Caracterizar e situar a figura do ameríndio PAI SETA BRANCA, no contexto da Doutrina do Amanhecer, é das tarefas mais espinhosas para o crítico e historiador. Provavelmente represente ele o papel mais significativo em todo o movimento do Vale. Sua imagem, colocada em trono de destaque no Templo, como já se mencionou alhures, descreve-se, resumidamente assim: um índio em pose ocidental, de olhos rasgados (nada de pálpebra mongólica, tão típica de nossos silvícolas!) e zigomas salientes lembrando feições do Antigo Egito, cabeça encimada por um enorme cocar de plumas brancas, pretas nas pontas, adorno este mais comum aos índios norte-americanos do que aos brasileiros. Seu pescoço aparece envolto em colares de origem inca. Suas mãos suportam uma flecha branca, como alvas são as suas vestes, e seu ar, de tranqüilidade e paz. Tentemos conciliar as duas versões de Mário Sassi (Mensagem nº 2, 1976:11-13; ms. de 1977: 23 e 24) sobre o trabalho pacificador de Seta Branca, por volta de 1532, no extenso território do Império Inca que descia do Equador até o Chile e a Argentina. A alusão parece referir-se à derrota de Atahuallpa em Cajamarca aos 16 de novembro de 1532, feito prisioneiro do conquistador espanhol Francisco Pizarro.
“A região dos Andes ainda dormitava nos resíduos da civilização Incaica, quando chegaram os Europeus. – Na linha que mais tarde formaria a fronteira a chamar de “brazil”, habitava uma tribo de índios, cujos espíritos já haviam encarnado como Equitumans, Tumuchys e Jaguares”. (Nota: Não consta que Pedro Álvares Cabral tenha denominado “brazis” a Ilha de Vera Cruz por ele descoberta em 1500). Prossegue Sassi (1976:12): “Seu cacique era alto, bronzeado, de feições andinas e tinha o olhar penetrante dos espíritos evoluídos... Bem para o oeste (Sassi 1977:23), nas fronteiras então existentes com a América Hispânica, nos contra-fortes dos Andes, havia um poderoso cacique cujo exército era composto de cerca de 800 guerreiros. Neste tempo, enquanto os portugueses, franceses e holandeses disputavam a conquista do litoral Este da América do Sul, os espanhóis penetravam ao Sul e ao Norte em direção ao Centro-Oeste... Particularmente, certa tribo incaica estava colocada na trajetória dos ímpios cristãos, e seria dizimada com certeza. – Um mensageiro chegou pedindo socorro à tribo dos velhos jaguares... 800 guerreiros foram enfrentar os espanhóis. Poucos da tribo o sabiam, mas o grande cacique, como Pai João e Pai Zé Pedro, era o espírito reencarnado de um Mestre Planetário, que já havia sido um Jaguar, um Espartano, um Faraó e, já na Idade Média Européia, o espírito que se chamou Francisco, canonizado pela Igreja Católica com São Francisco de Assis... O chefe pouco falava... seu coração estava impregnado com a força do Amor, do Perdão, da Tolerância e da Humildade do Cristo Jesus. Todos o amavam, e um guerreiro mais afeiçoado preparou uma ponta para a sua lança e deu-lhe de presente. Essa peça fora feita de alvo marfim, tirado talvez de algum fóssil. Com essa ponta sua lança passou a caracterizá-lo, e ele se tornou lendário como o “Cacique da Lança Branca”. Seta ou Lança, deveriam ter a mesma raiz lingüística, e seu nome chegou até nós como Seta Branca. Reverenciado doutrinariamente, para nós no Templo do Amanhecer, Ele é PAI SETA BRANCA.
“No descampado de um planalto andino as duas facções se defrontaram... Seta Branca subiu a uma pequena elevação e falou... Enquanto falava, ele segurava sua lança alva com as duas mãos e a levantava, na forma iniciática (o grifo é nosso!) de oferenda aos deuses. Na medida em que discursava, descia sobre aquele campo de batalha iminente, um clima de paz e doçura... Até um cavalo se ajoelhou, e seu cavaleiro perplexo deixou cair as armas. O grande Cacique enfrentou os Espanhóis com muita diplomacia, evitou o derramamento de sangue, sem deixar de salvar aquela tribo Inca e por esse feito, acrescentando à sua atuação humanitária, ganhou nome de Cacique Seta Branca”.
“E assim, os episódios de verdadeiro heroísmo espiritual foram sucedendo de um lado e de outro. Do Brasil-Colônia ao Império, no litoral escravocrata e no Oeste selvagem, o Sistema Crístico foi sendo implantado com rotulagem diferente mas igual no seu cerne, preparando o advento do próximo Milênio. É preciso ter em conta esses fatos e muitos outros impossíveis de serem relatados aqui, para se entender o fenômeno Vale do Amanhecer”- conclui M. Sassi (1977:24).
