A HISTÓRIA DO
DOUTRINADOR
Por Trino Maralto
Mestre Gilfran
Há muitos anos, em um jantar na casa
da Vó Sinharinha, mãe de Tia Neiva, escutei pela primeira vez, a história de um espírito que
foi trazido à presença de Nossa Mãe pelos Mentores, para contar sua história que deveria ser
recontada aos filhos de Pai Seta Branca.
Eu era adolescente e fiquei
impressionado com aquele relato. Foi muito interessante, pois à medida que a Tia ia contando, as
imagens se formavam na minha mente e nunca mais as esqueci.
Escutei pela primeira vez, a Tia contar
a história e ela sempre falava que era a HISTÓRIA DO DOUTRINADOR.
Em um lugar do Brasil, final do século
19, havia um rico fazendeiro que possuía uma grande quantidade de terras e nela havia
instalado “meeiros”. Os meeiros eram famílias que recebiam um pedaço de terra para cultivar e na
época da colheita davam metade do que produziam para os donos das terras. Tinha um único
filho, um rapaz muito bonito, forte e inteligente, que gostava muito de andar a cavalo pelas terras do
pai.
Uma dessas famílias era formada por um
casal de velhos e uma moça com 15 ou 16 anos, muito bonita e meiga, que ajudava seus pais
no dia-a-dia daquela vida difícil. Um dia ao passar pelas terras desta família o rapaz viu a
mocinha e ficou encantado com sua beleza. Ele achava que tudo que estivesse naquelas terras pertencia
ao seu pai e consequentemente a ele, e sentiu-se no direito de levar a moça consigo.
Colocou-a no cavalo e seguiu tranquilamente para sede da fazenda. O pai da moça, que estava na
roça, ao ouvir os gritos da esposa e da filha saiu correndo e conseguiu alcançar o rapaz. Começaram
a discutir e o velho tentou arrancar sua filha do cavalo. O rapaz desceu e começaram a lutar. Como
era mais forte, ele acabou matando o velho. Colocou a moça novamente no cavalo e saiu como
se nada houvesse acontecido.
Foi um desencarne muito violento! O
espírito do velho saiu do corpo com muito ódio que nem completou o processo normal de
desligamento do corpo físico. No processo de desencarne o espírito sai pela boca e se posiciona
acima do corpo, a cabeça acima dos pés e os pés acima da cabeça. Num período de mais de 24
horas acontece uma transferência de energias, do corpo físico para o espírito com exceção de uma
energia, a Centelha Divina, que fica no corpo físico e se torna o “Charme”, uma energia que é o
registro daquela encarnação. Em caso de acidentes, o processo de desencarne começa mais 24 horas
antes. Após este período de transferência de energias, os Médicos do Espaço fazem o
desligamento do espírito, uma cirurgia espiritual, e o levam para Pedra Branca, onde ficará por mais
sete dias. Então, chega o momento mais preciso! O espírito “acorda” e o Mentor o traz para o
plano etérico da terra, onde de acordo com a sua consciência e seu livre arbítrio, ele tomará a
decisão: partir junto com seu Mentor ou ficar preso na Terra por algum apego material ou sentimental.
Este processo de desencarne não é uma “regra” geral, pois cada caso é um caso!
No caso daquele senhor, o pai da
menina, ele desencarnou com tanto ódio que se tornou um obsessor. A velha não aguentou e
morreu de tristeza. Após ficar algum tempo com a moça, o rapaz abandonou-a, e ela também logo
desencarnou. O tempo foi passando... O fazendeiro morreu e o rapaz, agora um homem
casado, assumiu o lugar do pai. Ele era um homem bom, justo e amoroso com sua família, com seus
escravos e empregados. Todos gostavam dele. Morreu bem velho, deitado em sua cama com todos
rezando e chorando ao seu redor. Em toda sua vida só cometera um erro, um grande erro!
Quando despertou nos Planos Espirituais
e tomou consciência da sua última encarnação e, principalmente do “estrago” que
tinha feito àquela família de agricultores, entrou em desespero.
