sábado, 15 de junho de 2013

Origem remota do Vale do Amanhecer (2º.parte)


  A escravidão tinha o mais profundo sentido iniciático: a morte, a eliminação da PERSONALIDADE e o conseqüente nascimento, ainda na Terra, da INDIVIDUALIDADE. A pessoa humana perdia sua identidade ao ser escravizada, ou já nascia sem ela, se nascesse filha de escravo.
  A conseqüência doutrinária desse fato é de grande importância: não podendo impor as exigências do corpo e da alma, o escravo era praticamente obrigado a ceder às exigências de seu espírito.
  Daí nascerem as práticas mediúnicas entre os escravos no Brasil.
  Numa primeira encarnação, Pai Zé Pedro e Pai João eram escravos vindos da África. Como bons missionários, foram os primeiros a sentir na carne os rigores da dolorosa experiência encarnatória.
  Ao envelhecer e serem considerados pelos seus senhores como inúteis, ele, aproveitando a nostalgia natural dos seus companheiros de escravidão, criaram a prática dos “encantos”.
  Esses tradicionais espíritos de grandes chefes, agora reduzidos às figuras de míseros escravos, tinham, também, pertencido a civilizações em que praticamente não se utilizara a escrita no cotidiano. As ordens eram transmitidas e recebidas pelo som, pelo comando da voz, pelas senhas secretas, pela magia vibratória. Suas memórias estavam treinadas, nesses milhares de anos, pela gravação dos fatos narrados, cantados, expressos pelo som. Quando o som não se tornava possível, a comunicação era pelo gesto, pela mímica.
  E assim os escravos se comunicavam, davam vazão aos anseios de seus espíritos, pelo gesto, pela dança, pelos cânticos e pelos gemidos...
  O instrumento mais simples e mais prático foi o ATABAQUE.
  Pai João sentava-se num toco e tocava seu atabaque. Seu som cadenciado ia formando os MANTRAS, que se espalhavam misteriosamente nas florestas e nas almas dos homens.
  E assim, lentamente, através do enredo dramático, num palco privilegiado adrede preparado, chamado Brasil, foram nascendo os chamados cultos afro-brasileiros.
  Como espíritos veteranos deste planeta e integrantes da missão do Cristo Jesus, Pai João e Pai Zé Pedro eram possuidores da necessária bagagem mediúnica e iniciática que lhes facilitava a tarefa.
  Embora pertencentes a fazendas distantes uma da outra, eles se transportavam e conversavam entre si. Pai João, mais habituado que Pai Zé Pedro aos reinados e comandos, era o executivo. Pai Zé Pedro, mais místico, executava a Magia.
  E foram acontecendo coisas extraordinárias nas relações dos escravos com seus senhores. A História do Brasil está cheia de lances emocionantes que envolveram não só os escravos como, também, os brancos. É preciso lembrar que nem todos os espíritos a serem redimidos haviam nascido como escravos. Todos, porém, tinham uma parte no enredo, todos participavam, de uma forma ou de outra, do gigantesco drama cármico.
  Enquanto isso, as práticas de Magia, os cultos misteriosos e mediúnicos, iam se desenvolvendo entre os escravos, em muitos aspectos envolvendo, também, os brancos senhores. Sob a orientação dos Mentores e a execução de espíritos missionários encarnados, surgiram as práticas religiosas miscigenadoras.
  Mais tarde, Pai João e Pai Zé Pedro voltaram em novas encarnações, ainda como escravos, mas, desta vez, nascidos na Índia. A partir desse retorno as práticas foram evoluindo, agora com o lastro místico da Índia e do Tibete. Nasceu a mediunidade iniciática e, com ela, a passagem de espíritos sofredores, a redenção mediúnica.
  Os cultos foram se misturando e fazendo parte de uma sociedade brasileira ainda incipiente. Na Europa, nascia o Espiritismo de Kardec e as práticas se misturavam com o catolicismo oficial.