O leitor terá de munir-se de paciência até que alguns termos e conceitos vão clareando. A Doutrina do Amanhecer apresenta-se sinuosa e complexa, eclética, com ressaibos de nacionalismo ou nativismo. Vejamos como o “Intelectual” do Vale tenta justificar o ferrete da escravidão índia e negra que persistiu no Brasil por quase quatro séculos. Com a palavra M. Sassi (1977:18-23); “Portugal dominava os mares dos Séculos XV e XVI ..., estabelecendo colônias por toda a parte, fazendo comércio de especiarias, de que surgiram os escravos. No decorrer dos anos, a escravidão se tornou uma instituição, um hábito normal na vida, aceito inclusive pelas religiões... Para o plano espiritual, a escravidão foi na realidade o movimento redentor, a Grande Prova dos espíritos missionários, dos endividados, dos orgulhosos, pois tinha mais sentido iniciático: a morte, a eliminação da personalidade, com isso obrigando a emersão da individualidade. Como no teatro, em que as vezes o artista se sobrepõe ao personagem, certo número de escravos lançou as bases da etapa final da Escola do Caminho (nota: O Evangelho, o Cristianismo), criando as raízes da religiosidade brasileira.
Dentre esses escravos estava um sem número de Jaguares, que por sua vez haviam sido Equitumans e Tumuchys. Dos velhos líderes se destacaram dois espíritos excelsos que, na qualidade de missionários, se submeteram à difícil prova; duas individualidades que representaram os personagens Pai Zé Pedro e Pai João... Não podendo impor as exigências do corpo e da alma, o escravo era praticamente obrigado a ceder às exigências de seu espírito. Daí nasceram as práticas mediúnicas entre os escravos do Brasil... Mais tarde (p.21), Pais João e Zé Pedro, voltaram em novas encarnações, ainda como escravos, mas desta vez nascidos na Índia. A partir desse retorno, as práticas foram evoluindo, agora com o lastro místico da Índia e do Tibet. Nasceu a mediunidade iniciática e com ela a ‘passagem’ de espíritos sofredores, a redenção mediúnica”.
As incursões de “Seu Mário” no mundo dos espíritos – do que ele se mostra sinceramente convencido - raia pelas lides do inimaginável, simplesmente. Para explicar por exemplo, o aparecimento das Princesas de Mãe Yara, que eram sete, ele rebusca as ruínas de Pompéia, destruída pelo Vesúvio. Seus espíritos (a Doutrina do Amanhecer não gosta de falar em ‘almas’, pois que até os teólogos católicos vão abandonando de sorrate a distinção dicotômica alma-corpo, que tanto desvirtua a integridade da pessoa humana), encarnaram-se em Jaguares: Seis crioulas e uma branca de família portuguesa, a qual donzela não se conformava com a situação do Brasil-Colônia. Começou então a ascensão das crioulas, no que muito contribuíam Pai João e Pai Zé Pedro com suas astúcias de escravos experimentados. Houve mesmo uma Cachoeira das Crioulas (p.23), ponto de irradiação das forças espirituais. Em resumo, a magia dos Pretos Velhos cobria os contactos entre os planos dos escravos e dos senhores, arranjando-se as coisas de tal modo que o Brasil seria o ambiente propício e ideal, preparado para um novo tipo de relações sócio-religiosas que preparam o Terceiro Milênio a iniciar-se.
Neste contexto de relações afro-hindú-brasileiras, faz-se mister ainda uma palavra sobre “Mãe Tildes” ou “Matildes”, donde vem o nome “Lar das Crianças de Matildes”, entidade jurídica, filantrópica, que em parte, justifica a razão de ser do Vale do Amanhecer como obra de assistência social pela qual recebe ajudas oficiais, parcas por sinal.
Na Bahia, o topônimo Angical parece muito comum. Em nosso caso trata-se de duas enormes fazendas ao sul daquele Estado, para onde se refugiavam escravos forros, políticos, exilados e aventureiros de toda sorte. O ponto de encontro era a fazenda da ex-escrava Matildes, casa conhecida também como por “Gongá de Mãe Tildes”. “Essa foi a última encarnação da maioria dos Espíritos, antes da atual, que compõem a falange dos Jaguares de Pai Seta Branca” (Sassi 1977:25). O relacionamento entre “Mãe Tildes” e “Pai Seta Branca” transparece do capítulo ‘Os Primeiros Passos’ (pp.25-30) do livro de Sassi – Sob os Olhos da Clarividente” (1976).
Por aí se infere que Tia Neiva vê e ouve nos dois planos, sensorial e extra-sensorial, simultaneamente. Num momento de desafio e angústia diante de uma pessoa que iria morrer por culpa sua, ela conversa com o espírito “Mãe Tildes”, amiga do plano espiritual (p.27). Para casos de doença Tia Neiva vale-se do médico espiritual “Vovô Indú”. Da longínqua Índia, as cenas se voltam para bailarinas do antigo Egito, Tia Neiva comete um crime, pelo qual deve expiar. Mas Mãe Tildes, de um “Pagé”, ajeita as coisas, e mais uma vez a Clarividente penhora seus olhos ao Cristo no sentido de jamais faltar à verdade. Restabelecida a doente que, entretanto, deveria sucumbir dois anos depois de doença do coração, “todos agradecem a Deus e a Seta Branca”.
