Fundamentos
do mediunismo,
O ser humano e os seres de outra natureza:
O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação. Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas. Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais. Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano. O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo.
O ser humano, como espécie, não sabe sua origem e nem qual será o seu fim. Tem, porém, a capacidade de especular sobre ambos. É, portanto, uma reta entre dois pontos desconhecidos, do menos infinito ao mais infinito. O sistema de verificação no planeta Terra é feito através dos sentidos. Os fatos são armazenados num processo chamado memória e transmitidos, de geração para geração, por meios variados e variáveis. Os sentidos são adequados a uma determinada faixa vivencial e limitados no tempo e no espaço. Para cada forma de vida existem sentidos apropriados. O sistema de memória permite a continuação das espécies. Ela existe na intimidade das partículas e nos arquivos complexos da Humanidade. A escolha de um conjunto de memórias proporciona a existência, por tempo determinado, de um tipo humano ou uma espécie. Além dos seres verificáveis pelos sentidos, há outros seres, outras formas de vida, cuja existência é admitida pelos efeitos na vida. Deles, o Homem tem menor consciência, dada sua própria natureza. Mas esses seres agem e interagem e seus efeitos só são percebidos quando se fazem sentir no âmbito dos sentidos, nos chamados plano físico e plano psíquico. Esses seres fazem parte da Biologia e integram a vida.
Espírito, alma e corpo:
Os sentidos humanos registram no Homem um aspecto palpável: o corpo; e um aspecto sensível, mas impalpável, a psique ou manifestações psicológicas. O físico e o psíquico conjugados formam a personalidade – o ser humano diferenciado, característico e único. O corpo é formado pelo sistema de memória física, ou seja, a herança atávica transmitida pelos genes, partículas submicroscópicas da intimidade celular. A psique, ou alma, é gerada pela convergência da memória física e do aprendizado recebido do meio ambiente. Ambos se originam de outros indivíduos, outras personalidades.
Além das atividades psicofísicas, o indivíduo apresenta outro tipo de manifestação, cujas origens não são do corpo ou da psique. Essas pertencem à outra ordem de memórias a que chamamos espírito. Portanto, o Homem é levado à ação mediante três tipos de estímulos: o físico, o psíquico e o espiritual. A memória física, impropriamente chamada instinto, é regida, na sua reação, pelo condicionamento do mundo físico, do meio ambiente. Reage através do sistema nervoso do grande simpático ou neurovegetativo. A memória psicológica, ou da psique, interage por processos seletivos, que proporcionam a ação consciente dos sentidos e se faz paralelamente à percepção inconsciente, ou subliminar. O processo seletivo escolhe imagens, formando as idéias e estas associadas formam o pensamento.
A memória espiritual existe e funciona num plano adimensional, num organismo paralelo ao conjunto psicofísico, que denominamos espírito. A herança do espírito transcende o tempo, pois representa o acervo de muitas vidas. Como conseqüência das três faixas vibratórias – a física, a psíquica e a espiritual –, todas agindo no mesmo veículo, o ser humano apresenta variações de comportamento a cada momento. A hegemonia de uma ou outra faixa determina a tônica que caracteriza uma pessoa. Ela é predominantemente animalizada, psíquica ou espiritualizada. Essa tônica varia conforme as circunstâncias, principalmente em função da idade.
O mundo e as dimensões:
O Universo é um todo contínuo e em perpétuo movimento. Ele é concebido pelo Homem conforme o conjunto instrumental aplicado na observação: sentidos físicos, psicológicos ou espirituais. A imagem resultante varia conforme o indivíduo e seu dimensionamento. Existe, pois, um Universo físico, um psicológico e outro espiritual. Visto pelos sentidos, ainda que ampliado pelos instrumentos, ele se apresenta composto de corpos celestes e fenômenos conhecidos, relativamente, até onde alcança esse tipo de verificação. Visto pela psique, em termos interpretativos e de abstração, é intuído, deduzido ou induzido. Forma-se, assim, um pensamento, ou interpretação, que varia com o tempo e as circunstâncias.
Já a interpretação espiritual do Universo é feita pelo sentido religioso, uma percepção indefinida de fatos que escapam à racionalização, tanto física como psicológica. Classifica-se, pois, de mundo espiritual tudo o que escapa ao sistema indutivo ou dedutivo. Cada um dos planos ou universos se caracteriza por faixas vibratórias, movimentos, cujos limites são perceptíveis. Isso pode ser verificado na experiência quotidiana de qualquer ser humano. O Homem pode saber qual o estímulo que ocupa seu campo consciencional, a cada momento, bastando para isso o senso comum de observação. Existem uma dimensão física, uma psicológica e outra espiritual. As três coexistem simultâneas e ocupam espaços de acordo com o seu grau de vibratilidade. A vibração de cada um determina a organização das partículas componentes.