Ele pedia muito à Deus por uma
oportunidade de reencarnar, para reparar o grande mal que causara aqueles seus irmãos. Queria
voltar à Terra e ter uma vida de muito sofrimento. Seria cego, leproso e pediria esmolas por toda sua
vida. Só assim ele achava que pagaria pelo seu erro. Como tinha “bônus” suficiente para
reencarnar, depois de algum tempo foi chamado à presença dos Mestres responsáveis pelo reencarne
dos espíritos na Terra. Eles disseram que para ele reparar o mal que causara, não precisaria ser
cego, leproso e mendigo. Voltaria à Terra com uma missão e dentro desta jornada teria a grande
oportunidade do reajuste Cármico. Iria reencarnar, novamente no Brasil, em Mina Gerais,
numa cidade chamada Alfenas. Sua missão: ser um DOUTRINADOR!
Quando um espírito recebe de Deus uma
oportunidade de reencarnar é feito um Planejamento Cármico, que envolve todos que de uma
forma direta ou indireta, podem se beneficiar daquela encarnação. Ele escolhe os pais e
faz, junto com seu Mentor, um compromisso espiritual de realizar o principal objetivo de sua
volta à Terra: a sua evolução espiritual e daqueles pelos quais se responsabilizou. Pode ser uma vida
onde o foco será apenas sua evolução, ou pode assumir uma Missão, onde também deverá
ajudar outros seres a evoluir. Tudo ocorre sob a bênção de Deus e respeito ao livre arbítrio de
cada ser.
Após tudo estabilizado começa a
preparação para uma nova existência terrena. O espírito é
levado para o Sono Cultural, onde passará por
um processo de “esquecimento” de suas vidas transcendentais, a sua nova
personalidade será “moldada” de acordo com a sua trajetória, e
por fim, assumirá a forma de um feto. Se
houver o compromisso com algum “Elítrio”, estes espíritos serão encaminhados para uma “estufa”,
onde serão preparados para esta reencarnação. Mais ou
menos no 3º mês de gestação, os
Médicos do Espaço fazem a ligação do espírito com o corpo físico em formação, através da
Centelha Divina, que vem de Deus Pai Todo Poderoso, que solda o espírito ao corpo físico e no
desencarne se torna o “Charme”.
Nossa Mãe Clarividente dizia que se
tivéssemos a consciência do que significa a oportunidade de reencarnar, daríamos mais importância
à vida. Seriamos felizes apenas por estarmos aqui na Terra.
A história continua, agora em Alfenas,
inicio do séc. XX, onde um casal de pobres agricultores luta com muita dificuldade, para ter o pão
de cada dia. Eles tinham um único filho, um rapaz franzino, que além de ajudar na pequena roça,
se esforçava muito para estudar. Este rapaz era a reencarnação do filho do rico
fazendeiro.
Certo dia, indo para Alfenas vender
alguns produtos, a carroça que levava esta pequena família caiu em uma ribanceira e apenas o
garoto sobreviveu. Sozinho, machucado, caminhou até chegar a uma casa na periferia da cidade, onde
foi recolhido por um senhor que tinha um Centro Espírita.
Ao tomar conhecimento da tragédia, o
bondoso homem assumiu a criação daquele órfão. Ele continuou seus estudos e também
ajudava o “seu pai” nas atividades mediúnicas do Centro.
Aprendeu muito rápido e logo seu pai
percebeu que ele era portador de uma energia muito especial, uma força desobsessiva, e os
casos mais difíceis ele já resolvia sozinho. Havia uma mocinha que frequentava o Centro e era
apaixonada pelo rapaz, mas ele não dava muita bola para ela. A vida deste jovem transcorria de
uma forma muito tranquila. Ele se formou, e como queria ser professor, foi fazer um curso de
especialização no Rio de Janeiro. Lá ele conheceu uma moça da alta sociedade e se apaixonaram. Ao
terminar o curso eles se casaram e voltaram para Alfenas.
