A escravidão tinha o
mais profundo sentido iniciático: a morte, a eliminação da
PERSONALIDADE e o conseqüente nascimento, ainda na Terra, da
INDIVIDUALIDADE. A pessoa humana perdia sua identidade ao ser
escravizada, ou já nascia sem ela, se nascesse filha de escravo.
A conseqüência
doutrinária desse fato é de grande importância: não podendo impor
as exigências do corpo e da alma, o escravo era praticamente
obrigado a ceder às exigências de seu espírito.
Daí nascerem as práticas
mediúnicas entre os escravos no Brasil.
Numa primeira encarnação,
Pai Zé Pedro e Pai João eram escravos vindos da África. Como bons
missionários, foram os primeiros a sentir na carne os rigores da
dolorosa experiência encarnatória.
Ao envelhecer e serem
considerados pelos seus senhores como inúteis, ele, aproveitando a
nostalgia natural dos seus companheiros de escravidão, criaram a
prática dos “encantos”.
Esses tradicionais
espíritos de grandes chefes, agora reduzidos às figuras de míseros
escravos, tinham, também, pertencido a civilizações em que
praticamente não se utilizara a escrita no cotidiano. As ordens eram
transmitidas e recebidas pelo som, pelo comando da voz, pelas senhas
secretas, pela magia vibratória. Suas memórias estavam treinadas,
nesses milhares de anos, pela gravação dos fatos narrados,
cantados, expressos pelo som. Quando o som não se tornava possível,
a comunicação era pelo gesto, pela mímica.
E assim os escravos se
comunicavam, davam vazão aos anseios de seus espíritos, pelo gesto,
pela dança, pelos cânticos e pelos gemidos...
O instrumento mais
simples e mais prático foi o ATABAQUE.
Pai João sentava-se num
toco e tocava seu atabaque. Seu som cadenciado ia formando os
MANTRAS, que se espalhavam misteriosamente nas florestas e nas almas
dos homens.
E assim, lentamente,
através do enredo dramático, num palco privilegiado adrede
preparado, chamado Brasil, foram nascendo os chamados cultos
afro-brasileiros.
Como espíritos veteranos
deste planeta e integrantes da missão do Cristo Jesus, Pai João e
Pai Zé Pedro eram possuidores da necessária bagagem mediúnica e
iniciática que lhes facilitava a tarefa.
Embora pertencentes a
fazendas distantes uma da outra, eles se transportavam e conversavam
entre si. Pai João, mais habituado que Pai Zé Pedro aos reinados e
comandos, era o executivo. Pai Zé Pedro, mais místico, executava a
Magia.
E foram acontecendo
coisas extraordinárias nas relações dos escravos com seus
senhores. A História do Brasil está cheia de lances emocionantes
que envolveram não só os escravos como, também, os brancos. É
preciso lembrar que nem todos os espíritos a serem redimidos haviam
nascido como escravos. Todos, porém, tinham uma parte no enredo,
todos participavam, de uma forma ou de outra, do gigantesco drama
cármico.
Enquanto isso, as
práticas de Magia, os cultos misteriosos e mediúnicos, iam se
desenvolvendo entre os escravos, em muitos aspectos envolvendo,
também, os brancos senhores. Sob a orientação dos Mentores e a
execução de espíritos missionários encarnados, surgiram as
práticas religiosas miscigenadoras.
Mais tarde, Pai João e
Pai Zé Pedro voltaram em novas encarnações, ainda como escravos,
mas, desta vez, nascidos na Índia. A partir desse retorno as
práticas foram evoluindo, agora com o lastro místico da Índia e do
Tibete. Nasceu a mediunidade iniciática e, com ela, a passagem de
espíritos sofredores, a redenção mediúnica.
Os cultos foram se
misturando e fazendo parte de uma sociedade brasileira ainda
incipiente. Na Europa, nascia o Espiritismo de Kardec e as práticas
se misturavam com o catolicismo oficial.