Assim, o mundo físico tem uma organização molecular de densidade variável, mas de limites definidos, caracterizados na estequiometria dos corpos simples. O mundo psicológico movimenta corpúsculos que se caracterizam na sua organização pela extremada velocidade. A percepção desses movimentos exige receptores de alta gama vibratória. Sua ação se traduz pelo som, pelo calor e pela luz em suas múltiplas manifestações, que escapam aos sentidos comuns, mas cuja existência é incontestável. A organização do mundo espiritual, embora situada em termos corpusculares, é de difícil conceituação, pois sua movimentação escapa completamente à sensibilidade sensorial. Sua percepção é feita por processos que, embora verificáveis nos efeitos, são imponderáveis na estrutura e na mecânica. O campo consciencional – a sede dessas percepções é chamada o eu, uma abstração definida, uma quarta dimensão nitidamente separada das outras três. Eu sinto o meu corpo, percebo a minha psique e sou obrigado a admitir a presença do meu espírito – simultaneamente. Mas, sou sempre o eu, algo separado do meu corpo, da minha alma e do meu espírito, pois registro todos eles.
A relação interdimensional:
Na continuidade universal, o mais vibrátil de um plano se liga ao menos vibrátil de outro plano. Forma-se, assim, um campo neutro, uma zona intermediária que possibilita a homogeneização, a comunicação de um plano para outro. Podemos fazer uma analogia: uma pedra jogada para o alto ao perder o impulso, começa a cair. No momento intermediário, quando pára de subir e começa a cair, ela é regida por força diferente das duas outras: a que a fez subir e a que faz cair. Existe, pois, uma lei, um regime que governa as relações entre as diferentes dimensões, algo entre dois planos. Esse algo é um “meio”, ou usando a expressão latina, um médium. Essa a origem do neologismo brasileiro médium.
Toda ação no Universo é feita por algo intermediário e isso pode ser facilmente observado pelo senso comum. Quanto mais complexo é o organismo, maior é sua ação intermediária. O Homem, o ser humano, é um médium por excelência. Ele recebe energias e as transforma, adequando-as a cada setor do universo que o cerca. Ele é mais importante por ser portador de um espírito, um espírito para cada conjunto psicofísico. Por isso, ele é diferenciado dos outros seres. Os outros, qualquer que seja sua natureza, são portadores apenas de corpos e psiques ou almas, o princípio organizador e mantenedor da vida. A alma é maior ou menor, segundo a complexidade do organismo que anima. Ela mantém vivo, dá a vida, dirige o organismo em suas relações com o meio. Esse meio é limitado – tem um sentido horizontal; não cria, apenas transforma. Só o espírito traz uma finalidade, um rumo, um objetivo. Só ele tem um sentido vertical, mais amplo, ilimitado em relação à natureza.
O momento, isto é, o ato de fazer um contato entre dois campos vibracionais, dois planos, é que estabelece a individualidade. Ele diferencia o estado intermediário, o campo de encontro, porque esse momento não pertence nem a um nem a outro dos planos que se encontram. Esse ponto morto de dois campos gravitacionais é semelhante ao conceito de morte – a passagem de um plano para outro. Talvez, seja a isso que Jesus se referia, quando disse que “é preciso morrer para ter a vida”, isto é, nascer de novo. Sem a exaustão do percurso de um campo vibratório não se pode penetrar em outro campo, noutra dimensão. Esse é o sentido profundo, mas exato, verificável, de fácil percepção das relações interplanos.
Definição de médium:
Abordamos o sentido generalizado de médium: o ser humano como intermediário – recepção e emissão – de muitas forças. O espiritismo tradicional, ou mais precisamente, o Kardecismo, conceituou o médium como o ser humano excepcional, portador de poderes psíquicos que possibilitam o contato com os chamados espíritos. A conceituação kardecista de espírito é ampla e abrange muitas categorias. Mas, o sentido desenvolvido na prática foi o do contato com espíritos que já tenham tido corpos, isto é, já tenham sido seres humanos. Essa preocupação reduziu a grandiosidade do Kardecismo e o espiritismo arcou com o ônus de ser a doutrina dos mortos – o que o Kardecismo não é realmente.