Quando chegaram ao Centro, a moça
ficou muito chocada, pois o rapaz nunca lhe contara sobre o seu pai e nem sobre o trabalho
mediúnico que eles faziam, sabedor do pavor que ela tinha pelo Espiritismo. Então ela, muito magoada,
falou que ele tinha que escolher: ou ela ou o Centro!
O rapaz ficou muito desesperado, pois
gostava muito da sua esposa. E decidiu! Foi falar com seu pai que não iria mais ficar no Centro,
que já tinha dedicado toda sua vida aos trabalhos mediúnicos e que agora iria cuidar da sua vida, da
sua família e da sua profissão. O velho, que era vidente, já havia alertado sobre uma grande divida
espiritual, um cobrador que ele tinha e que um dia, com seu trabalho, libertaria este obsessor
e saldaria sua dívida transcendental. Mais uma vez, tentou
conscientizá-lo do seu compromisso,
mas foi em vão. O rapaz estava decidido! Com algumas economias e uma parte do dote da esposa
ele comprou um terreno, no alto de um morro, e construíram um bangalô. Este morro
era cortado por uma linha de trem e o lugar era muito bonito. A casa era simples, mas bem
arrumada. Tinha uma bela varanda e na sala havia uma lareira, onde o professor gostava de
ficar lendo. Lecionava na escola Alfenas e todos gostavam dele.
Mas, o momento do reajuste se
aproximava... Nos arredores de Alfenas, havia uma moça muito simples, com seus 16 anos e, de
repente, enlouqueceu! Sua mãe, uma senhora viúva já não sabia mais o que fazer. Tinha levado-a a
médicos, benzedeiras, a Igreja e nada, ninguém conseguia resolver o problema da jovem. A loucura
continuava e piorava a cada dia. Já estavam amarrando a moça, para que não se machucasse e
não machucasse ninguém. Então alguém falou para levar a menina num Centro Espírita, que ficava
na periferia da cidade onde tinha um moço que curava “essas coisas”. E a mãe, no
desespero, levou a menina até lá. Quando chegaram ao Centro o
velho viu o “quadro espiritual” e falou
que nada podia fazer. Que quem poderia resolver aquela situação era seu filho, mas ele não trabalhava
mais ali. A mãe implorou para que o velho atendesse sua filha, mas ele realmente não podia
fazer nada. Aquela menina era a mocinha, que tinha sido raptada pelo filho do fazendeiro, a
viúva era a velhinha, mais uma vez como mãe da menina, e o
velho pai era o obsessor, o espírito
que fora trazido para aquele reajuste, para saldar a dívida, o compromisso espiritual do rapaz.
Então, por consciência e compaixão,
o velho espírita deu o endereço do filho, para aquela mãe desesperada. Ela pegou a filha e
começou a subir o morro. À medida que se aproximavam da casa, a menina ficava mais agitada e mais
violenta. Estava anoitecendo e o professor lia, junto à lareira, quando num barulho ensurdecedor, a
porta foi derrubada pela menina, que havia se soltado das
amarras e entrou urrando de ódio.
Os espíritos reconhecem seus
“inimigos” por um “cheiro”, uma energia especifica, uma
emanação que é individual de cada ser, como as
impressões digitais, um “DNA Espiritual”.
Foi um impacto de frio e medo. Mas,
bastaram alguns instantes, para que o professor tomasse consciência do que estava acontecendo.
Lembrou do que seu velho pai lhe falava e sentiu que havia chegado a hora de resgatar as
suas vítimas do passado. Como se pudesse ler seus pensamentos a menina deu meia volta e
saiu correndo da casa, em direção ao precipício. Ele saiu correndo atrás, tentando falar com
ela. A mãe, também correu para lá. A menina parou na borda do precipício. Lá em baixo um
lanterneiro da estação de trem, observava tudo. O professor foi se
aproximando, devagar, tentando
“doutrinar” aquele espírito. Quando estava quase tocando o braço da moça, o obsessor a jogou no
vazio, na escuridão. Neste momento, o professor chegou a “escutar a risada” do velho
cobrador. A mãe, ao ver sua filha cair para morte, começou a
gritar:
-Assassino, assassino! Você matou
minha filha!