  Essa é a razão da dificuldade na separação das raízes dos cultos no Brasil. Os historiadores nunca vão encontrar uma linha pura e com sua origem determinada.
  Mas, no mundo espiritual, os planos prosseguiram com naturalidade, objetivamente. Enquanto os conflitos sociais agitavam a superfície dos males da alma e do corpo, o espírito prosseguia tranqüilo nas suas tarefas de reajustes. Nesse período surgiu o episódio das Princesas de Mãe Yara.
  Havia sete espíritos de mulheres que haviam participado ativamente de muitas encarnações dos Jaguares. Numa dessas encarnações, elas haviam morado na mesma cidade de Pompéia. Essa cidade do império romano tinha sido um balneário, cidade recreio dos ricos romanos e, no período de decadência, se transformado em uma cidade cheia de vícios.
  Um dia, houve uma erupção de um vulcão, o Vesúvio, e Pompéia ficou coberta de cinzas. As sete moças morreram nessa tragédia e seus espíritos permaneceram no recolhimento e na revolta. Depois disso, elas encarnaram várias vezes, até atingir a evolução.
  Mas, elas conservavam, ainda, os resíduos de seus compromissos, assumidos na vida leviana que haviam tido anteriormente. Com isso, elas foram incluídas no plano redentor da escravidão. Seis delas nasceram como filhas de escravos e uma numa família de colonizadores portugueses.
  Embora não se conhecessem, pois viviam em fazendas diferentes, elas tinham um traço em comum: não se adaptavam, não aceitavam a sua condição de crioulas escravas. A sétima moça, aquela que havia nascido como branca, também era inconformada com a vida daquele Brasil Colônia e, sempre que podia, procurava a senzala, para conviver com as escravas.
  Uma a uma, as crioulas foram fugindo de suas senzalas e, orientadas pelo plano espiritual, foram se encontrando numa determinada região. Nesse lugar havia uma cachoeira que escondia um ponto da floresta de difícil acesso, e lá elas estabeleceram seu lar.
  Pai João e Pai Zé Pedro, com o conhecimento da missão reservada para aqueles espíritos missionários, encobriam, com suas astúcias de velhos escravos, a escalada das crioulas. A branca e loura sinhazinha, estimulada pelos velhos laços espirituais, também buscou a companhia das crioulas. Certo dia, ela apareceu num barco e trouxe consigo uma enorme bagagem de objetos e alimentos. E, assim, a falange ficou completa.
  A região da cachoeira das crioulas passou a ser um local de encontro de escravos e escravas, que buscavam o lenitivo para sua vida de dores e sofrimentos. Os pretos velhos montavam guarda e usavam todo seu conhecimento da Magia para que os planos tivessem prosseguimento. Os atabaques percutiam nas noites de lua cheia e os escravos dançavam e cantavam.
  Aos poucos, a energia extraetérica foi se juntando com a força mediúnica e as bases da futura religiosidade foram se firmando. A Magia dos pretos velhos produzia os fenômenos de contato entre os planos. Usando seus conhecimentos das ervas e das resinas, os velhos escravos materializavam espíritos e faziam profecias dos acontecimentos.
  A cachoeira das crioulas passou a ser um ponto de irradiação de forças espirituais. Tanto os espíritos encarnados como os desencarnados iam se impregnando da Doutrina e formando falanges de futuros trabalhadores na seara do Cristo.
  Enquanto na parte litorânea do Brasil Colônia surgia uma religiosidade nova, calcada nas tradições dos Pretos Velhos e dos Caboclos, no interior e no oeste brasileiro, ainda não penetrados pelos brancos, havia acontecimentos semelhantes, mas de uma ordem diferente.