Mais de cem anos depois, talvez sob a inspiração do próprio Kardec, verifica-se que não existem poderes psíquicos especiais, mas apenas emissão de forças, energias naturais comuns a todos os seres humanos. Vê-se também que todos os seres humanos usam essas energias, pois, sendo elas naturais e integrantes do processo biológico normal, ser-lhes-ia impossível deixar de usá-las. Outro fato tranqüilo é o relacionamento interplanos, o contato entre as dimensões, a osmose universal. Esse fato só permanece obscuro porque se convencionou que contato é o que se faz pelos sentidos, convenção essa fácil de ser derrubada no moderno pensamento científico. Se admitirmos, pois, a existência de espíritos, seres atômicos, moleculares, cujo habitat é outra dimensão vibracional, somos obrigados, por definição, a admitir a relação desses espíritos com os seres físicos – naturalmente.
O contato se faz com mais precisão pelo ser humano, por ser este portador de um ou mais espíritos. Um ou mais, porque, no caso das obsessões, mais de um espírito habita o mesmo corpo, formando a base das esquizofrenias. A conscientização do mecanismo desse contato, que é feito à nossa revelia, é que diferencia o médium natural do médium no sentido espírita da palavra. O desenvolvimento da técnica de contato conscientemente, permite ao médium ir além do relacionamento com seu próprio espírito e controlar o fenômeno, também natural, de relações com outros espíritos. Médium é, pois, um ser humano normal que utiliza conscientemente suas faculdades mediúnicas. Mediunismo é o conceito organizado desse processo.
Mediunidade e mediunismo:
Mediunidade é a faculdade, a maneira como essa energia se manifesta no ser, seja ele humano ou não. É uma energia que emana do corpo físico e se conjuga, na sua manifestação, com o mecanismo psicofísico. Basicamente, ela é igual em todos os seres, porém, variam em teor, quantidade e forma, de um para outro. Não existem dois médiuns iguais, como não existem dois seres humanos iguais. Mas todos são médiuns na sua condição de seres humanos. Mediunismo é o conjunto técnico-doutrinário que estabelece as maneiras de manipulação da mediunidade. Suas bases repousam nas mais profundas raízes da Humanidade, uma vez que sempre existiu como parte integrante dela. É um pouco ciência, arte, religião e bom senso.
Mediunismo e parapsicologia:
Charles Richet analisou os fenômenos, considerados paranormais, pelo método da observação científica, e é considerado o “pai da Parapsicologia”. Allan Kardec, observando os mesmos fenômenos, classificou-os por métodos diferentes, e é considerado o “pai do Espiritismo”. O primeiro reduziu o fenômeno ao âmbito do conjunto psicofísico e ignorou a presença do fator espírito. O segundo considerou o fator espírito e dimensionou o fenômeno em termos religiosos. Se os dois métodos de observação, ambos válidos e perfeitamente aceitáveis, continuassem em paralelo, a Parapsicologia se tornaria Espiritismo e este se tornaria Parapsicologia. Se ambos caminhassem para um denominador comum, ambos se tornariam Mediunismo.
Assim se apresenta o fenômeno nos dias atuais. A Ciência procura determinar a existência do espírito no laboratório, e o Espiritismo procura uma ciência do espírito. Ambos permanecem ainda inconclusos. O fenômeno, porém, sempre existiu e não depende de métodos ou de conceituações para existir. É, pois, um contra-senso querer eliminar um em benefício do outro. A Parapsicologia é tão válida quanto o Espiritismo, e vice-versa. Se o fenômeno que ambos observam é o mesmo, ele acabará por se evidenciar, graças exatamente às experiências cada vez mais intensas em torno dele. Sempre que um parapsicólogo provoca um fenômeno dessa natureza, ele põe em funcionamento os mesmos mecanismos que um espírita poria. O primeiro atribuirá os resultados aos poderes ocultos do ser humano; o segundo os considerará como poder dos espíritos. Conclui-se daí que as posições assumidas são apenas de conceituação filosófica, o que absolutamente não afeta o fenômeno. O Mediunismo, como perspectiva ampla, irá atenuar essa luta inócua.
A organização crística:
No seio das inúmeras civilizações que já existiram neste planeta, sempre houve sistemas de relacionamento interplanos. Se observarmos, para a medição do tempo, não importa qual seja o calendário, verificaremos o registro de ciclos relativamente iguais em períodos diversos. Dentre eles, o mais simples para nossa observação, é o de dois mil anos. Nesses ciclos observa-se certa regularidade nos acontecimentos que os caracterizam. Talvez, quando a História for mais científica, isso possa ser verificado com maior acuidade. Assim é que vemos o Cristianismo. A vinda de Jesus ao planeta não só foi precedida por uma série de fatos inusitados, mas também seguida por eventos cuja trajetória pode ser traçada com nitidez. Tais fatos, observados em conjunto, nos dão a idéia clara de organicidade e dinâmica, apesar do seu registro se fazer sempre em relação a outros movimentos da História.
