As Ideologias Materialistas Não Se Ajustam À Mensagem Dos Espíritos
Deus
não concede privilégios a ninguém, e, se há sofredores e felizes
é por força do mau ou bom uso do livre arbítrio do Espírito. Por
força da liberdade de escolha, cada pessoa decide qual o caminho a
seguir. Não é com regozijo que coexistimos com o infausto vulto do
“mendicante social”.
Quem
é tal figura? Ressalvando-se as exceções, não ignoramos que há
pessoa insensível, usurpadora, que abomina trabalhar, não produz
nada para a sociedade e (sobre)vive vampirizando os recursos dos
programas sociais do estado. Apresenta-se como uma coitadinha,
“abandonada social”, e exige impetuosamente muitos direitos para
si, despreocupada com os próprios deveres.
Existe
pessoa que fala de si como uma infeliz desfavorecida, mas não cumpre
suas obrigações, ou se as cumpre, entende que está sendo
explorada. Não gosta de estudos, detesta leituras (quando
alfabetizada). Quase sempre por ter ojeriza à sala de aula e
professores, esquivou-se da escola, mas responsabiliza a sociedade e
o “(des)governo” por sua condição de iletrada e pobre. Não
esqueçamos que Deus proporciona a todos os seres idênticas e
incessantes oportunidades de crescimento. Coloca em estado latente o
mesmo poder, a mesma sabedoria e os mesmos estímulos evolutivos para
todos, no longo e difícil trajeto para a perfeição.
Nessa
linha de raciocínio, o que pensar do cidadão que execra e exorciza
tudo o que exige raciocínio? Aquele que vive na sua mansarda sem
quaisquer bens, exceto um aparelho de TV, para poder discutir sobre
capítulos de novela e jogos de futebol. Comumente alimenta a fé nas
religiões que praticam o comércio espiritual, prioritariamente as
que incluam exorcismos e rituais com berreiros e espasmos
convulsivos. Culpa o destino, o governo, a raça, a cor, o bairro
onde reside. Em suma, a responsabilidade da sua inércia é sempre do
outro.
Por
outro lado, há cidadãos que laboram de sol a sol com dignidade para
enaltecer a vida na sociedade. Por oportuno, e com muita exultação,
evocamos aqui no debate o célebre José Mujica, atual presidente do
Uruguai, ele que é considerado o chefe de estado mais despojado do
mundo. Possui um fusquinha e dedica cerca de 90% do salário para
obras sociais. Vive assim por opção. É um idealista sincero e crê
na igualdade e justiça dos homens para a conquista da paz. Adora
mencionar Sêneca quando diz que “pobres são aqueles que precisam
de muito”. Não proclama a “valorização da pobreza”, mas do
comedimento no viver. Sem dúvida, Mujica é uma alma grandiosa e
deveria ser inspiração para os homens públicos do Brasil.
O
presidente uruguaio, em que pese o seu estupendo exemplo de vida, é
arauto de uma sociedade igualitária. Será possível ou mera utopia
o sonho de Mujica? Deus a nenhum homem concedeu superioridade
natural, nem pelo nascimento, nem pela desencarnação: todos aos
seus olhos são iguais. Eis o sentido correto da Lei de Igualdade.
Portanto, perante Deus somos iguais a despeito da colossal fissura
que se abre pelas disparidades sociais.
O
Criador criou-nos essencialmente idênticos, contudo nem todos foram
criados na mesma época, e, por conseguinte, uns são mais velhos e
somam maior conjunto de aquisições do que outros mais “jovens”.
As desigualdades entre nós estão na diversidade dos graus da
experiência alcançada e do exemplo nos caminhos do bem sob a tutela
do livre arbítrio.
A
variedade das aptidões, ao contrário do ideal igualitário, é um
meio propulsor do progresso social, já que cada homem contribui com
sua parcela de conhecimento. As desigualdades que apresentamos entre
nós, sejam em inteligência ou moralidade, não derivam de
privilégios de uns em detrimento de outros, mas do maior ou menor
aproveitamento desse “tempo cósmico”, no esforço do alargamento
das habilidades e virtudes que nos são inerentes, consoante o melhor
uso do livre arbítrio por parte de cada um. Destarte, as
desigualdades naturais das aptidões humanas são os degraus das
múltiplas experiências do passado. E cremos que essas diferenças
constituem os agentes do progresso e paz social.
Como
se vê, a nossa tese é contrária à pretendida igualdade
socioeconômica, frequentemente artificial na vida de relação dos
Espíritos encarnados. Por que não são igualmente ricos todos os
homens? Com base nas instruções do XVI capítulo do Evangelho
Segundo o Espiritismo, aprendemos que não o são por uma razão
muito simples: por não serem igualmente inteligentes, ativos e
laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar.
A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da
resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da
abnegação.
A
desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da
reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição
definida de regeneração e resgate. “A pobreza, a miséria, a
guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são
enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da
quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com
a iluminação espiritual de todos em Jesus-Cristo; a moléstia
coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.
Carece,
pois, o pobre de motivo assim para acusar a Providência, como para
invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se
abusam, não será com decretos ou leis santuárias que se remediará
o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram
mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase
sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal
reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão
quando os homens se regerem pela lei da caridade.
A
Mensagem de Jesus não preconiza que os ricos do mundo se façam
pobres e sim que todos os homens se façam ricos de conhecimento,
porque somente nas aquisições de ordem moral descansa a verdadeira
fortuna. Reconhecemos que o socialismo que vigora em muitos países
da Terra é uma bela expressão de cultura humana, enquanto não
resvala para os polos do extremismo.
Porém,
“a concepção igualitária absoluta é um erro grave dos
estudiosos, em qualquer departamento da vida. A tirania política
poderá tentar uma imposição nesse sentido, mas não passará das
espetaculosas uniformizações simbólicas para efeitos exteriores,
porquanto o verdadeiro valor de um homem está no seu íntimo, onde
cada espírito tem sua posição definida pelo próprio esforço;”.
Aos
radicais segmentos progressistas vimos esclarecer que aceitar os
preceitos espíritas não significa concordância conformista dos
problemas de natureza econômica e política, porém maior
compreensão desses estágios humanos.
Os
conceitos espíritas não concebem as desigualdades como algo
estático e insensível a mudanças pelas nossas ações. As lições
espíritas jamais visam privilegiar os interesses de uma elite rica
no campo social. A necessidade de se transformar a nossa sociedade
desigual em uma sociedade justa é o escopo doutrinário, sem
necessidade absoluta de ideologias materialistas e tacanhas para esse
desiderato.
Adjunto
Puemar, Mestre Edemar Meotti
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