A falange de Pai Seta Branca conta 30.000 (trinta mil) espíritos, “identificados através dos milênios com as mesmas tendências e, atualmente, absolutamente integrados no Sistema Crístico. Alguns desses espíritos já se redimiram na Lei Cármica, e estão no comando da missão, junto ao Pai Seta Branca, o responsável por ela. Outros estão encarnados, ainda na fase de redenção cármica e cumprem sua missão no Vale do Amanhecer. Outros ainda estão para chegar, aguardando a vez nos planos Etéricos. Alguns são Mentores e Guias, outros são médiuns encarnados e todos seguem rigorosamente o Planejamento Espiritual. Pai seta Branca está no Comando Geral, enquanto que a Clarividente Neiva comanda a missão na Terra. Esse é o quadro remoto resumido da origem do Vale do Amanhecer” conclui M.Sassi (1977:25).
Cumpre todavia, colher mais alguns dados sobre Pai Seta Branca a fim de que seu papel de primeira plana no Vale permaneça fora de qualquer dúvida. Resumamos alguns informes colhidos à MENSAGEM nº 2 da interpretação de Mário Sassi (1976). Ele toma como ponto de partida 320 séculos, ou seja 32 mil anos, quando se encena o “Grupo Civilizatório” dos Equitumans, indivíduos de 3 a 5 metros de altura, imortais, sem que pudessem transmitir este privilégio extraordinário a seus descendentes. Parece até uma alusão ao livro de Gênesis (6,4): Havia gigantes sobre a Terra. No que tange aos 320 séculos, é muito pouco para a idade da humanidade que já ultrapassa a casa dos dois ou três milhões de anos. Também na América a presença do Homem, vem atestada em mais de cinqüenta mil anos. Os Equitumans chegaram aqui em naves interplanetárias, fixando-se nos Andes e na costa do Pacífico e “reinando” por dois mil anos.
Então acontece uma hecatombe: um corpo extraterreno, como uma nave espacial gigantesca, a “Estrela Candente” cruza a órbita da Terra e sepulta a civilização dos Equitumans na região do Lago Titicaca entre o Peru e a Bolívia. O lago resultou de uma lágrima da maravilhosa estrela. “Esse acontecimento, realizado sob a benção de Deus, teria sido executado sob a direção de um Mestre Planetário, um espírito que hoje nós chamamos Pai Seta Branca; ele foi o comandante da Estrela Candente!” (p.8). Cinco mil anos depois, é a vez da civilização dos Tumuchys, cientistas, artesãos, alheios às artes de guerra. Faziam uso da energia solar, para o que construíram grandes maquinismos, cujos vestígios ainda são encontradiços nas Pirâmides do Egito e da América. “O Grande Tumuchy, o responsável por essa missão extraterrena, era o Espírito então encarnado, que nós hoje conhecemos como PAI SETA BRANCA” (p.9). (Observe-se que o epíteto ”Grande” (Mestre Tumuchy) que Galinkin (1977:43) atribui a Mário Sassi, está em desacordo com a Doutrina do Amanhecer).
Transcorreram os milênios, surgindo enfim outro grupo civilizatório, a falange dos Jaguares, para controlar as multidões de raças que povoavam o globo. Por fim chegou a Era do Cristo Sol, de nosso Senhor Jesus Cristo, o Sistema Crístico, caracterizado pelo livre arbítrio e o tridimensionamento do Homem: Corpo, Alma e Espírito. O Homem estava apto para o perdão do Cristo Jesus. Dentre os escolhidos para a renovação espiritual, existe um espírito veterano que comandara a Estrela Candente, o Grande Tumuchy e que já encarnara o Grande Jaguar: “Agora ele era o pequeno Francisco de Assis, o Poverello da Úmbria, São Francisco de Assis! Mais tarde, ele se chamou PAI SETA BRANCA” (P.11).
Tempos passados, Seta Branca se encarnou numa tribo de ciganos. Mário e Neiva, que agem sob o signo deste índio, andam preocupados em encontrar, na história de seus antepassados, relacionamento com esse povo errante e de origens incertas (p.20). Foi a partir de 1959, quando Dona Neiva se decidiu a aceitar a árdua missão, que Seta Branca estabeleceu seu programa de preparar a Terra para o 3º Milênio. 1984 é o término da Era Crística. O Homem perderá sua segurança física. Haverá escurecimento resultante de fenômenos desordenados da Natureza. Virá então o Espírito Consolador (nota: o Espírito Santo da Doutrina Católica?), uma das facetas da Lei do Perdão do Cristo Jesus. O Homem sem ele, apenas no âmbito do seu conjunto Corpo-Alma, só tem conceito do transitório (p.24 e 25). Sassi se ocupa e preocupa com os flamígeros “discos voadores” (p.26) que, a seu ver, se originam da esfera inferior – “etérica” – da Terra, e não dos planos espirituais.
1 comentário:
Muito bom o artigo! Mas em momento nenhum citou que Pai Seta Branca, foi João Evangelista, um dos apóstolos mais próximos de Jesus, Divino e amado mestre! Ele teve essa passagem também na terra.
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