Se olharmos com isenção podemos detectar claramente a Organização Crística. A resistência do Evangelho a todas as deformações e as muitas práticas em nome de Jesus demonstra, claramente, a existência de um sistema, uma organização fundamental que resiste a todas as interpretações. Dentre as muitas coisas sugeridas no Evangelho, emerge com clareza a organização mediúnica. O apostolado e toda a gama de missionarismo nos dão idéia clara do sistema intermediário entre o Céu e a Terra. Assim nasceram as religiões e as idéias do ser neutro –nem da Terra nem do Céu, os pontos mortos do alto da lei física. Hoje, pode-se falar claramente em termos de plataformas espaciais, que são as casas transitórias do Espiritismo, mundos organizados como pontos intermediários entre duas dimensões vibracionais. Se observarmos o Evangelho sem preconceitos, encontraremos um tratado técnico de Mediunismo. Entretanto, é preciso lembrar que o Mediunismo é uma das facetas do Evangelho e do ser humano. A mediunidade é, apenas, o elemento de ligação entre as atividades sutis do espírito e a trajetória do Homem na Terra.
Mediunismo e religião:
Religião é um conjunto de conceitos que procura estabelecer uma ligação entre dois pontos desconhecidos – o princípio e o fim das coisas. Por ultrapassar os limites do verificável pelos sentidos, ela estabelece a fé, a crença, como norma de aceitação. Como esses conceitos variam no tempo e no espaço, formam-se religiões características em determinados momentos sociais. Basicamente, consiste numa forma padrão de comportamento que estimula, além do conjunto psicofísico, o mecanismo espiritual. A prática religiosa procura despertar as forças latentes dos seres humanos no sentido de servir a Deus, em detrimento da tendência natural de servir ao Diabo, Deus e Diabo representando forças opostas e extremadas. Em todas as religiões, as duas figuras emergem com nomes e representações as mais variadas.
Como a religião considera o espírito fator fundamental, ela manipula, com toda naturalidade, as forças naturais de ligação, os pontos intermediários – o Mediunismo. Concluímos, pois, que a mediunidade é a força básica e instrumental de todas as religiões e o principal fator da atitude religiosa. O estudo do mecanismo das religiões leva-nos a distinguir facilmente as práticas mediúnicas. A não aceitação desse fator torna a religião motivo de angústia e sofrimento, quando deveria ser exatamente o contrário. Cada ser humano traz consigo sua programação própria, sua maneira de servir o destino. Traz, também, as forças necessárias, as armas próprias para a ação. A tentativa de padronização do comportamento produz a angústia. É desumano viver-se sob o peso do medo, pecando não contra a consciência, mas contra um conjunto de textos.
Mediunismo e ciência:
A Ciência é uma religião às avessas. No tempo de Pasteur chegava-se a ridicularizar a idéia da existência dos micróbios. Como conseqüência, matava-se cientificamente por falta de assepsia. O mesmo aconteceu aqui no Brasil com relação à febre amarela. Os jornais da época estão cheios de charges que ridicularizavam Oswaldo Cruz e a vacina. Allan Kardec foi o Pasteur do mundo invisível do espírito. Só que o tempo ainda não foi suficiente para sua valorização universal. Entretanto, a fenomenologia deste fim de ciclo irá trazer à luz os fenômenos espirituais com tal evidência, que a Ciência terá que se voltar para eles e colocá-los no lugar devido. Além do processo reencarnatório, o Mediunismo evidencia a existência do ectoplasma e, com base nesses dois fatores, a Ciência irá encontrar elementos que se coadunem com a atitude científica.
Segundo literatura recente, dão-nos conta de que na Inglaterra, os cientistas conseguiram registrar um tipo de energia, batizado de Fator L. Em São Paulo, o cientista Hernani de Guimarães Andrade escreveu um ensaio denominado “Teoria Corpuscular do Espírito”. Em todo o mundo se estuda o sistema de fotografia chamado Efeito Kirlian. Poderíamos citar ainda inúmeros exemplos do interesse da Ciência pelo mundo invisível do espírito. Mas nos preocupa o fato de tais estudos estarem ainda no nascedouro e, enquanto isso, milhares de seres humanos estão perdendo sua oportunidade neste planeta. O Mediunismo, com toda sua simplicidade, poderá apressar o processo científico e oficializar os meios de reequilíbrio humano, tanto no campo físico como no psicológico. Não existe conflito entre a atitude científica e a manipulação mediúnica. Ao contrário, ambos podem se beneficiar se tomarem caminhos convergentes
O ser humano e os seres de outra natureza:
O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação. Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas. Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais. Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano. O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo.