Essa é a razão da
dificuldade na separação das raízes dos cultos no Brasil. Os
historiadores nunca vão encontrar uma linha pura e com sua origem
determinada.
Mas, no mundo espiritual,
os planos prosseguiram com naturalidade, objetivamente. Enquanto os
conflitos sociais agitavam a superfície dos males da alma e do
corpo, o espírito prosseguia tranqüilo nas suas tarefas de
reajustes. Nesse período surgiu o episódio das Princesas de Mãe
Yara.
Havia sete espíritos de
mulheres que haviam participado ativamente de muitas encarnações
dos Jaguares. Numa dessas encarnações, elas haviam morado na mesma
cidade de Pompéia. Essa cidade do império romano tinha sido um
balneário, cidade recreio dos ricos romanos e, no período de
decadência, se transformado em uma cidade cheia de vícios.
Um dia, houve uma erupção
de um vulcão, o Vesúvio, e Pompéia ficou coberta de cinzas. As
sete moças morreram nessa tragédia e seus espíritos permaneceram
no recolhimento e na revolta. Depois disso, elas encarnaram várias
vezes, até atingir a evolução.
Mas, elas conservavam,
ainda, os resíduos de seus compromissos, assumidos na vida leviana
que haviam tido anteriormente. Com isso, elas foram incluídas no
plano redentor da escravidão. Seis delas nasceram como filhas de
escravos e uma numa família de colonizadores portugueses.
Embora não se
conhecessem, pois viviam em fazendas diferentes, elas tinham um traço
em comum: não se adaptavam, não aceitavam a sua condição de
crioulas escravas. A sétima moça, aquela que havia nascido como
branca, também era inconformada com a vida daquele Brasil Colônia
e, sempre que podia, procurava a senzala, para conviver com as
escravas.
Uma a uma, as crioulas
foram fugindo de suas senzalas e, orientadas pelo plano espiritual,
foram se encontrando numa determinada região. Nesse lugar havia uma
cachoeira que escondia um ponto da floresta de difícil acesso, e lá
elas estabeleceram seu lar.
Pai João e Pai Zé
Pedro, com o conhecimento da missão reservada para aqueles espíritos
missionários, encobriam, com suas astúcias de velhos escravos, a
escalada das crioulas. A branca e loura sinhazinha, estimulada pelos
velhos laços espirituais, também buscou a companhia das crioulas.
Certo dia, ela apareceu num barco e trouxe consigo uma enorme bagagem
de objetos e alimentos. E, assim, a falange ficou completa.
A região da cachoeira
das crioulas passou a ser um local de encontro de escravos e
escravas, que buscavam o lenitivo para sua vida de dores e
sofrimentos. Os pretos velhos montavam guarda e usavam todo seu
conhecimento da Magia para que os planos tivessem prosseguimento. Os
atabaques percutiam nas noites de lua cheia e os escravos dançavam e
cantavam.
Aos poucos, a energia
extraetérica foi se juntando com a força mediúnica e as bases da
futura religiosidade foram se firmando. A Magia dos pretos velhos
produzia os fenômenos de contato entre os planos. Usando seus
conhecimentos das ervas e das resinas, os velhos escravos
materializavam espíritos e faziam profecias dos acontecimentos.
A cachoeira das crioulas
passou a ser um ponto de irradiação de forças espirituais. Tanto
os espíritos encarnados como os desencarnados iam se impregnando da
Doutrina e formando falanges de futuros trabalhadores na seara do
Cristo.
Enquanto na parte
litorânea do Brasil Colônia surgia uma religiosidade nova, calcada
nas tradições dos Pretos Velhos e dos Caboclos, no interior e no
oeste brasileiro, ainda não penetrados pelos brancos, havia
acontecimentos semelhantes, mas de uma ordem diferente.
Ali, as tribos nômades,
em guerras permanentes, percorriam as florestas repletas de energias
deixadas pelas antigas civilizações desta parte do mundo, das
vanguardas dos Tumuchys e dos Jaguares de milhares de anos
anteriores. Usinas de forças cósmicas e extraetéricas, desativadas
e cobertas pela vegetação bravia, eram e são veneradas pelos
índios como lugares sagrados.
