo nada mais fez senão sofrer a espera dos acontecimentos durante toda a sua vida. Porém, nada aconteceu! O jovem foi feliz, casou-se e viveu normalmente. O pai, porém, viveu sempre amargurado à espera dos maus acontecimentos.
Não é preciso te dizer, Neiva, que as vibrações do fidalgo destruíram a vida do apressado mestre. Ninguém teve intenção de magoar ninguém, porém o pecado das palavras impensadas de um mestre ou clarividente é algo muito sério. Veja sempre em tua frente um fidalgo, um homem que sofreu as conseqüências de seu orgulho, porém nunca faças como o impulsivo mestre, nunca participes com alguém. Serás, antes de tudo, como uma psicanalista. É bem melhor que as pessoas saiam de perto de ti te desacreditando do que desacreditando nelas mesmo. Volte para o teu corpo, filha, e vá enfrentar as feras, como dizes, porém saiba que todos são melhores do que tu. Elas não têm ideal como tu. Elas sofrem com o teu incontrolável temperamento.”
- Me julgam como se eu fosse uma qualquer, porque sou motorista! – me queixei.
- Agora, para ti tudo é bom no caminho da evolução! – respondeu ele.
Dizendo isso ele se “fechou” e eu me senti já na minha casa. (Tia Neiva, UESB, 5 de maio de 1960)

  • Partindo desta compreensão das origens criadoras nas atividades racionais e tão intimamente unidas, vidas conscientes, que sabem discernir que o negativo de hoje será o mal de amanhã, cada consciência vive e envolve os seus próprios pensamentos.
Através dos séculos do tempo, nada escapa à lei do progresso – as religiões acima de tudo!
Vibramos, emitimos, seguimos com a mente ou somos atraídos, o que não é muito bom. Sim, a vibração que nos atrai, mesmo de bons sentimentos, nos incomoda. A vibração desejada é quando nos sentimos irradiar.
Pelas irradiações sabemos, conhecemos porque estamos sendo vibrados, levando em consideração as imperfeições dos nossos desejos, aspirações...
Não te esqueças de que os fenômenos magnéticos duram ainda depois da morte – assim é o peso!
Preserva tua mente do orgulho, pois o orgulho provém somente da ignorância, do Homem que não tem conhecimento e pensa ser grande, ter feito esta ou aquela grande coisa.
Se teu pensamento for aquilo que deve, pouca dificuldade encontrarás na ação. No entanto, lembra-te de que, para serdes útil á Humanidade, teu pensamento deve se traduzir em ação!
Nas alterações, separamos de maneira rigorosa os transtornos da percepção. Alterações observadas no terreno das representações e, inclusive, as alucinações, porque nestas representações ou alucinações as alterações se manifestam sutis, tornando-se perigosas.
Resta-nos, agora, resumir e reunir, para concluir, resumindo a história da Ciência, para harmonizar os grandes princípios da MAGIA INICIÁTICA, conservada e transmitida através de todas as idades.
Conhecendo bem as leis e as forças da Cabala, às vezes nos admiramos tanto porque certos homens, que tiveram a graça de ser inteligentes, preferiram, no entanto, viver com suas almas presas nos estreitos limites do corpo humano, resistindo até mesmo aos esforços dos poderes superiores. O medo do ridículo provocado pelo orgulho...
Não sabe o Homem que seria mais inteligente se aprofundar para criar!...” (Tia Neiva, Humarram, outubro /62)

  • Eu e meu Mestre HUMARRAM vivemos a vida e, inconscientemente nos preparamos para outra! Onde e como? Nos perguntamos, sem resposta.
Porque tentar resposta, se é o desejo e eu procurarei conservar longe do meu pensamento todas as falsidades, sabendo que tu és aquela verdade que acende a luz da razão no meu Espírito.
Oh, Mestre! Não sei como tu cantas, oh, meu Mestre, mas ouço-te sempre em silencioso deslumbramento.
Mestre, a minha e a tua vida caminham lentamente como o crepúsculo se distanciando do sol.
Muitas vezes pensamos ser irmãos em Deus, uma figura simples e hieroglífica, papel recortado em forma de gente.
A dor, a alegria, tudo se confunde! Embora a dor não seja tão viva, avisto, de longe, os passos queridos, oferta da vida.
Peço indulgência, que no fim, em Capela, onde estiver, longe das visões, o teu rosto e o meu coração, haja descanso deste labor sem fim, no oceano sem praia, sem verão, sem grinalda, que me serve nesta prisão luxuosa, que se afasta da poeira saudável desta Terra e que me empurra para uma Nova Era.” (Tia Neiva, 9.6.78)

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