O ser humano, como espécie, não sabe sua origem e nem qual será o seu fim. Tem, porém, a capacidade de especular sobre ambos. É, portanto, uma reta entre dois pontos desconhecidos, do menos infinito ao mais infinito. O sistema de verificação no planeta Terra é feito através dos sentidos. Os fatos são armazenados num processo chamado memória e transmitidos, de geração para geração, por meios variados e variáveis. Os sentidos são adequados a uma determinada faixa vivencial e limitados no tempo e no espaço. Para cada forma de vida existem sentidos apropriados. O sistema de memória permite a continuação das espécies. Ela existe na intimidade das partículas e nos arquivos complexos da Humanidade. A escolha de um conjunto de memórias proporciona a existência, por tempo determinado, de um tipo humano ou uma espécie. Além dos seres verificáveis pelos sentidos, há outros seres, outras formas de vida, cuja existência é admitida pelos efeitos na vida. Deles, o Homem tem menor consciência, dada sua própria natureza. Mas esses seres agem e interagem e seus efeitos só são percebidos quando se fazem sentir no âmbito dos sentidos, nos chamados plano físico e plano psíquico. Esses seres fazem parte da Biologia e integram a vida.
Espírito, alma e corpo:
Os sentidos humanos registram no Homem um aspecto palpável: o corpo; e um aspecto sensível, mas impalpável, a psique ou manifestações psicológicas. O físico e o psíquico conjugados formam a personalidade – o ser humano diferenciado, característico e único. O corpo é formado pelo sistema de memória física, ou seja, a herança atávica transmitida pelos genes, partículas submicroscópicas da intimidade celular. A psique, ou alma, é gerada pela convergência da memória física e do aprendizado recebido do meio ambiente. Ambos se originam de outros indivíduos, outras personalidades.
Além das atividades psicofísicas, o indivíduo apresenta outro tipo de manifestação, cujas origens não são do corpo ou da psique. Essas pertencem à outra ordem de memórias a que chamamos espírito. Portanto, o Homem é levado à ação mediante três tipos de estímulos: o físico, o psíquico e o espiritual. A memória física, impropriamente chamada instinto, é regida, na sua reação, pelo condicionamento do mundo físico, do meio ambiente. Reage através do sistema nervoso do grande simpático ou neurovegetativo. A memória psicológica, ou da psique, interage por processos seletivos, que proporcionam a ação consciente dos sentidos e se faz paralelamente à percepção inconsciente, ou subliminar. O processo seletivo escolhe imagens, formando as idéias e estas associadas formam o pensamento.
A memória espiritual existe e funciona num plano adimensional, num organismo paralelo ao conjunto psicofísico, que denominamos espírito. A herança do espírito transcende o tempo, pois representa o acervo de muitas vidas. Como conseqüência das três faixas vibratórias – a física, a psíquica e a espiritual –, todas agindo no mesmo veículo, o ser humano apresenta variações de comportamento a cada momento. A hegemonia de uma ou outra faixa determina a tônica que caracteriza uma pessoa. Ela é predominantemente animalizada, psíquica ou espiritualizada. Essa tônica varia conforme as circunstâncias, principalmente em função da idade.
O mundo e as dimensões:
O Universo é um todo contínuo e em perpétuo movimento. Ele é concebido pelo Homem conforme o conjunto instrumental aplicado na observação: sentidos físicos, psicológicos ou espirituais. A imagem resultante varia conforme o indivíduo e seu dimensionamento. Existe, pois, um Universo físico, um psicológico e outro espiritual. Visto pelos sentidos, ainda que ampliado pelos instrumentos, ele se apresenta composto de corpos celestes e fenômenos conhecidos, relativamente, até onde alcança esse tipo de verificação. Visto pela psique, em termos interpretativos e de abstração, é intuído, deduzido ou induzido. Forma-se, assim, um pensamento, ou interpretação, que varia com o tempo e as circunstâncias.
Já a interpretação espiritual do Universo é feita pelo sentido religioso, uma percepção indefinida de fatos que escapam à racionalização, tanto física como psicológica. Classifica-se, pois, de mundo espiritual tudo o que escapa ao sistema indutivo ou dedutivo. Cada um dos planos ou universos se caracteriza por faixas vibratórias, movimentos, cujos limites são perceptíveis. Isso pode ser verificado na experiência quotidiana de qualquer ser humano. O Homem pode saber qual o estímulo que ocupa seu campo consciencional, a cada momento, bastando para isso o senso comum de observação. Existem uma dimensão física, uma psicológica e outra espiritual. As três coexistem simultâneas e ocupam espaços de acordo com o seu grau de vibratilidade. A vibração de cada um determina a organização das partículas componentes.