Então o funcionário da estrada de
ferro correu até a cidade e chamou a polícia. De onde estava, parecia que o professor tinha empurrado
a menina. Quando a polícia chegou e encontrou a mãe, que não parava de acusar o professor,
teve que prendê-lo. Foi julgado, e pelas declarações da mãe e do lanterneiro, condenado. Saiu do
Tribunal direto para prisão. Estava feita a “justiça”, o
reajuste cármico, o resgate de uma
família que havia sido destruída em outra vida, por um gesto impensado, por um impulso, um desatino.
Lei de Causa e Efeito!
Sua jovem esposa o abandonou e voltou
para o Rio de Janeiro, para casa de seus pais. Ele definhava, dia após dia, e apenas seu
velho pai e aquela jovem do Centro, que muito o amava, o visitavam na prisão. O tempo foi
passando e a jovem moça precisava também seguir o seu caminho. As visitas foram se tornando
raras e suas esperanças também. Ele pensava muito na sua incompreensão e pedia à Deus a
oportunidade de sair dali, para continuar com a sua missão, no Centro, junto com seu velho pai. Sua
saúde estava abalada: a pancada de vento frio, que recebera no dia do “reencontro”, à beira da
lareira, afetou sua visão e estava ficando quase cego. As condições de higiene daquela masmorra
e a falta de sol estavam causando feridas por todo seu corpo. Como não tinha um corpo físico
forte, parecia que não teria muito tempo de vida. Alguns anos depois, a mãe da moça, no leito
de morte, pediu para chamar o padre e confessou que o rapaz era inocente e que ela tinha o
acusado por não aceitar a morte da filha, que tanto amava.
Pediu para que o padre jurasse que o
tiraria da prisão, pois só assim ela morreria em paz. Então, como se Deus tivesse escutado sua
prece, o professor foi inocentado e saiu da prisão. Foi direto para o Centro e ao chegar lá, falou
para seu velho pai que estava de volta para trabalhar e ajudar as pessoas. O velhinho, que estava
terminando seu tempo na Terra, olhou para o filho querido e
falou:
-Meu filho, agora é tarde! Quem vai
querer se tratar com você? Mesmo que tenha sido inocentado, sempre haverá certa
desconfiança sobre você. E seu corpo, quem vai querer se tratar com alguém cheio de feridas? Como pode
um cego guiar outro? Não, meu filho, agora é tarde!
Apesar da dor que sentia, o professor
sabia que seu pai tinha razão. Pouco tempo depois, o velho partiu! Como não tinha mais condições
de continuar no Centro, o professor terminou seus dias de vida, andando pelas ruas de Alfenas,
CEGO, CHEIO DE FERIDAS E MENDINGANDO. Quando desencarnou e tomou consciência desta
encarnação, este espírito foi tomado por uma grande frustração. Tinha, mais uma vez,
desperdiçado uma oportunidade de evolução. Recebeu toda preparação e proteção para cumprir
sua missão e se reajustar com seu cobrador. Até uma bênção
especial ele recebeu. Lembram daquela
mocinha do Centro, que ele não dava muita bola? Era sua Alma Gêmea que estava na Terra, para
ajudá-lo. Salve Deus!
Naquela época (anos 70/80) que Tia
contava esta história, este espírito já estava mais ou menos uns 50 anos.
Ela pediu para que quando fossemos
participar de algum trabalho e lembrássemos dele, fizéssemos uma vibração de amor,
para que ele conseguisse se libertar de sua própria prisão. Não sei qual é a situação deste espírito
nos dias atuais. Que ele tenha se libertado e esteja nos ajudando no final deste Cíclo
Iniciático que se aproxima.
Que esta história ajude aos meus
irmãos Jaguares e a todos os meus irmãos em Cristo Jesus que ainda não compreenderam a grandeza e o
significado de sua existência aqui na Terra.
SALVE DEUS!
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