Bem para o oeste, nas
fronteiras então inexistentes com a América hispânica, nos
contrafortes dos Andes, havia um poderoso cacique, cujo exército era
composto por cerca de 800 guerreiros. Nesse tempo, enquanto os
portugueses, franceses e holandeses disputavam a conquista do litoral
leste da América do Sul, os espanhóis penetravam ao sul e ao norte,
em direção ao centro-oeste.
Munidos de armas de fogo
e de cavalos, sedentos de ouro e pedras preciosas, esses guerreiros
desembarcados foram conquistando os territórios andinos e derrotando
os Incas desprevenidos.
Numa dessas batalhas
desiguais, uma tribo Inca, sentindo-se ameaçada de extermínio,
pediu ajuda ao poderoso cacique da floresta. Este, com seus 800
guerreiros, atendeu ao apelo e foi enfrentar os espanhóis.
Poucos da tribo o sabiam,
mas o grande cacique, como Pai João e Pai Zé Pedro, era o espírito
reencarnado de um grande mestre planetário, que já havia sido um
Jaguar, um espartano, um faraó e, já na Idade Média européia, o
espírito que se chamou Francisco, canonizado pela Igreja Católica
como São Francisco de Assis.
Sua missão, no comando
da tribo de guerreiros, era a de levar aqueles velhos espartanos à
evolução. Enquanto esses sofriam as agruras do índio nômade,
outros passavam pelo crivo doloroso da escravidão negra.
Mas, tanto num lado como
no noutro, havia muitos dos espíritos dos velhos Equitumans, dos
Tumuchys e dos Jaguares, que haviam prestado seu juramento ao Mestre
Jesus dois mil anos antes.
O grande cacique
enfrentou os espanhóis com muita diplomacia, evitou o derramamento
de sangue, sem deixar de salvar aquela tribo Inca e, por esse feito,
acrescentado à sua atuação humanitária, ganhou o nome de Cacique
Seta Branca.
E, assim, os episódios
de verdadeiro heroísmo espiritual foram sucedendo de um lado e de
outro. Do Brasil Colônia ao Brasil Império, no litoral escravocrata
e no oeste selvagem, o Sistema Crístico foi sendo implantado, com
rotulagem diferente, mas igual no seu cerne, preparando o advento do
próximo milênio. É preciso se ter em conta esses fatos e muitos
outros, impossíveis de serem relatados aqui, para se entender o
fenômeno “Vale do Amanhecer”.
A partir da Segunda
metade do Século XIX, os velhos Equitumans e Espartanos começaram a
se reunir no Brasil ainda imperial, mas já independente.
O local escolhido foi um
ponto do território brasileiro, no sul da Bahia, composto de duas
enormes fazendas e um arraial, chamado Angical.
Para lá convergiam
escravos recém libertos, políticos exilados da Corte, aventureiros
e pessoas em busca de riqueza fácil, longe dos olhos administrativos
da Corte. O ponto focal desse encontro era uma velha casa de fazenda,
chefiada por uma ex-escrava chamada Matildes, conhecida por nós como
o “Congá de Mãe Tildes”. Essa foi a última encarnação da
maioria dos espíritos, antes da atual, que compõe a falange dos
Jaguares de Pai Seta Branca.
Essa falange é composta
por cerca de 30.000 espíritos, identificados através dos milênios
com as mesmas tendências e, atualmente, absolutamente integrados no
Sistema Crístico. Alguns desses espíritos já se redimiram na Lei
Cármica, e estão no comando da missão, junto ao Pai Seta Branca, o
responsável por ela. Outros estão encarnados, ainda na fase de
redenção cármica, e cumprem sua missão no Vale do Amanhecer.
Outros ainda estão para chegar, aguardando sua vez nos planos
etéricos.
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