Assim, o mundo físico tem uma organização molecular de densidade variável, mas de limites definidos, caracterizados na estequiometria dos corpos simples. O mundo psicológico movimenta corpúsculos que se caracterizam na sua organização pela extremada velocidade. A percepção desses movimentos exige receptores de alta gama vibratória. Sua ação se traduz pelo som, pelo calor e pela luz em suas múltiplas manifestações, que escapam aos sentidos comuns, mas cuja existência é incontestável. A organização do mundo espiritual, embora situada em termos corpusculares, é de difícil conceituação, pois sua movimentação escapa completamente à sensibilidade sensorial. Sua percepção é feita por processos que, embora verificáveis nos efeitos, são imponderáveis na estrutura e na mecânica. O campo consciencional – a sede dessas percepções é chamada o eu, uma abstração definida, uma quarta dimensão nitidamente separada das outras três. Eu sinto o meu corpo, percebo a minha psique e sou obrigado a admitir a presença do meu espírito – simultaneamente. Mas, sou sempre o eu, algo separado do meu corpo, da minha alma e do meu espírito, pois registro todos eles.
A relação interdimensional:
Na continuidade universal, o mais vibrátil de um plano se liga ao menos vibrátil de outro plano. Forma-se, assim, um campo neutro, uma zona intermediária que possibilita a homogeneização, a comunicação de um plano para outro. Podemos fazer uma analogia: uma pedra jogada para o alto ao perder o impulso, começa a cair. No momento intermediário, quando pára de subir e começa a cair, ela é regida por força diferente das duas outras: a que a fez subir e a que faz cair. Existe, pois, uma lei, um regime que governa as relações entre as diferentes dimensões, algo entre dois planos. Esse algo é um “meio”, ou usando a expressão latina, um médium. Essa a origem do neologismo brasileiro médium.
Toda ação no Universo é feita por algo intermediário e isso pode ser facilmente observado pelo senso comum. Quanto mais complexo é o organismo, maior é sua ação intermediária. O Homem, o ser humano, é um médium por excelência. Ele recebe energias e as transforma, adequando-as a cada setor do universo que o cerca. Ele é mais importante por ser portador de um espírito, um espírito para cada conjunto psicofísico. Por isso, ele é diferenciado dos outros seres. Os outros, qualquer que seja sua natureza, são portadores apenas de corpos e psiques ou almas, o princípio organizador e mantenedor da vida. A alma é maior ou menor, segundo a complexidade do organismo que anima. Ela mantém vivo, dá a vida, dirige o organismo em suas relações com o meio. Esse meio é limitado – tem um sentido horizontal; não cria, apenas transforma. Só o espírito traz uma finalidade, um rumo, um objetivo. Só ele tem um sentido vertical, mais amplo, ilimitado em relação à natureza.
O momento, isto é, o ato de fazer um contato entre dois campos vibracionais, dois planos, é que estabelece a individualidade. Ele diferencia o estado intermediário, o campo de encontro, porque esse momento não pertence nem a um nem a outro dos planos que se encontram. Esse ponto morto de dois campos gravitacionais é semelhante ao conceito de morte – a passagem de um plano para outro. Talvez, seja a isso que Jesus se referia, quando disse que “é preciso morrer para ter a vida”, isto é, nascer de novo. Sem a exaustão do percurso de um campo vibratório não se pode penetrar em outro campo, noutra dimensão. Esse é o sentido profundo, mas exato, verificável, de fácil percepção das relações interplanos.
Definição de médium:
Abordamos o sentido generalizado de médium: o ser humano como intermediário – recepção e emissão – de muitas forças. O espiritismo tradicional, ou mais precisamente, o Kardecismo, conceituou o médium como o ser humano excepcional, portador de poderes psíquicos que possibilitam o contato com os chamados espíritos. A conceituação kardecista de espírito é ampla e abrange muitas categorias. Mas, o sentido desenvolvido na prática foi o do contato com espíritos que já tenham tido corpos, isto é, já tenham sido seres humanos. Essa preocupação reduziu a grandiosidade do Kardecismo e o espiritismo arcou com o ônus de ser a doutrina dos mortos – o que o Kardecismo não é realmente.