  Ali, as tribos nômades, em guerras permanentes, percorriam as florestas repletas de energias deixadas pelas antigas civilizações desta parte do mundo, das vanguardas dos Tumuchys e dos Jaguares de milhares de anos anteriores. Usinas de forças cósmicas e extraetéricas, desativadas e cobertas pela vegetação bravia, eram e são veneradas pelos índios como lugares sagrados.
  Bem para o oeste, nas fronteiras então inexistentes com a América hispânica, nos contrafortes dos Andes, havia um poderoso cacique, cujo exército era composto por cerca de 800 guerreiros. Nesse tempo, enquanto os portugueses, franceses e holandeses disputavam a conquista do litoral leste da América do Sul, os espanhóis penetravam ao sul e ao norte, em direção ao centro-oeste.
  Munidos de armas de fogo e de cavalos, sedentos de ouro e pedras preciosas, esses guerreiros desembarcados foram conquistando os territórios andinos e derrotando os Incas desprevenidos.
  Numa dessas batalhas desiguais, uma tribo Inca, sentindo-se ameaçada de extermínio, pediu ajuda ao poderoso cacique da floresta. Este, com seus 800 guerreiros, atendeu ao apelo e foi enfrentar os espanhóis.
  Poucos da tribo o sabiam, mas o grande cacique, como Pai João e Pai Zé Pedro, era o espírito reencarnado de um grande mestre planetário, que já havia sido um Jaguar, um espartano, um faraó e, já na Idade Média européia, o espírito que se chamou Francisco, canonizado pela Igreja Católica como São Francisco de Assis.
  Sua missão, no comando da tribo de guerreiros, era a de levar aqueles velhos espartanos à evolução. Enquanto esses sofriam as agruras do índio nômade, outros passavam pelo crivo doloroso da escravidão negra.
  Mas, tanto num lado como no noutro, havia muitos dos espíritos dos velhos Equitumans, dos Tumuchys e dos Jaguares, que haviam prestado seu juramento ao Mestre Jesus dois mil anos antes.
  O grande cacique enfrentou os espanhóis com muita diplomacia, evitou o derramamento de sangue, sem deixar de salvar aquela tribo Inca e, por esse feito, acrescentado à sua atuação humanitária, ganhou o nome de Cacique Seta Branca.
  E, assim, os episódios de verdadeiro heroísmo espiritual foram sucedendo de um lado e de outro. Do Brasil Colônia ao Brasil Império, no litoral escravocrata e no oeste selvagem, o Sistema Crístico foi sendo implantado, com rotulagem diferente, mas igual no seu cerne, preparando o advento do próximo milênio. É preciso se ter em conta esses fatos e muitos outros, impossíveis de serem relatados aqui, para se entender o fenômeno “Vale do Amanhecer”.
  A partir da Segunda metade do Século XIX, os velhos Equitumans e Espartanos começaram a se reunir no Brasil ainda imperial, mas já independente.
  O local escolhido foi um ponto do território brasileiro, no sul da Bahia, composto de duas enormes fazendas e um arraial, chamado Angical.
  Para lá convergiam escravos recém libertos, políticos exilados da Corte, aventureiros e pessoas em busca de riqueza fácil, longe dos olhos administrativos da Corte. O ponto focal desse encontro era uma velha casa de fazenda, chefiada por uma ex-escrava chamada Matildes, conhecida por nós como o “Congá de Mãe Tildes”. Essa foi a última encarnação da maioria dos espíritos, antes da atual, que compõe a falange dos Jaguares de Pai Seta Branca.
  Essa falange é composta por cerca de 30.000 espíritos, identificados através dos milênios com as mesmas tendências e, atualmente, absolutamente integrados no Sistema Crístico. Alguns desses espíritos já se redimiram na Lei Cármica, e estão no comando da missão, junto ao Pai Seta Branca, o responsável por ela. Outros estão encarnados, ainda na fase de redenção cármica, e cumprem sua missão no Vale do Amanhecer. Outros ainda estão para chegar, aguardando sua vez nos planos etéricos.

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