Mais de cem anos depois, talvez sob a inspiração do próprio Kardec, verifica-se que não existem poderes psíquicos especiais, mas apenas emissão de forças, energias naturais comuns a todos os seres humanos. Vê-se também que todos os seres humanos usam essas energias, pois, sendo elas naturais e integrantes do processo biológico normal, ser-lhes-ia impossível deixar de usá-las. Outro fato tranqüilo é o relacionamento interplanos, o contato entre as dimensões, a osmose universal. Esse fato só permanece obscuro porque se convencionou que contato é o que se faz pelos sentidos, convenção essa fácil de ser derrubada no moderno pensamento científico. Se admitirmos, pois, a existência de espíritos, seres atômicos, moleculares, cujo habitat é outra dimensão vibracional, somos obrigados, por definição, a admitir a relação desses espíritos com os seres físicos – naturalmente.
O contato se faz com mais precisão pelo ser humano, por ser este portador de um ou mais espíritos. Um ou mais, porque, no caso das obsessões, mais de um espírito habita o mesmo corpo, formando a base das esquizofrenias. A conscientização do mecanismo desse contato, que é feito à nossa revelia, é que diferencia o médium natural do médium no sentido espírita da palavra. O desenvolvimento da técnica de contato conscientemente, permite ao médium ir além do relacionamento com seu próprio espírito e controlar o fenômeno, também natural, de relações com outros espíritos. Médium é, pois, um ser humano normal que utiliza conscientemente suas faculdades mediúnicas. Mediunismo é o conceito organizado desse processo.
Mediunidade e mediunismo:
Mediunidade é a faculdade, a maneira como essa energia se manifesta no ser, seja ele humano ou não. É uma energia que emana do corpo físico e se conjuga, na sua manifestação, com o mecanismo psicofísico. Basicamente, ela é igual em todos os seres, porém, variam em teor, quantidade e forma, de um para outro. Não existem dois médiuns iguais, como não existem dois seres humanos iguais. Mas todos são médiuns na sua condição de seres humanos. Mediunismo é o conjunto técnico-doutrinário que estabelece as maneiras de manipulação da mediunidade. Suas bases repousam nas mais profundas raízes da Humanidade, uma vez que sempre existiu como parte integrante dela. É um pouco ciência, arte, religião e bom senso.
Mediunismo e parapsicologia:
Charles Richet analisou os fenômenos, considerados paranormais, pelo método da observação científica, e é considerado o “pai da Parapsicologia”. Allan Kardec, observando os mesmos fenômenos, classificou-os por métodos diferentes, e é considerado o “pai do Espiritismo”. O primeiro reduziu o fenômeno ao âmbito do conjunto psicofísico e ignorou a presença do fator espírito. O segundo considerou o fator espírito e dimensionou o fenômeno em termos religiosos. Se os dois métodos de observação, ambos válidos e perfeitamente aceitáveis, continuassem em paralelo, a Parapsicologia se tornaria Espiritismo e este se tornaria Parapsicologia. Se ambos caminhassem para um denominador comum, ambos se tornariam Mediunismo.
Assim se apresenta o fenômeno nos dias atuais. A Ciência procura determinar a existência do espírito no laboratório, e o Espiritismo procura uma ciência do espírito. Ambos permanecem ainda inconclusos. O fenômeno, porém, sempre existiu e não depende de métodos ou de conceituações para existir. É, pois, um contra-senso querer eliminar um em benefício do outro. A Parapsicologia é tão válida quanto o Espiritismo, e vice-versa. Se o fenômeno que ambos observam é o mesmo, ele acabará por se evidenciar, graças exatamente às experiências cada vez mais intensas em torno dele. Sempre que um parapsicólogo provoca um fenômeno dessa natureza, ele põe em funcionamento os mesmos mecanismos que um espírita poria. O primeiro atribuirá os resultados aos poderes ocultos do ser humano; o segundo os considerará como poder dos espíritos. Conclui-se daí que as posições assumidas são apenas de conceituação filosófica, o que absolutamente não afeta o fenômeno. O Mediunismo, como perspectiva ampla, irá atenuar essa luta inócua.
A organização crística:
No seio das inúmeras civilizações que já existiram neste planeta, sempre houve sistemas de relacionamento interplanos. Se observarmos, para a medição do tempo, não importa qual seja o calendário, verificaremos o registro de ciclos relativamente iguais em períodos diversos. Dentre eles, o mais simples para nossa observação, é o de dois mil anos. Nesses ciclos observa-se certa regularidade nos acontecimentos que os caracterizam. Talvez, quando a História for mais científica, isso possa ser verificado com maior acuidade. Assim é que vemos o Cristianismo. A vinda de Jesus ao planeta não só foi precedida por uma série de fatos inusitados, mas também seguida por eventos cuja trajetória pode ser traçada com nitidez. Tais fatos, observados em conjunto, nos dão a idéia clara de organicidade e dinâmica, apesar do seu registro se fazer sempre em relação a outros movimentos da História.
Se olharmos com isenção podemos detectar claramente a Organização Crística. A resistência do Evangelho a todas as deformações e as muitas práticas em nome de Jesus demonstra, claramente, a existência de um sistema, uma organização fundamental que resiste a todas as interpretações. Dentre as muitas coisas sugeridas no Evangelho, emerge com clareza a organização mediúnica. O apostolado e toda a gama de missionarismo nos dão idéia clara do sistema intermediário entre o Céu e a Terra. Assim nasceram as religiões e as idéias do ser neutro –nem da Terra nem do Céu, os pontos mortos do alto da lei física. Hoje, pode-se falar claramente em termos de plataformas espaciais, que são as casas transitórias do Espiritismo, mundos organizados como pontos intermediários entre duas dimensões vibracionais. Se observarmos o Evangelho sem preconceitos, encontraremos um tratado técnico de Mediunismo. Entretanto, é preciso lembrar que o Mediunismo é uma das facetas do Evangelho e do ser humano. A mediunidade é, apenas, o elemento de ligação entre as atividades sutis do espírito e a trajetória do Homem na Terra.
Mediunismo e religião:
Religião é um conjunto de conceitos que procura estabelecer uma ligação entre dois pontos desconhecidos – o princípio e o fim das coisas. Por ultrapassar os limites do verificável pelos sentidos, ela estabelece a fé, a crença, como norma de aceitação. Como esses conceitos variam no tempo e no espaço, formam-se religiões características em determinados momentos sociais. Basicamente, consiste numa forma padrão de comportamento que estimula, além do conjunto psicofísico, o mecanismo espiritual. A prática religiosa procura despertar as forças latentes dos seres humanos no sentido de servir a Deus, em detrimento da tendência natural de servir ao Diabo, Deus e Diabo representando forças opostas e extremadas. Em todas as religiões, as duas figuras emergem com nomes e representações as mais variadas.
Como a religião considera o espírito fator fundamental, ela manipula, com toda naturalidade, as forças naturais de ligação, os pontos intermediários – o Mediunismo. Concluímos, pois, que a mediunidade é a força básica e instrumental de todas as religiões e o principal fator da atitude religiosa. O estudo do mecanismo das religiões leva-nos a distinguir facilmente as práticas mediúnicas. A não aceitação desse fator torna a religião motivo de angústia e sofrimento, quando deveria ser exatamente o contrário. Cada ser humano traz consigo sua programação própria, sua maneira de servir o destino. Traz, também, as forças necessárias, as armas próprias para a ação. A tentativa de padronização do comportamento produz a angústia. É desumano viver-se sob o peso do medo, pecando não contra a consciência, mas contra um conjunto de textos.
Mediunismo e ciência:
A Ciência é uma religião às avessas. No tempo de Pasteur chegava-se a ridicularizar a idéia da existência dos micróbios. Como conseqüência, matava-se cientificamente por falta de assepsia. O mesmo aconteceu aqui no Brasil com relação à febre amarela. Os jornais da época estão cheios de charges que ridicularizavam Oswaldo Cruz e a vacina. Allan Kardec foi o Pasteur do mundo invisível do espírito. Só que o tempo ainda não foi suficiente para sua valorização universal. Entretanto, a fenomenologia deste fim de ciclo irá trazer à luz os fenômenos espirituais com tal evidência, que a Ciência terá que se voltar para eles e colocá-los no lugar devido. Além do processo reencarnatório, o Mediunismo evidencia a existência do ectoplasma e, com base nesses dois fatores, a Ciência irá encontrar elementos que se coadunem com a atitude científica.
Segundo literatura recente, dão-nos conta de que na Inglaterra, os cientistas conseguiram registrar um tipo de energia, batizado de Fator L. Em São Paulo, o cientista Hernani de Guimarães Andrade escreveu um ensaio denominado “Teoria Corpuscular do Espírito”. Em todo o mundo se estuda o sistema de fotografia chamado Efeito Kirlian. Poderíamos citar ainda inúmeros exemplos do interesse da Ciência pelo mundo invisível do espírito. Mas nos preocupa o fato de tais estudos estarem ainda no nascedouro e, enquanto isso, milhares de seres humanos estão perdendo sua oportunidade neste planeta. O Mediunismo, com toda sua simplicidade, poderá apressar o processo científico e oficializar os meios de reequilíbrio humano, tanto no campo físico como no psicológico. Não existe conflito entre a atitude científica e a manipulação mediúnica. Ao contrário, ambos podem se beneficiar se tomarem caminhos convergentes
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